A Farmácia de Minas, localizada no bairro Santo Agostinho, região centro-sul de Belo Horizonte, tem registrado longas filas diariamente para a retirada gratuita de medicamentos. A espera também aumentou, com relatos de pessoas que aguardam por mais de 3 horas até conseguir acesso à área interna, onde é feito o atendimento das demandas. A entrada tem sido regulada, com 15 pessoas entrando por vez.

Na manhã desta terça (14), a reportagem registrou a extensão da fila, que contornou o quarteirão. Com início na Avenida do Contorno, virou na rua Almirante Alexandrino e terminou na trincheira da André Cavalcanti. O fim quase se encontrava com o início da fila. Acostumada a pegar o medicamento olanzapina para o irmão, que tem esquizofrenia, Michele Martins, de 37 anos, aguardou por mais de 2 horas e teve que ir embora pois já tinha ultrapassado seu horário de almoço.

"Pego o remédio todo mês para o meu irmão e aumentou o volume de pessoas. Estão limitando o espaço, mas aqui fora tem aglomeração. É um absurdo. As pessoas estão próximas e não tem ninguém pra observar isso, nenhum apoio. Estou no meu horário de almoço, já avisei meu chefe que vou atrasar, mas não tenho condição de ficar aqui. Vou ter que voltar outro dia ou faltar um dia de trabalho. O remédio que pego é caro, não temos condição de pegar. A gente vem também na esperança porque nem sei se vai ter o remédio. Só lá dentro que eles fornecessem essa informação", comenta.

Com 3h20 de espera na fila, Marlene Fernandes, de 70 anos, foi à Farmácia de Minas para retirar o medicamento azatioprina para o esposo. Acostumada a pegar uma vez por mês, comentou que o volume de pessoas desta vez foi muito além do normal. "Não tinha chegado a esperar esse tanto aqui ainda. Muitas pessoas estão com máscara, mas outros não. A distância é pequena. Antes, a gente esperava lá dentro, mas desta vez pegamos a fila na trincheira [da André Cavalcanti]", coloca.

Homem sofre queda enquanto espera

Assim como Marlene, Luiz Felipe do Carmo, de 23 anos, também teve que esperar um longo tempo na fila, mas conseguiu pegar um medicamento para o namorado. Ele relatou ter chegado à Farmácia às 8h20, conseguindo fazer a retirada por volta de 11h20. Luiz também contou sobre o panorama no lado de dentro e uma cena que presenciou enquanto aguardava na fila.

"Lá dentro, vi que não tem nada de higienização, como álcool e máscara. Tem a limitação de espaço, mas as pessoas têm livre acesso ao banheiro. Para se ter uma ideia, o banheiro não tem sabonete. Eles não estão dando suporte a quem entra para pegar os medicamentos. Sem falar na situação da fila, dando volta no quarteirão. É uma situação deprimente", pondera Luiz.

"Tinha um senhor, aparentemente de uns 60 anos, que estava quatro pessoas à frente de mim e simplesmente caiu. Ele cortou a cabeça e o pescoço. A Guarda Municipal estava chegando e o Samu foi acionado, prestando o socorro", relata. De acordo com o Samu, o homem atendido tem 58 anos e foi encaminhado para a UPA Centro-Sul, que não informou seu estado de saúde à reportagem.

A Guarda Municipal chegou a ser acionada por uma pessoa que estava na fila, que informou sobre a quantidade de pessoas no local. No entanto, pelo fato de a Farmácia de Minas se tratar de uma unidade estadual, os guardas informaram apenas que repassariam o cenário ao comandante deles, que faria contato com a Prefeitura de Belo Horizonte para, então, o governo do Estado ser comunicado da aglomeração.

Medidas e respostas

O secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais, Carlos Eduardo Amaral, anunciou em entrevista nessa segunda (14) que o governo vai entregar em casa medicamentos para pessoas com problemas respiratórios e com dificuldades de se locomover até a Farmácia de Minas, com o intuito de evitar filas e aglomerações. Isso deve ocorrer a partir do dia 20 deste mês, inicialmente com 1.682 pessoas atendidas na capital. O mesmo vai ocorrer em Juiz de Fora, já a partir desta terça.

O que diz a Secretaria

"A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) esclarece que com a adaptação de fluxos e normas de atendimento à população devido à Covid-19, houve mudança também no comportamento do usuário da Farmácia de Minas de Belo Horizonte, na Av. Contorno 8.495.

A SES-MG informa que a unidade atende a população tanto agendada, quanto não agendada contabilizando, em média, mais de 2 mil pessoas diariamente. Os pacientes que formam a fila, tradicionalmente, estão sentados no espaço que comporta mais de 100 pessoas. Além disso, há orientação para que seja mantida uma distância mínima de segurança de quem está na fila. A orientação aos usuários sobre medidas de proteção e prevenção é feita tanto na fila, quanto no espaço interno.

Para aperfeiçoar o atendimento, várias ações estão em estudo e outras estão em implementação ou iminentes, como a dispensação em casa anunciada pela Secretaria e outras estão em estudo. A SES-MG reitera a importância da segurança da população e a necessidade de não exposição dos usuários da Farmácia que estejam no grupo de risco podendo utilizar a Declaração Autorizadora disponibilizada pelo aplicativo MG APP e pelos sites www.cidadao.mg.gov.br e www.saude.mg.gov.br.

Quanto à questão do banheiro, não há registro de falta de sabonete para higienização das mãos. A manutenção é feita constantemente. Caso ocorra esgotamento do sabonete no momento em que o usuário utiliza o banheiro, basta solicitar ao pessoal da limpeza a reposição.

Dispensação em domicílio

Inicialmente, o projeto piloto será implementado em Belo Horizonte e Juiz de Fora. Por meio de um levantamento, chegou-se ao número de 1.682 potenciais pacientes portadores de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e asma residentes na capital mineira, e 730 potenciais pacientes portadores de DPOC, asma e hipertensão pulmonar no município de Juiz de Fora.

Apenas na farmácia da regional de Belo Horizonte circulam, aproximadamente, 50 mil pacientes por mês, além de cerca de 220 funcionários. Diante da pandemia do novo coronavírus, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) já adota medidas preventivas sem prejudicar os pacientes.

Após o piloto serão ajustadas questões operacionais junto ao parceiro para que a iniciativa seja estendida aos 183 municípios mineiros nos quais a 99 opera".