Seis empresas fechadas e cerca de cem empregos afetados. Este é o balanço que a VoaPrates faz um mês depois do fechamento do aeroporto Carlos Prates, na região Noroeste de Belo Horizonte. Desde o dia 1ª de abril, nenhuma aeronave pousou no local. Apenas aviões que passavam por manutenção podiam decolar do espaço até o fechamento desta matéria.
O Carlos Prates abrigava 15 empresas, sendo cinco escolas de aviação, três oficinas de manutenção, engenharia aeronáutica, entre outras. São cerca de 500 empregos ao todo e, segundo Estevan Velasquez, presidente da VoaPrates, muitos funcionários devem ser demitidos.
Os impactos do fechamento são sentidos de maneira imediata por quem usava o aeródromo da região Noroeste e também por aqueles que têm o aeroporto da Pampulha como ponto inicial ou final de viagem. Representantes da aviação reclamam que, agora, há uma grande espera para pousar ou decolar no aeroporto Carlos Drummond de Andrade.
“A Pampulha é um aeroporto completamente saturado, não existe um hangar sequer disponível. As pessoas acham que é só ter uma pista que a empresa consegue se realocar. Com a pista consegue, no máximo, pousar o avião. A Pampulha ficou saturada, tanto que, no feriado de Tiradentes, tinha oito aviões tentando decolar e seis tentando pousar, mais um tanto espertando, até um helicóptero da PM indo para uma ocorrência precisou pousar em campo para que outro avião passasse, tamanho o tráfego. O impacto tem sido muito grande”, afirmou Estevan Velasquez, presidente da VoaPrates.
O aeroporto da Pampulha, que é o terminal mais próximo ao Carlos Prates, recebeu alguns voos e aeronaves do antigo aeródromo, no entanto algumas dificuldades já são evidentes. Devido à lotação de hangares, alguns aviões ficaram estacionados no pátio. Essa medida, entretanto, foi proibida nos últimos dias.
“Ou seja, estão nos destruindo. Se as aeronaves que estão no pátio saírem, não conseguem voltar mais, porque não tem hangar aqui. Os aviões usados para instrução são proibidos de ficar na Pampulha”, disse Velasquez.
Devido à lotação, a empresa CCR Aeroportos, responsável pelo aeroporto da Pampulha, impediu qualquer tipo de aeronave de estacionar nos pátios 1 e 2 do espaço na última semana.
Por meio de nota, a CCR afirmou que “existe uma limitação, como em todo aeroporto, quanto às posições de pátio para estadia de aeronaves” e que, “devido ao aumento de voos, decorrente do fechamento do aeroporto Carlos Prates, está sendo restrita a permanência de aeronaves que não são baseadas no aeroporto da Pampulha”. “A CCR Aeroportos está buscando alternativas para melhor receber o aumento da demanda, sem causar impactos nas operações do aeroporto”, aponta o comunicado.
Sem solução
Enquanto os impactos são imediatos, as soluções ainda engatinham. De abril para cá, a prefeitura reafirmou por algumas vezes a ideia de construir cerca de 2.000 casas populares no lugar, mas nenhum projeto saiu do papel. Recentemente, o prefeito Fuad Noman (PSD) levou o renomado arquiteto e urbanista Gustavo Penna ao local para uma visita técnica. A ideia era avaliar o espaço e as possibilidades do que pode ser feito. Penna está à frente de importantes projetos em Belo Horizonte, como o Centro de Feira e Exposição de Minas Gerais (Expominas), Memorial da Imigração Japonesa, Escola Guignard, entre outros.
No dia 18 de abril, quando ocorreu essa visita, Fuad explicou que a ideia é construir um “novo bairro”, com um grande espaço de lazer, parque, área verde, espaço para crianças brincarem e quadras esportivas. Também poderão ser erguidas mais de mil moradias populares no local, além de uma unidade de saúde.
Em entrevista a O TEMPO, a assessora especial da PBH, Natália Araújo, uma das responsáveis por acompanhar a situação do aeroporto no Executivo, informou que, nos últimos dias, houve uma conversa e levantamento de projetos e demandas já existentes focados em mobilidade e segurança. “Esses projetos, que um dia já foram pensados, foram colocados à mesa e estão sendo desenhados para apresentação de um masterplan que consiga abordar não somente as moradias, como os serviços que precisam ser disponibilizados”, contou.
Discussões políticas
O fechamento do aeroporto e também os próximos passos da aviação mineira foram temas de várias discussões no Poder Legislativo. Segundo levantamento feito pela reportagem, o assunto motivou 30 requerimentos na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e sete indicações ou requerimentos na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH).
Nas duas Casas legislativas, as propostas motivaram audiências públicas e discussões sobre ideias para o espaço, como sambódromo, parque municipal, entre outros.
Transferência de insegurança
Após a desativação do Carlos Prates, a sensação é que o que era tido como problema mudou apenas de endereço. A professora Fernanda Ramos da Silva, de 42 anos, vizinha do aeroporto da Pampulha, não gostou da transferência de parte dos voos.
“Para quem mora na região, foi muito ruim. O risco de queda, agora, veio pra cá. Talvez seja melhor abrir um aeroporto em alguma cidade da região metropolitana”, sugeriu.
Já Sônia Márcia Antunes Rolim, de 45 anos, que é enfermeira e frequentadora de um clube na região, disse ter percebido um aumento grande de barulho e também de mais aeronaves. Isso a deixou “muito mais insegura”, porque “os aviões passam muito rasante, o que causa muito medo”. “A gente fica muito preocupado com esse tanto de aviões por ali”, disse.
Por outro lado, o engenheiro Eduardo Duarte de Castro, de 41 anos, entende que a diferença “não vai ser tão grande”, apesar de também notar um aumento no número de aviões de pequeno porte. Ele não acredita que haja um aumento da insegurança.
Estevan Velasquez, presidente da VoaPrates, refutou a narrativa de que o Carlos Prates era inseguro. Segundo ele, se o motivo do fechamento fosse a segurança, não faria sentido a Pampulha absorver voos do outro terminal. “Seria um escárnio. Seria mover um problema de aeroporto, que também está rodeado de casas. Cria narrativa falando que é perigoso, mas o (aeroporto) do lado poderia receber esse perigo. Não faz sentido”, disparou.