O futuro da Serra da Curral e do abastecimento hídrico em 40% da região metropolitana de Belo Horizonte – 70% só na capital – está sendo debatido nesta terça-feira (21) no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). De um lado, ambientalistas pedem pelo tombamento da serra, no perímetro que compreende o Pico Belo Horizonte até os túneis da região do bairro Taquaril, de outro, a Mineradora Tamisa pede liberação para explorar a região.
“Está sendo discutida a preservação da Serra do Curral ou o direito da Taquaril Mineração S.A. de se instalar na serra, num local que pode derrubar o Pico Belo Horizonte, segundo um laudo de cinco geólogos da Prefeitura de Belo Horizonte. Esse Pico está no brasão e na bandeira da nossa cidade", denuncia o engenheiro ambiental Felipe Gomes, um dos especialistas que terá direito à fala na audiência.
+ Relembre vaivém de mineração e briga judicial por tombamento da serra do Curral
Segundo ele, um dos principais riscos da liberação da mineração no local está ligado ao abastecimento de água na Grande BH. "Trata-se de uma mineradora que vai colocar três bacias de detenção de sedimentos – igual a da Vallourec, que transbordou e parou a BR-040, lembra? – acima dessa adutora que traz 70% da água de BH. Se acontecer algo e essa adutora for rompida, Sabará ficará sem água, porque 100% da água de Sabará vem de lá”, detalha o engenheiro ambiental.
Além de Felipe Gomes, mais 60 participantes estão inscritos na audiência pública para explanar suas ideias e pedir que a empresa Tamisa não tenha acesso à área. “Nossa ideia era mostrar nossos argumentos, mas o TJ nos deu apenas 5 minutos para cada de fala, não nos apresentaram os documentos com devida antecedência para que a gente pudesse analisar. Porém, a própria licença da Tamisa, que é quem faz esse escarcéu todo, está suspensa, pois ela cometeu uma ilegalidade, ela não fez a escuta livre, prévia e informada do Quilombo Manzo, que está a 1 quilômetro do 'buraco' que ela (Tamisa) quer fazer”, acusou.
Em agosto deste ano, a Justiça Mineira acolheu o recurso do Ministério Público Federal (MPF), para a suspensão das atividades da empresa Taquaril Mineração S/A (Tamisa), na Serra do Curral, em Belo Horizonte, por dois votos a um. O órgão alega que o quilombo Manzo Nzungho Kaiango utiliza a área para a sua existência e manifestação cultural, o que seria prejudicado pelas atividades da mineradora.
“O Estado, que reconhece esse quilombo, inclusive com parecer do Iepha, não os escutou. O Quilombo Manzo não consta nos estudos ambientais da Tamisa. Por isso, o TRF da 6ª região suspendeu a licença da Tamisa, pois tinham o que fazer essa escuta livre, prévia. Essa licença tinha que ser anulada, e esse circo, nem devia estar acontecendo”, completou.
Desde março de 2011, o processo de tombamento da Serra vem sendo discutido. Tudo começou com um acordo do Iepha e do Ministério Público de Minas Gerais. Em dezembro de 2022, o local ganhou um tombamento provisório. E, desde que a Tamisa apresentou a proposta de instalar um complexo minerário na área, a Serra do Curral virou alvo de uma longa briga judicial.
As discussões da audiência pública estão sendo gravadas e serão transcritas. Todos os depoimentos, de especialistas, autoridades e de representantes da Tamisa, serão anexados no processo para análise do Iepha.
A Tamisa, que foi procurada, ainda não respondeu.
"A audiência pública segue o que consta no Edital nº 01/2023 – 3ª GAVIP/NUPEMEC/CEJUSC de 2º grau para oitiva de especialistas e de representantes do poder público e da sociedade civil com vistas a obter informações técnicas, políticas, econômicas e jurídicas acerca da questão debatida.
O prazo de inscrição do expositor foi encerrado no dia 10/11/2023. A relação dos inscritos habilitados a participar da audiência pública foi disponibilizada no portal eletrônico do TJMG a partir do dia 14/11/2023.
A audiência foi aberta ao público externo, na modalidade ouvinte, conforme capacidade de segurança do local. Ressalta-se que a audiência está sendo transmitida integralmente pelo canal oficial do TJMG no Youtube."