Omissão

Idoso morre, e médico é detido suspeito de negar atendimento em Contagem

Vítima de 72 anos estava com insuficiência respiratória; médico alegou à PM que teria avisado sobre a falta de condições de atendimento

Por Carolina Caetano
Publicado em 23 de outubro de 2019 | 07:38
 
 
 
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Um médico de 51 anos foi conduzido à delegacia suspeito de negar atendimento a um idoso na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Ressaca, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, na noite dessa terça-feira (22). O paciente, que deu entrada na UPA em estado grave, morreu. 

Conforme consta no boletim de ocorrência da Polícia Militar (PM), enfermeiros do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) contaram que foram acionados para atender uma demanda em uma residência no bairro Novo Progresso, onde Osvaldo Xavier dos Santos, de 72 anos, estava com insuficiência respiratória. 

A ambulância se deslocou com o idoso até a UPA, onde ele passou pelo setor de acolhimento sendo identificado como paciente grave. No entanto, ainda conforme o registro policial, o médico plantonista não quis atendê-lo afirmando que a UPA estava cheia e não havia leitos disponíveis. Os atendentes do Samu afirmaram aos militares que o médico sequer levantou da cadeira para olhar o paciente. 

Diante da situação, a equipe do Samu acionou a central e passou toda a situação. Uma outra unidade de suporte avançado foi mobilizada, e o médico dela, por telefone, tentou conversar com o profissional da UPA, que se recusou. A equipe de suporte avançado do Samu saiu do bairro Petrolândia, também em Contagem, com destino ao Ressaca, onde chegou cerca de uma hora depois da chegada do idoso. 

O médico chegou a questionar o colega de profissão sobre o protocolo que deveria ter sido tomado. O estado de saúde do paciente piorou e foi necessária a realização de uma reanimação cardiopulmonar. Uma vaga foi liberada para dos Santos no Hospital Municipal de Contagem, mas ele morreu antes de chegar ao local. 

O médico foi encaminhado à Delegacia de Plantão de Contagem.

Família fala em omissão

A família do idoso de 72 anos afirmou que vai tomar providências contra o médico suspeito de negar atendimento ao paciente. Nesta quarta-feira (23), a nora de Osvaldo Xavier dos Santos, Elaine Dias, afirmou que o profissional foi omisso.

A dona de casa acompanhou as últimas horas de vida do sogro, que começou a passar mal em casa, no bairro Novo Progresso. "Por volta das 18h30, o meu cunhado chamou o Samu. Quando eles chegaram e perceberam que o caso era grave, conduziram ele à UPA. Tinha 30 dias que o meu sogro fez uma cirurgia, era diabético, fez uma amputação. Quando ele estava no hospital, o pulmão estava todo tomado de catarro. Ele foi liberado para casa, mas passou mal de anteontem para ontem. Ele chegou a ir à UPA Santa Terezinha, foi para casa, mas passou mal outra vez", contou.

Ainda segundo ela, quando chegaram à UPA Ressaca, o médico teria dito que não atenderia porque estava com quatro pacientes. A unidade de atendimento, segundo ela, estava cheia. "Tinha uma maca parada lá e ele não quis atender meu sogro. O pessoal do Samu, por mais de uma hora, pediu que atendesse, mas ele não quis fazer. Isso foi determinante. Quando soube que ele faleceu, eu perguntei para o médico: 'por que o senhor não atendeu meu sogro, fez o primeiro atendimento?". Ele me respondeu que o hospital estava cheio, mas ele foi feito para salvar vidas. A vida dele era tão importante como de todos os outros que estavam lá", disse a mulher. 

A nora também negou que outro médico tenha atendido o idoso. "Eu não vou deixar passar. Ele é negligente, ele é omisso. Isso é praticamente um assassinato. Vou ao conselho, quero a cassação do CRM dele. Isso não é médico", finalizou.

Por meio de nota, o Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG) disse que tomou conhecimento, pela imprensa, da prisão do médico Celso e que "iniciará os procedimentos regulamentares necessários à apuração dos fatos". Disse ainda que os procedimentos correm sob sigilo. 

Ouça o relato da nora do idoso, Elaine Dias, que o acompanhou até a UPA:

Outro lado

À polícia, o médico contou que assumiu o plantão às 19h40 e verificou as alas da UPA, constatando que a sala de urgência não tinha mais vagas para receber pacientes. O profissional afirmou que já havia avisado ao Corpo de Bombeiros e ao Samu que a unidade de atendimento não poderia receber pacientes graves, uma vez que não tinha, segundo ele, macas disponíveis e balões de oxigênio.

Ainda conforme o médico, quando a equipe do Samu chegou com o idoso, ele informou que não seria possível a internação e continuou atendendo outros pacientes. Ele também alegou que orientou os enfermeiros que o paciente fosse levado para outra unidade hospitalar.

Resposta

Em entrevista ao programa "Alerta Super", da rádio Super Notícia 91,7 FM, o secretário de Saúde de Contagem, Cleber de Faria Silva, disse que o caso está sendo investigado. "Nós estamos em fase de apuração. É claro que ela não pode ser feita somente ouvindo as notícias que chegam. Estamos fazendo com muita responsabilidade e usando aquilo que é pertinente junto ao regimento interno e ao estatuto do servidor", disse.

"Vamos buscar todas as informações junto às pessoas que estavam, junto ao médico da unidade para as providências serem tomadas, respeitando e ouvindo todos os lados, que é o que a secretaria tem que fazer nesse momento", concluiu.

Atualizada às 18h50

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