Uma petição online com mais de 14 mil assinaturas, um vídeo gravado por um vereador de Belo Horizonte, uma nota de repúdio da Arquidiocese de Belo Horizonte e outras publicações em redes sociais causaram polêmica diante do anúncio da "Coroação a Nossa Senhora dos Travestis", evento da Academia TransLiterária previsto para acontecer neste sábado (20), às 20h, à frente da Igreja São José.
Diante disso, a apresentação foi cancelada e retirada da programação da Virada Cultural. Após uma mensagem enigmática no Facebook, em que não esclarecia se a performance aconteceria ou não, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), publicou em sua conta oficial no Twitter: "estou comunicando que o evento está cancelado".
Estou comunicando que o evento está cancelado.
— Alexandre Kalil (@alexandrekalil) July 19, 2019
Alguns minutos antes do anúncio oficial, o Secretário Municipal de Cultura, Juca Ferreira, confirmou à reportagem apenas que a organização analisou o conteúdo da performance e não considerou que ela de alguma forma ofendesse a fé católica, mas, devido ao impasse gerado, o evento poderia, sim, ser cancelado.
A performance preparada pelos artistas do coletivo e já apresentada no Festival Internacional de Teatro (FIT-BH) é, segundo eles, uma apresentação ritualística para a Nossa Senhora das Travestis. Uma procissão estaria preparada, onde seriam distribuídos santinhos com oração à santa e, simultaneamente, seriam entoadas músicas e paródias.
Assista:
Desde que o anúncio oficial foi feito, alguns grupos se posicionaram contra e, desde quinta-feira (18), circula pelas redes sociais comentários negativos diante da possibilidade da realização da performance. Uma petição online denominada "Pela anulação do evento 'Academia TransLiterária'", solicita ao prefeito do município o cancelamento em nome dos "cristãos e todos os homens de boa vontade".
No documento online, apoiadores decretam que a coroação seria "uma afronta grave e direta contra o sentimento religiosos dos cristãos (...), permitir a realização é autorizar um ataque direto e frontal de uma minoria intolerante".
Já na manhã de sexta, um dia antes do evento, a Arquidiocese de Belo Horizonte, através de dom Walmor Oliveira de Azevedo, reforçou o pedido expresso no requerimento e publicou: "Exigimos e esperamos que as autoridades competentes e organizadores suspendam este evento, por ser incontestável fomento ao preconceito e à discriminação, desrespeito aos valores da fé cristã católica".
Por outro lado, apesar dos ataques, algumas pessoas surgiram para apoiar e defender a realização da coroação. Internautas no Facebook pediram aos grupos contrários que fizessem "menos julgamentos" e interpretassem "melhor" as intenções dos artistas ao proporem a performance.
O coletivo Academia TransLiterária publicou um posicionamento em que acusa o prefeito Alexandre Kalil de ter feito "censura" e diz que não quer mudar nenhuma religião".
Leia na íntegra a nota da organização da Prefeitura de Belo Horizonte:
“A organização da Virada Cultural de Belo Horizonte informa a suspensão da performance da Academia Transliterária, uma das 447 atrações previstas na programação.
Ao ser selecionada por meio de um chamamento público, em nenhum momento houve intenção de ferir a crença religiosa de qualquer pessoa ou grupo. Mas na medida em que uma parte da sociedade sentiu-se duramente ofendida, optou-se, então, pela suspensão da atividade.
A Virada Cultural de Belo Horizonte é um evento que preza pela pluralidade e que tem como objetivo a convivência pacífica e harmônica entre todos os cidadãos.”
Texto atualizado às 18h45