“Se vai dar certo, não sei. Preciso fazer alguma coisa”. A declaração é do prefeito Wagner Almeida, da cidade de Santa Cruz de Minas, na região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais. A cidade adotou o protocolo de desinfecção dos locais públicos, com cloro e água, após a morte de três crianças em São João del-Rei, município vizinho. A suspeita é de que os óbitos tenham ocorrido por infecções provocadas pela bactéria streptococcus.
A desinfecção de locais públicos, como praças, parquinhos e escolas, iniciou na última quarta-feira (25 de outubro). O protocolo segue nesta sexta-feira (27 de outubro), quando será realizada a desinfecção da sede da Corporação Musical São Sebastião. “Estamos seguindo o mesmo protocolo da Covid. A gente tem poucas informações sobre bactéria, então adotamos o mesmo procedimento. Não é uma certeza que vai dar certo, mas preciso fazer alguma coisa antes que aconteça algo”, justificou o prefeito.
De acordo com o fiscal sanitário Alessandro Esteves, da Vigilância Sanitária da cidade, essa desinfecção é realizada com o objetivo de diminuir casos de infecções virais, como da Covid-19, entre os moradores do município. “A gente sabe que essas infecções diminuem a imunidade das pessoas. Então, evitar que elas sejam contaminadas por esses vírus garante que elas estejam com o organismo em melhor condição para combater uma possível infecção pela bactéria”, argumenta.
Após a confirmação da morte de crianças em São João del-Rei, o prefeito de Santa Cruz de Minas suspendeu as aulas nas escolas da rede municipal. As atividades foram suspensas na última quarta-feira (25 de outubro). No próximo domingo (29 de outubro) está prevista uma reunião durante o período da manhã para avaliar o retorno das aulas. A expectativa é de que as atividades sejam retomadas na segunda-feira (30 de outubro).
“São medidas de prevenção, estamos procurando alguma forma de proteger a nossa população”, acrescentou o prefeito. Além da desinfecção, outras ações educativas estão sendo planejadas para a cidade. As atividades já iniciaram e devem prosseguir na próxima semana, com a mobilização da Secretaria Municipal de Saúde de Santa Cruz de Minas, das Vigilâncias Sanitária e Epidemiológica, de servidores da educação, entre outros.
Nesta quinta-feira (27), um menino de 8 anos, que reside em Santa Cruz de Minas, mas que estava hospitalizado na Santa Casa de Misericórdia de São João del-Rei, precisou ser transferido para Belo Horizonte. A criança possui sintomas da infecção provocada pela bactéria streptococcus pyogenes. No entanto, o diagnóstico da doença não foi confirmado.
Secretário de Saúde de MG questiona ações
Em entrevista para O TEMPO, o secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais, Fábio Baccheretti, criticou as medidas adotadas por algumas cidades como forma de enfrentamento a bactéria streptococcus. Baccheretti apontou que as medidas de desinfecção e de fechamento das escolas não são "efetivas" e servem para "alimentar" preocupação e pânico entre os pais.
"Essa desinfecção de escolas também, ela não surte nenhum efeito, uma vez que a bactéria vai voltar na boca das crianças. Não é como a Covid, por exemplo, que a gente ficava naquele isolamento. Isso aí (infecção por streptococcus) faz parte do dia-a-dia. O efeito prático é muito pequeno, porque as bactérias fazem parte da flora das pessoas. Então, se você limpa a escola naquele momento, ela vai voltar vai voltar", afirmou.
Questionado sobre quais medidas estão sendo adotadas pelo Governo de Minas diante do problema, Fábio Baccheretti destacou que já está ocorrendo a capacitação dos médicos e demais trabalhadores da saúde da cidade. O objetivo é garantir que o diagnóstico ocorra precocemente e o tratamento com antibióticos seja iniciado.
"Estamos acompanhando os óbitos e fazendo todos os testes para entender, principalmente, se existe algum ponto para ser discutido, por exemplo, dentro da assistência realizada na região, se existiu alguma falha ou demora no diagnóstico para ocorrerem estas mortes por bactérias comuns e que já possuem tratamento eficaz", disse.
Por fim, o secretário alerta para o risco de o pânico causado nos pais ocasionar um desequilíbrio que pode afetar o atendimento às pessoas que têm doenças mais graves, como problemas cardíacos e AVC's, por exemplo. "Isso aumenta a demanda nas UPA's, onde temos parcientes realmente urgentes", finalizou.