Depois de permanecer 82 dias em um leito do Hospital João XXIII, na capital, onde retirou um rim, a vesícula, o baço e parte do intestino, o porteiro José Pereira de Souza, 60, finalmente voltou para casa na última segunda-feira e se considera um sobrevivente após ter escapado da segunda tentativa de latrocínio em um edifício de luxo no bairro Luxemburgo, na região Centro-Sul da capital, em um intervalo de dois anos.

No dia 5 de dezembro, Souza havia acabado de assumir o posto de trabalho na guarita do Condomínio Beverly Hills, na avenida Raja Gabaglia, quando foi atingido por dois disparos de arma de fogo. Ele foi ferido na altura do ombro direito ao entrar em luta corporal com um assaltante armado.

Desde então, a família do homem, que mora em Santa Luzia, na região metropolitana, viveu dias de angústia. “Eu achei que o mundo tinha acabado”, relembra a mulher do porteiro, Maria Lúcia Bernardo de Souza, 53. Ela contou que abandonou o próprio trabalho – ela prestava serviços para uma empresa como auxiliar de serviços gerais – para se dedicar apenas ao marido enquanto ele estava internado.

Vinte quilos mais magro e sem forças nas pernas para permanecer de pé, o porteiro diz não ter sentido medo ao tentar tomar a arma do assaltante para impedir que ele entrasse no edifício, onde Souza presta serviços há 33 anos. “Na verdade, eu fiz meu trabalho”, afirmou ele para justificar a atitude que quase lhe custou a vida.

Souza não guarda rancor. Sereno, ele diz que perdoa o assaltante, que disparou duas vezes contra ele. “Se depender do meu perdão para ele ficar livre da cadeia e nunca mais fazer isso com ninguém, eu perdoo”, declarou.

Prisão. O principal suspeito de ter atirado contra o porteiro foi preso em 8 de dezembro em um shopping da capital. O homem estava em regime semiaberto e perdeu o benefício, já que era considerado foragido desde o dia do crime. Segundo a Polícia Civil, um comparsa do atirador, que aparece nas imagens das câmeras de segurança do prédio, ainda não foi preso.

Alvo. Em 2016, o porteiro passou por situação semelhante, quando foi alvo de criminosos em uma tentativa de assalto. Souza reagiu e foi baleado no braço esquerdo. Na época, ele ficou um dia internado.

Avô voltou no aniversário do neto

No dia em que o garoto Welbert Matheus Bernardo Osório, neto do porteiro José Pereira de Souza, completou 9 anos, o único presente que ele pediu à família foi que o avô voltasse para casa. Mal sabia a criança que Souza estaria de volta justamente no dia 25 de fevereiro. “Deus foi tão grande que tudo aconteceu no dia do aniversário dele”, contou a avó do menino, Maria Lúcia Bernardo de Souza, 53.

Além de Osório, o porteiro tem outros sete netos. “A família é tudo”, comentou o porteiro, emocionado.