Inocentes presos por engano. Essa é a tese que será defendida durante o Tribunal do Júri, realizado nesta terça-feira (9 de maio), para julgar dois jovens cruzeirenses que são acusados de participarem, em novembro de 2021, do ataque a um ônibus com torcedores atleticanos que teria sido praticado por integrantes da torcida Máfia Azul, na Via do Minério, no Barreiro, em Belo Horizonte. Segundo os advogados, eles estavam em um bar próximo ao local do crime e acabaram detidos e acusados de homicídio e tentativas de homicídio contra nove pessoas.
Segundo o advogado Glauber Paiva, que representa um dos acusados, as provas apresentadas no processo não demonstram, de forma objetiva, qual seria a participação dos dois réus no atentado. "Nesta fase do júri, prevalece o princípio de que, se há dúvida, tem que absolver. Mas, no caso do meu cliente, não chega nem a ser dúvida, pois não existe nenhum indício da autoria", argumentou.
Questionado sobre o porquê do jovem ter sido preso dentro de um dos carros apontados como o veículo usado no ataque ao coletivo, o advogado argumenta que ele estava sendo socorrido. "Ele também foi vítima, foi bastante agredido. Tudo leva a crer que ele foi mais uma vítima, mas que, infelizmente, estava no veículo para ser socorrido", completou Paiva.
Dracon Cavalcante, advogado que representa o outro acusado no caso, destaca que os ele e o outro réu se conheciam, são moradores da região de Venda Nova e estavam juntos. Eles teriam ido para o local para ir em um bar próximo, acompanhados de duas moças que são moradoras do Barreiro. Lá, eles ouviram os barulhos da confusão e teriam ido até o local para "ajudar".
"A princípio ele foi preso por portar um cigarrinho de maconha no bolso. Depois, na audiência de custódia, o delegado pediu a retificação para mudar de uso de drogas para homicídio. O problema dele foi que ele falou que é cruzeirense, mas não é integrante da torcida. Pedimos a lista para a Máfia Azul, de integrantes, mas ela falou que não poderia entregar", alegou Cavalcante.
O júri teve início por volta das 8h30, com a formação do conselho de sentença que conta com três mulheres e quatro homens. A previsão é que o julgamento tenha uma duração de dois a três dias, segundo o juiz Ricardo Sávio Oliveira. Isso ocorre porque existem 23 testemunhas que serão ouvidas.
Até a interrupção do julgamento, por volta de 12h30 para o almoço, quatro testemunhas foram ouvidas, sendo duas vítimas que estavam no coletivo no dia, um policial militar e um policial civil. Até agora, nenhum deles disse ter reconhecido os dois acusados como um dos autores do atentado.
Uma das vítimas, que estava no ônibus com a esposa e dois filhos, de 12 e 6 anos, voltando de um passeio na casa de uma sogra, relatou que, na hora, só puderam se jogar sobre os filhos para evitar que eles ficassem feridos, não conseguindo observar características dos responsáveis pelo ataque.
"Meus filhos têm medo de ônibus, de foguete. Se entram no coletivo, só das pessoas começarem a falar alto eles já ficam com medo, pensando que é briga, tumulto. Hoje, passeio só se for de Uber", disse o homem durante o depoimento.
Promotor acredita na condenação
Também ouvido pela reportagem de O TEMPO nesta terça, o promotor Gustavo Augusto Pereira de Carvalho, que faz a acusação dos dois cruzeirenses, disse acreditar que houve uma investigação muito bem feita e que as provas contra os réus são "robustas", acreditando na possibilidade de condenação. "Acreditamos que, ao final do julgamento, teremos uma confirmação daquilo que foi produzido no inquérito policial", disse.
Perguntado se alguma das câmeras de segurança colhidas na investigação mostram os dois acusados, o promotor destacou que os vídeos mostram apenas o interior do coletivo, não existindo uma visão clara a ponto de mostrar a participação dos envolvidos.
"A participação deles vem pelas circunstâncias de veículos utilizados, de testemunhas que informaram sobre características da utilização desse veículo, da prisão em flagrante e do comportamento anterior e posterior ao fato", concluiu.
Desde a conclusão do inquérito da Polícia Civil, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) já denunciou seis cruzeirenses, entretanto, nesta terça, somente dois deles serão julgados. O julgamento da dupla estava marcado, inicialmente, para o dia 14 de fevereiro deste ano, mas foi cancelado após duas vítimas faltarem ao tribunal. Enquanto isso, os dois réus aguardaram em liberdade pelo julgamento, mas foram proibidos de frequentar qualquer estádio de futebol.
Relembre o caso
A emboscada foi registrada na rua dos Industriários, no bairro das Indústrias, após a partida entre o Galo e Fluminense pelo Campeonato Brasileiro. As vítimas estavam dentro do ônibus da linha 6350 (Estação Vilarinho/Estação Barreiro) quando o ataque aconteceu. De acordo com militares, passageiros contaram aos policiais que o coletivo foi interceptado por um Chevrolet Blazer, onde estavam os suspeitos.
Em seguida, os vândalos começaram a jogar pedras, foguetes, pedaços de pau e barras de ferro contra o veículo. Os feridos têm entre 50 e 19 anos, sendo duas mulheres. As vítimas foram levadas para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Bairro Diamante e para um hospital particular. O jovem de 20 anos, socorrido em estado grave, foi encaminhado ao Hospital de Pronto Socorro João XXIII, mas não resistiu.