Polícia investiga

Rapaz denuncia racismo e agressões em show do Alok em MG: 'Me senti um nada'

Após o mundo discutir o racismo sofrido pelo jogador Vinicius Junior, um cozinheiro denuncia ter sido vítima do mesmo em Nova Lima

Por Vitor Fórneas
Publicado em 29 de maio de 2023 | 17:32
 
 
 
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Após o mundo discutir o racismo sofrido pelo jogador Vinicius Junior, do Real Madrid e da Seleção Brasileira, um cozinheiro denuncia ter sido vítima do mesmo em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. Além dos xingamentos, Salatiel Meneses, de 26 anos, afirma que teria sido agredido no último sábado (27). Os crimes teriam ocorrido durante o show do DJ Alok. A Polícia Civil já investiga o caso.

Meneses contou que ganhou um sorteio e foi à apresentação na companhia de dois amigos, no entanto, o que ficará marcado, conforme ele mesmo diz, é a violência praticada pelos seguranças. O cozinheiro conta que o primeiro impacto no show foi a baixa presença de pessoas pretas naquilo que ele define como um evento “fora da realidade” dele.

O rapaz estava com a pulseira distribuída pelos organizadores, porém isso não impediu que fosse alvo dos olhares dos seguranças. “Eles ficaram perto de mim a noite toda, até que, em determinado momento, me abordaram, me revistaram e me levaram para um canto escuro”, relembra. No local para o qual foi levado, Meneses denuncia ter sido agredido. “Chegaram me batendo sem motivo, já que não encontraram nada comigo. No lugar para onde me levaram estavam outras pessoas pretas também apanhando. Os seguranças pensavam que eu estava com eles, mas não os conhecia. Fiquei no chão apanhando de graça”.

Quando os seguranças se aproximaram, os amigos de Meneses tentaram defendê-lo. No entanto, eram 20 pessoas contra três. “As pessoas que foram comigo são brancas, e os seguranças quase não tocaram neles. Só que teve uma hora que a minha amiga acabou reagindo, pois quase a empurraram de uma escada. Um deles virou pra ela e disse: ‘acha que só porque é mulher você não vai apanhar?’. Deram dois tapas no rosto dela”, comenta.

Traumas deixados pela violência

Meneses é enfático em dizer que não se lembra de ter apanhado tanto na vida quanto no dia do show do Alok. “Passei o domingo todo chorando. Fiquei impotente. Me senti um nada. Eu fiquei jogado num canto escuro, se eu morresse ninguém ia perceber. É um sentimento de inferioridade que é muito pesado”.

Os tapas dados pelos seguranças deixaram marcas no corpo de Meneses. Se essas cicatrizes vão sumir no decorrer dos próximos dias, o mesmo não se pode dizer das que ficaram internamente. “A dor dentro de mim é muito maior. Tenho a certeza de que o trauma vai me acompanhar por muitos anos”.

Debater o racismo é necessário 

Combater o racismo se faz necessário, segundo o cozinheiro. Para ele, é em ocasiões como a denunciada por ele e os berros de "macaco" direcionados a Vinicius Junior que mostram a força desse tipo de crime. “Debater o tema é necessário. Quanto mais lutamos mais vemos a força do racismo. A gente fica ainda mais de braços atados.Nunca temos alguém no poder que é preto e possa nos favorecer”, desabafou chorando.

A polícia foi procurada por Meneses, e a ocorrência foi registrada. O exame de corpo de delito aconteceu nesta segunda-feira (29). A vítima entrou em contato com os responsáveis pelo show, mas nada de concreto aconteceu. “Um deles apenas leu a mensagem e nem respondeu”.

Investigação

A Polícia Civil informou que apura a motivação e as circunstâncias que envolvem o crime. “Nos próximos dias, os envolvidos serão ouvidos para prestar esclarecimentos. A investigação ficará a cargo da 3ª Delegacia de Polícia Civil em Nova Lima”, diz trecho do comunicado enviado à reportagem.

O TEMPO também procurou a assessoria do show e a empresa organizadora do evento, porém, o retorno não foi recebido até a publicação da matéria.

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