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Vídeo mostra desinfecção em escolas de São João del-Rei após mortes de crianças

Imagens mostram um profissional despejando hipoclorito, mais conhecido como água sanitária, sobre as superfícies de uma das instituições

Por José Vítor Camilo e Juliana Siqueira
Publicado em 25 de outubro de 2023 | 20:35
 
 
 
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Já começou, nesta quarta-feira (25 de outubro), o procedimento de desinfecção que será promovido pela Prefeitura de São João del-Rei, na região do Campo das Vertentes, em todas as suas instituições de ensino ao longo dos próximos 11 dias. As aulas estão suspensas nas escolas municipais da cidade pelo menos até o próximo dia 5 de novembro após três mortes suspeitas de crianças por possível infecção pela bactéria Streptococcus.

Em vídeo recebido por O TEMPO, é possível ver um servidor da cidade, com uma roupa especial e utilizando uma bomba para dispersar hipoclorito, mais conhecido como água sanitária, sobre as superfícies de uma das instituições. Nas imagens, até mesmo em brinquedos usados pelas crianças recebem um "banho" da substância.

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A força-tarefa promovida pela prefeitura para desinfectar as escolas seria necessária, segundo o próprio município, "para conter os casos de contaminação pela bactéria Streptcoccus".

Em vídeo divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), o subsecretário de Vigilância em Saúde, Eduardo Campos Prosdocimi, destacou que o Governo de Minas promoveu, também nesta quarta, uma capacitação com 120 profissionais de saúde do município, levando o que ele chamou de "melhor instrução aos profissionais da ponta". 

"Fizemos também uma agenda com a equipe do Ministério da Saúde no sentido de trazer a equipe do SUS Avançado para colaborar em uma grande investigação, para entender o que de fato acontece em São João del-Rei e região. Mas o fato é que, até o presente momento, nada indica a necessidade de alteração da rotina dos moradores da região. Portanto, estamos atentos e vigilantes e vamos dar uma resposta à população", completou Prosdocimi.

A bactéria

Conforme o infectologista Carlos Starling, as bactérias streptococcus contam com algumas cepas que são "mais agressivas" e que podem provocar casos graves. No entanto, com um diagnóstico rápido, é possível começar um tratamento com antibiótico e eliminar o risco de morte. “Determinadas cepas são muito agressivas, mas respondem bem a antibióticos. No entanto, o diagnóstico precisa ser rápido, pois a evolução pode ser rápida também”, explica.

O infectologista Estevão Urbano também ressalta a importância de um diagnóstico precoce. Mesmo que os sintomas possam parecer algo comum e corriqueiro — como dor de garganta — ele aconselha que as pessoas do município e região procurem logo auxílio médico. Segundo ele, a preocupação maior deve ser entre os moradores locais, já que a doença costuma ficar mais localizada. No momento, é pouco provável que se espalhe e chegue a municípios mais distantes.

De acordo com Urbano, as ocorrências em São João del Rei acendem um alerta, mas é essencial haver estudos mais aprofundados para entender de fato o quadro geral na cidade. “Nós não sabemos de onde veio, se tem alguma fonte que possa estar distribuindo a bactéria. Geralmente uma pessoa passa para a outra, e algumas desenvolvem a doença. É preciso achar o elo que justifique os casos, um forte estudo epidemiológico”, afirma.

Conforme o especialista, a bactéria pode ser tão agressiva que qualquer pessoa, de qualquer idade, saudável ou não, pode desenvolver algo grave e perder a vida. No entanto, há aqueles que são ainda mais vulneráveis. “Imunossuprimidos, crianças muito novas e idosos podem ser mais suscetíveis”, diz ele.

Perguntas e respostas

Como ocorre a transmissão da bactéria? 

A transmissão é feita de uma pessoa para a outra, por meio contato próximo ou através de tosses ou espirros. “A transmissão é feita por gotículas de saliva, quando a pessoa infectada fala, tosse, espirra. Às vezes, alguém tosse na mesa, uma criança encosta e depois leva a mãozinha à boca”, explica a a infectologista Janaína Teixeira, que atua na cidade de São João del-Rei. 

O que ela pode causar? 

Conforme a infectologista Janaína Teixeira, a bactéria pode causar a chamada "síndrome do choque tóxico", que é uma infecção invasiva grave. "É incomum, uma prevalência de 1 a 5 casos para cada 100 mil habitantes, mas que, infelizmente, tem uma mortalidade alta", explica a médica. 

A síndrome de choque tóxico é um grupo de sintomas graves e rapidamente progressivos. Entre os sintomas estão febres, erupção cutânea, pressão arterial perigosamente baixa e insuficiência de vários órgãos.

Quais os sintomas? 

Entre os sintomas provocados pela Streptococcus estão febre alta, acima dos 38 °C, dores musculares intensas, falta de apetite e vômito. Conforme a infectologista Janaína Teixeira, os doentes também podem ter quadros de diarreia, desidratação, alterações no comportamento e sonolência excessiva. 

Como é o tratamento? 

O tratamento pode ser feito com antibióticos, segundo a infectologista Janaína Teixeira. No entanto, conforme a especialista, tem sido relatado 
um aumento no número dessas infecções.

“São infecções que podem causar desde infecções de pele, a erisipela, celulite, escarlatina, impetigo, e causa muito comumente infecção de garganta, principalmente em crianças menores de 10 anos. E, em algumas situações, ela pode causar infecções com gravidade maior, pneumonias, artrites, meningite, que não são tão comuns", detalha. 

Como prevenir? 

A higienização e o isolamento do paciente, a partir do diagnóstico, são as melhores formas de prevenção. “A primeira coisa é a criança doente não ir à escola. Deveria ser um mantra. Criança doente, com dor de garganta, com febre, fica em casa”, alerta a infectologista. Conforme a especialista, também deve ser evitado o compartilhamento de materiais utilizados pela pessoa doente. “Não devemos compartilhar utensílios, copo, talher, garrafinha", completa 

Ainda de acordo com Janaína, outra forma importante de prevenção é sempre manter os ambientes bem ventilados e, principalmente, é manter as as vacinas em dia. "As infecções virais podem ser a porta de entrada, o primeiro passo para que, depois, uma infecção bacteriana aproveite da queda da imunidade causada pela infecção viral", finaliza a infectologista, que também destacou não existir uma vacina. 

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