O arroz liderou a queda da cesta básica em junho e ficou 3,23% mais barato ante maio, segundo a Abras (Associação Brasileira de Supermercados). Em 12 meses, a redução no valor do produto, que foi um dos maiores vilões das famílias em 2024, chega a 16,78%.
Desde janeiro, o preço caiu 14,48%, maior redução entre os alimentos básicos, fazendo com que o pacote com 12 alimentos tivesse recuo de 0,48%. O produto também influenciou a redução de 0,43% no preço da cesta ampliada, com 35 alimentos, que registrou a primeira queda em nove meses.
O alívio está ligado ao aumento na produção brasileira, com incentivos do governo federal, boas condições climáticas e recuperação na colheita gaúcha, que sofreu com as enchentes no Rio Grande do Sul no ano passado.
A cesta com 12 itens caiu de R$ 355,13 para R$ 353,42 entre maio e junho. A lista de alimentos inclui, além do arroz, açúcar refinado, café, carne bovina, farinha de mandioca, farinha de trigo, feijão, leite longa vida, margarina, espaguete, óleo de soja e queijo muçarela.
Outros alimentos básicos que acompanham a queda, segundo a Abras, são o óleo de soja, que caiu 0,59% no mês e 7,45% no ano, mas acumula uma alta de 19,47% em 12 meses; o feijão, que baixou 9,73% desde junho do ano passado; o leite longa vida, que caiu 2,05% no mesmo período; e a farinha de trigo, 0,66% mais barata no mês.
As proteínas da cesta ampliada, chamada de Abrasmercado, também são destaque na queda dos preços. O ovo, que subiu durante o período da quaresma para os cristãos, caiu 6,58% em junho, apesar de ainda ter acumulado 16,62% de alta no ano. A carne bovina, o frango e o pernil também começam a dar sinais de baixas.
Em três supermercados consultados pela Folha na região sul da capital paulista, dois tinham pacotes de arroz em promoção. A média de preços observada para o pacote de 1 kg do arroz branco foi de R$ 8,77. Já o de 5 kg custava, em média, R$ 31,67 (o que daria R$ 6,33/kg).
A pesquisa mensal de cesta básica do Procon-SP (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor do Estado de São Paulo), em parceria com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), mostrou que o arroz teve queda de 3,5% em junho em São Paulo (SP). O pacote de 5 kg caiu de R$ 24,83 (R$ 4,97/kg) para R$ 23,96 (R$ 4,79/kg).
"Os produtores de arroz aumentaram a área cultivada, porém as demandas interna e externa não cresceram na mesma proporção, o que acarretou excedente e recuo nas cotações", afirmou a pesquisa.
Nos últimos 12 meses, os protagonistas de quedas são os hortifrútis. A batata, que caiu 1,9% em junho, já acumula uma baixa de 32,73% nos preços e concorre com a cebola, que caiu 38,72% no período. O tomate subiu 3,25% no mês, mas desde junho do ano passado já caiu 10,02%.
No recorte regional, o preço da cesta Abrasmercado em junho caiu 0,79% na região Sudeste, que lidera as quedas do mês. Em seguida, vem Centro-Oeste (-0,36%), Nordeste (-0,32%) e Sul (-0,25%). Houve alta no preço dos alimentos no Norte (+0,04%).
O menor valor médio da cesta de 35 produtos de supermercado fica na região Nordeste e custa R$ 730,98. O maior é no Sul, com preço de R$ 897,63.
VEJA OS ITENS DE SUPERMERCADO QUE MAIS CAÍRAM EM JUNHO
Na cesta Abrasmercado, de 35 itens, os principais produtos que baixaram de preço no mês foram:
- Ovos (-6,58%)
- Arroz (-3,23%)
- Carne bovina traseira (-1,17%)
- Farinha de trigo (-0,66%)
- Carne bovina dianteira (-0,64%)
- Óleo de soja (-0,59%)
- Feijão (-0,49%)
- Frango (-0,47%)
- Leite longa vida (-0,25%)
CONSUMO AUMENTA COM BENEFÍCIOS SOCIAIS
Apesar da inflação nos alimentos e bebidas, o consumo nos lares brasileiros teve alta de 2,63% no primeiro semestre do ano, de acordo com a Abras. Na comparação com junho do ano passado, o crescimento foi de 2,83%. Só no mês, subiu 1,07%.
"O consumidor pesquisou preços, trocou marcas, mas não reduziu o consumo em volume", afirma Marcio Milan, vice-presidente da associação.
A associação também identificou que as famílias deixaram de comprar itens de menor preço e aumentaram o consumo de opções intermediárias. "A combinação entre a melhora do mercado de trabalho e a circulação de recursos extras na economia parece ter ampliado o espaço para escolhas menos restritivas", comenta Milan.
Ele aponta que o consumo subiu por fatores como o recuo da taxa de desemprego, o reajuste do salário mínimo, o saque-aniversário do FGTS, os repasses do programa Pé-de-meia, o reajuste dos servidores públicos federais, os dois primeiros lotes de restituição do Imposto de Renda, a liberação de RPVs (Requisições de Pequeno Valor) e o 13º salário do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), assim como a liberação de valores mensais de benefícios como Bolsa Família, Auxílio Gás e abono do PIS/Pasep.
Para os próximos meses, o setor espera que o consumo siga em alta. No curto prazo, há o pagamento do terceiro lote da restituição do Imposto de Renda, previsto para a próxima quinta (31), com injeção de R$ 10 bilhões na economia.
"Além disso, seguem os repasses dos programas de transferência de renda, como Bolsa Família e Auxílio Gás, que têm impacto direto no consumo cotidiano", diz Milan.
Outros fatores apontados como positivos para o consumo são as datas comemorativas do segundo semestre, como Dia dos Pais (10 de agosto), Dia das Crianças (12 de outubro), Dia do Supermercado (12 de novembro), Black Friday (28 de novembro) e festas de fim de ano.
"Essas datas representam oportunidades relevantes para o setor e, somado aos recursos que ainda serão injetados na economia, ajudam a sustentar as boas perspectivas para o varejo alimentar esse ano", afirma.