O Banco Central (BC) rejeitou na quarta-feira (3/9) a compra de parte do banco Master pelo BRB. A operação envolvia a aquisição de cerca de R$ 23 bilhões em ativos, e os bancos afirmam que ainda confiam na negociação.
Veja, abaixo, os principais pontos do caso:
QUAL ERA A PROPOSTA?
O BRB pretendia comprar um terço do Master, numa aquisição de cerca de R$ 23 bilhões em ativos, cerca da metade do plano anunciado inicialmente ao mercado financeiro.
Após a aquisição, o Master ficaria com cerca de R$ 48 bilhões em ativos remanescentes que não seriam adquiridos pelo BRB. Essa fatia da instituição, com ativos de menor qualidade, ficou conhecida como "bad bank" (banco ruim). A parte a ser adquirida pelo BRB foi chamada de "good bank" (banco bom).
QUAL FOI A POSIÇÃO DO BANCO CENTRAL?
O Banco Central rejeitou a compra, mas não divulgou os fundamentos que embasaram sua decisão. A autoridade monetária tinha quase um ano de prazo para avaliar o negócio, mas
vinha demonstrando interesse em dar um desfecho rápido para a análise.
O QUE DIZEM OS ENVOLVIDOS?
O BRB, que ainda pode apresentar recurso contra a decisão, divulgou um comunicado ao mercado informando acionistas sobre o indeferimento. O banco solicitou acesso aos argumentos que embasaram a decisão e, segundo membros da companhia, continua acreditando na operação. A estratégia é tentar mitigar os riscos identificados pelo BC. A instituição pode recorrer.
O Master disse que ainda aguarda acesso à íntegra do documento do BC para avaliar os fundamentos e examinar alternativas à decisão. Também afirmou que permanece confiante na sua estratégia e na operação.
HOUVE MOVIMENTAÇÕES POLÍTICAS PELA NEGOCIAÇÃO?
Nesta semana, enquanto o BC realizava análise final da operação, o PP e outros partidos do centrão desencadearam uma ofensiva na Câmara dos Deputados para aprovar um projeto de lei que concede poderes ao Congresso Nacional para demitir diretores e o presidente do Banco Central.
A expectativa sobre a decisão aumentou a pressão sobre o diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do BC, Renato Gomes.
A sua estrutura é responsável por fazer ao colegiado de diretores do BC a recomendação sobre a operação. Ele era um dos mais resistentes à aprovação do negócio com o Master, cujo dono é o banqueiro Daniel Vorcaro, que tem relação próxima com políticos do centrão, principalmente o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI). Ele é apontado com um dos articuladores do votação da urgência do projeto.
O líder do PP na Câmara, deputado Doutor Luizinho (RJ), e o vice-presidente da legenda, Claudio Cajado (BA), recolheram assinaturas para aprovar a urgência de uma proposta de 2021 que muda a lei de autonomia da autoridade monetária.
O projeto estabelece que diretores e presidentes do BC poderão ser exonerados mediante requerimento aprovado pela maioria absoluta da Câmara. Isso pode ocorrer "quando a condução das atividades do Banco Central for incompatível com os interesses nacionais" - não há qualquer detalhamento para definir o que seriam essas atividades incompatíveis.