O risco de sucessão foi uma das razões para o Banco Central rejeitar a compra do Master pelo BRB (Banco de Brasília).
Esse risco acontece porque o futuro responsável pelo negócio, no caso o BRB, teria que assumir todas ou grande parte das operações não conhecidas do Master.

De acordo com pessoas a par da decisão do BC ouvidas pela reportagem, esses compromissos podem representar um valor muito elevado para o BRB. Nesse caso, o banco do governo do Distrito Federal poderia não ter patrimônio suficiente para fazer frente ao risco.

A decisão do BC apontou para o risco do "bad bank" (banco ruim) -a fatia do Master de ativos sem liquidez e de maior risco - tragar o "good bank" (banco bom), a parcela que o BRB se propôs a comprar do dono do Master, Daniel Vorcaro. Essa parcela que ficaria com o BRB é tecnicamente chamada de "perímetro" da operação.

O BRB ainda não concluiu a avaliação do voto do BC. Só depois disso o banco deve tomar a decisão sobre os próximos passos. Estão na mesa a apresentação de um recurso contra a decisão ou a formulação de uma nova proposta.

Após o veto, as atenções se voltam para o FGC (Fundo Garantidor de Crédito), responsável em honrar as aplicações de até R$ 250 mil por CPF e CNPJ feitas no sistema financeiro nacional. No caso do Master, a principal são os CDBs (Certificado de Depósitos Bancários) emitidos com alta remuneração - a instituição os vendeu prometendo ganhos aos investidores com taxas próximas a 120% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário).

O FGC só pode agir se for provocado pelo controlador do Master, solicitando uma linha de assistência, ou pelo próprio BC, em casos de intervenção e liquidação. Quando um banco sofre intervenção, o BC nomeia um interventor e se instala um processo de venda dos ativos, como ocorreu com o Nacional e o Bamerindus. Na intervenção, o banco está ilíquido, mas não insolvente.

Uma das possibilidades é Vorcaro apresentar uma nova proposta para que o Banco Central analise. O banqueiro já tinha relatado a interlocutores que estava conversando com representantes de um fundo europeu, que recebe aportes de investidores árabes, para comprar o Master. Ele também não descartava novas vendas de ativos para o BTG Pactual, do banqueiro André Esteves.

Em maio, Vorcaro fechou com o BTG Pactual a venda de ativos pessoais no valor de cerca de R$ 1,5 bilhão. O banco de Esteves afirmou em comunicado ao mercado que o negócio incluiu ações de empresas como Light (15,17% do capital social) e Méliuz (8,12%), por meio da cessão de cotas de fundos de investimento. A negociação também envolveu precatórios e imóveis, como o prédio do Hotel Fasano, em São Paulo.

O FGC, formado com recursos de contribuições das instituições financeiras, tinha liberado uma linha de empréstimo emergencial de R$ 4 bilhões para fazer frente aos vencimentos dos CDBs do Master. Vorcaro buscava uma nova linha, de até R$ 15 bilhões.
Para conseguir a aprovação no BC, o BRB reduziu o tamanho do perímetro a um terço do valor inicialmente previsto no dia do anúncio da operação, em 28 de março. No final de agosto, o valor estimado estava em R$ 24 bilhões. Os ativos remanescentes do Master, o chamado "bad bank", somavam na época R$ 51,2 bilhões.