Responsáveis por mais da metade da compra de carros novos no Brasil, as locadoras de automóveis estão com os pedidos parados desde o dia 25 de maio, quando o vice-presidente Geraldo Alckmin anunciou que o governo lançaria um programa de descontos para fomentar a indústria automotiva. E essas empresas vão esperar pelo menos mais duas semanas para realizar novas aquisições, de acordo com o presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA), Marco Aurélio Nazaré.
Isso porque, entre as medidas do programa temporário de redução de preço dos automóveis, está a reserva exclusiva para compras de pessoas físicas nos primeiros 15 dias - prazo que pode ser prorrogado por até 60 dias, a depender da resposta do mercado. As locadoras e outras empresas só poderão ser beneficiadas pelo programa ao fim desse prazo. “O faturamento (de novos veículos) está parado desde o mês passado como medida de prudência. E ficará parado por mais tempo”, afirmou o empresário, da locadora mineira M&M Rent a Car.
Essa demanda represada do setor de locação impacta o escoamento da produção automotiva. A reportagem de O Tempo apurou que os pátios das montadoras estão cheios de veículos que, inicialmente, seriam absorvidos pelas locadoras.
Nazaré relata que a ABLA participou de reuniões no Ministério Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) em que o setor demonstrou a sua importância para a absorção dos veículos novos no mercado automotivo brasileiro. Em 2022, as 23 mil locadoras do país fecharam o ano com uma frota total de 2,4 milhões de veículos. A idade média dos carros no setor é de apenas 2 anos, enquanto a média da frota nacional foi de 10 anos e 7 meses.
Nazaré acredita que o incentivo governamental de R$ 500 milhões para carros novos não deve se encerrar nas duas primeiras semanas e as pessoas jurídicas poderão ser beneficiadas pelo programa. Mas nem todas as locadoras comprarão veículos facilmente.
Segundo ele, as gigantes do setor têm recursos para adquirir veículos à vista, mas 85% das locadoras do país são empresas pequenas, que dependem de crédito para realizar suas aquisições. “Apoiamos a medida do governo, realmente algo deveria ser feito para reduzir o valor dos carros. Mas as pequenas e médias locadoras compram com crédito e esse é um problema. É preciso desenvolver uma linha de crédito mais barata para o setor, com juros mais baixos”, disse Nazaré, reforçando que o setor não é formado apenas pelas “rent a car”, mas também por empresas que ofertam frotas para o setor empresarial e para órgãos públicos.
De acordo com Ricardo Bacellar, consultor do setor automotivo, “o tamanho da oportunidade para locadoras e frotistas dependerá do sucesso alcançado junto a pessoas físicas dado que existe um teto financeiro para a medida”.