Há 35 anos, João Mendes tinha uma lavoura de café na fazenda em Perdões, no Sul de Minas. O cafeicultor queria diversificar a atividade e começou, informalmente, a produzir cachaça legalizando depois a marca João Mendes. O filho, João Geraldo Mendes, tomou gosto pela atividade da cachaça. João Mendes já faleceu e o café não teve mais o tempo do filho. “O dinheiro do café é uma vez por ano, no caso da cachaça, a venda é semanal, fomos alavancando e o negócio aconteceu, a sustentabilidade virou outra”, explicou o produtor no estande que montou durante a Expocachaça, em Belo Horizonte.
A moagem inicial de cana-de-açúcar para a João Mendes que era de duas a três toneladas por dia, passou a ser de 15 toneladas diárias. Na propriedade instalada numa área de produção de 60 hectares, o volume da João Mendes varia em média de 180 mil litros a 250 mil litros por ano. O negócio gera emprego direto para 53 funcionários.
Agora o volume tende a receber um incremento. “Investimos bastante na produção de cana e a tendência é aumentar a moagem e a cachaça que não pode faltar”, contou Mendes.
Cachaça saborizada
O plano de Mendes para os próximos anos é entrar de vez no mercado de bebidas mistas, as chamadas cachaças saborizadas. “Lançamos na feira (Expocachaça, que aconteceu no início deste mês) o licor de baunilha, a Francesinha, que tem fava natural da baunilha. É uma tendência e pega um público mais jovem, com isso agrega mais valor”, avaliou.
Mendes contou que a Francesinha já é fornecida para o Mocotó, famoso restaurante de São Paulo. “Estamos envasando para eles que contrataram a gente para fazer. É um produto para um público jovem, é 100% natural e não aperta a língua. A tendência, não somente da João Mendes, é ir para esse público elitizado”, informou o produtor.
O sommelier de cachaça do restaurante Mocotó, Paulo Carvalho, contou que a Francesinha começou com um teste de licor, e como já são 17 anos de parceria com a João Mendes, o restaurante decidiu também encomendar a produção da Francesinha à empresa mineira. A bebida tem fava de baunilha e não passa por filtragem. No restaurante, perto do aeroporto, o consumo é de dez caixas por mês, ou seja, são 120 garrafas. A dose custa cerca de R$ 10 a R$ 12 e a garrafa pode ser adquirida, em média, por R$ 70 a R$ 80. “A ideia é exportar (a Francesinha) e o Mocotó está para abrir uma unidade em Los Angeles”, contou.
Portfólio
Outro lançamento da marca, que também aconteceu na Expocachaça, é a cachaça Santo Alambique. Além dela, a João Mendes ainda reúne as cachaças prata, ouro, e a série comemorativa de 35 anos da empresa que é uma cachaça envelhecida durante oito anos. No varejo, os preços da João Mendes começam em R$ 25, R$ 30 e terminam em R$ 250, a garrafa.
Mendes informou que o produto é envelhecido em 500 tonéis de carvalho de 200 litros, 18 dornas de 18 mil litros e em outros 200 tonéis de carvalho de 250 litros cada. Tem cachaça com idades entre dois a oito anos de envelhecimento. Tem tonel que é parafinado para a cachaça ficar transparente, mas o gosto da maioria é pela cor amadeirada.
Na estratégia de pontos de venda que englobam o Sul de Minas até São Paulo, Mendes tem diversificado na maneira de apresentar o produto seja em embalagens de madeira ou em carrinhos de boi. “Hoje eu quero aumentar a venda dentro do mesmo cliente com as bebidas mistas vendendo mais para o mesmo cliente”, informou.
A exportação é um plano futuro bem próximo, contou. Portugal e Alemanha, onde a cachaça já é um produto muito consumido, são os países que estão no foco da empresa para iniciar o processo.
Cadeia produtiva
- A cachaça movimenta R$ 7,5 bilhões por ano no país, incluindo a cadeia produtiva como um todo, sendo que R$ 1,7 bilhão são da produção mineira.
- Entre os destilados consumidos no Brasil, a cachaça representa 87% dos produtos comercializados e consumidos no país.
- Apenas 1% do que é produzido no país é exportado. A cachaça é a única bebida brasileira que ainda não chegou com força ao exterior. N o último ano, a bebida foi exportada para 77 países.
- Em 2018, São Paulo, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro e Ceará foram os principais Estados exportadores de cachaça.
Expocachaça
Feira. A 29ª edição da Expocachaça, maior feira da cachaça do país, recebeu 200 expositores no Expominas, em Belo Horizonte com a realização de negócios na casa dos R$ 55 milhões.