Horas após a Petrobras anunciar o reajuste nos preços da gasolina e do diesel, os postos de combustível já reajustaram o valor cobrado nas bombas. Porém, não só desses dois produtos, mas também do etanol, que poderia ser alternativa aos derivados de petróleo tão em alta por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia.
De acordo com o presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos, esse aumento não parte dos produtores de cana-de-açúcar, matéria-prima do etanol.
“Eles alteraram porque eles quiseram aumentar. É a dinâmica do mercado. Os preços são livres. Como vai ser a dinâmica do preço na semana que vem do produtor de etanol? A gente não tem bola de cristal para dizer. O que eu posso dizer é que o etanol vai continuar competitivo”, diz Mário Campos.
Segundo Mário Campos, o preço praticado pelas usinas produtoras de etanol nesta quinta (10/3) continua o mesmo dos dias anteriores. Portanto, o reajuste acontece por vontade dos proprietários de postos.
O economista e especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do Uni-BH, Fernando Sette, diz que esse reajuste acontece para gerar fluxo de caixa nos estabelecimentos revendedores. Segundo ele, há uma expectativa pelo aumento do preço do etanol por conta da maior procura do consumidor por esse produto, o que reflete na gestão dos postos.
“O recurso que ele (dono do posto) precisa para comprar o etanol, que já vai vir reajustado na próxima (compra), ele vai fazer com o recurso atual. Então, o preço já aumenta naturalmente. A discussão é de oferta e demanda lá na frente, mas ele (dono do posto) precisa fazer caixa agora para ter recurso depois”, explica Fernando Sette.
A promessa é que o etanol seja mais competitivo neste ano. Há uma expectativa entre os produtores que a safra será bem melhor que a do ano passado, quando as usinas foram prejudicadas por aspectos temporais, como falta de chuvas e queimadas. Ainda assim, a colheita ficará abaixo do recorde de 2020. Em Minas, a moagem deve ficar entre 65 e 70 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, sendo que cerca de 55% disso vai para o etanol e 45% para o açúcar.
Falta de planejamento
Os efeitos do reajuste dos combustíveis são sentidos no bolso do consumidor, mas poderiam ser menores se houvesse planejamento das autoridades, aponta o professor Fernando Sette, do Uni-BH.
Segundo ele, os reflexos da guerra nos derivados de petróleo já são de conhecimento há muito tempo, mas só agora se estuda medidas para aliviar o cidadão.
Na visão do especialista, duas medidas são viáveis. Uma delas é a criação de um fundo por parte do governo federal para subsidiar o preço da gasolina e do diesel quando o preço do petróleo internacional subir consideravelmente.
Outra alternativa seria a Petrobras congelar os preços. Mas, essa alternativa é mais difícil na visão de Sette, porque a estatal também tem acionistas, que visam o lucro em detrimento da competitividade do produto no mercado interno.
Em Minas Gerais, a carga para o consumidor é ainda mais pesada, já que o Estado tem a segunda maior tributação sobre o preço da gasolina na bomba do País, perdendo apenas para o Rio de Janeiro.
Segundo Fernando Sette, o problema dos combustíveis afeta principalmente as classes média e alta, mas, no caso do diesel, toda a população sai prejudicada. “Consequentemente, aumentando o frete, causa um aumento dos produtos em geral. Ele (o diesel) aumenta a inflação de maneira indireta”, afirma.