Considerado termômetro de crises mundiais, o ouro está cada dia mais caro. A cotação avançou 21,25% na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) entre janeiro e setembro deste ano, consolidando o metal como investimento seguro em tempos de guerra comercial e perspectiva de recessão internacional. No mercado global, as cotações subiram 10,29% desde o início do ano, uma diferença de quase 11 pontos percentuais em relação ao Brasil.

Apesar disso, a commodity recuou na B3 em setembro pela primeira vez desde o início do ano, com queda de 12%. No mundo, o ouro se desvalorizou 4,79% no mesmo período. O Índice Bovespa (Ibovespa), que reúne as principais ações negociadas na Bolsa brasileira, subiu 14,3% no acumulado do ano, com avanço de 3,7% em setembro na comparação com agosto. A poupança, por outro lado, oferece retorno de aproximadamente 3% ao ano. 

De acordo com o coordenador do MBA em gestão financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira, a alta no preço do ouro pode ser explicada por uma busca de investimentos mais seguros em tempos de crise internacional. Historicamente, pontua, a commodity é considerada um ativo estável: toda vez que há perspectiva de conflito no mercado global, a procura aumenta, e o preço, também. 

Ele cita a guerra comercial entre China e Estados Unidos e o acirramento de tensões no Oriente Médio como fatores que influenciam o avanço na cotação. Além disso, a possibilidade de que o presidente norte-americano, Donald Trump, sofra impeachment agravou as perspectivas econômicas no cenário mundial. 

A diferença entre o valor da commodity no cenário internacional e no nacional, explica Teixeira, ocorre por causa da valorização do dólar no período, que se soma ao crescimento do ouro. “São duas valorizações simultâneas, que inflacionam ainda mais a cotação brasileira. Para os próximos meses, há incerteza, e temos uma situação econômica tensa no mundo, que pode mudar a qualquer momento. A valorização do ouro é fruto de uma fragilidade política internacional”, afirma. 

O grama do ouro na Bovespa nesta segunda-feira (30) custava R$ 204, queda de 4% em relação ao preço praticado na última sexta-feira. O preço, tanto no Brasil quanto no mercado internacional, varia diariamente – daí o risco de se investir e perder dinheiro com oscilações bruscas.

Opção não é para os mais conservadores

Especialistas alertam que investir em ouro é aplicação de risco e que, portanto, é preciso cautela, especialmente para quem tem perfil mais conservador. O coordenador do MBA em gestão financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira, não acredita que o pequeno investidor deva apostar na commodity – até porque, em sua estimativa, a valorização não deve continuar acentuada.

“Não é o melhor momento para alguém que nunca aplicou fazer esse investimento. A não ser que você esteja em uma posição em que possa sofrer um impacto direto com a economia internacional, não há por que buscar o ouro”, diz. “É preciso lembrar que rentabilidade passada não é sinônimo de rentabilidade futura, o que significa que esses ganhos podem não se repetir”, diz Sandra Blanco, consultora de investimentos da Órama. (Com agências)