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Nesta quinta-feira (14/8), o Itaú Cultural, em São Paulo, abre a exposição “Brasil de susto e sonho: um panorama da obra de Rivane Neuenschwander”, que reúne três décadas de produção da artista mineira, nas quais explora uma ampla diversidade de formatos e temas, que evidenciam a amplitude de sua pesquisa artística, atravessando linguagens e mantendo diálogo constante entre passado e presente, sonho e realidade.
Com curadoria da pesquisadora e jornalista Fabiana Moraes, a mostra, que segue em cartaz até 2 de novembro, ocupa três andares da instituição e mescla trabalhos inéditos, releituras e obras consagradas, como Quarta-feira de Cinzas/Epílogo (2006), realizada em parceria com o cineasta belo-horizontino Cao Guimarães.
O conjunto apresenta vídeos, esculturas, pinturas, instalações e desenhos que abordam temas centrais da história recente do Brasil, da ditadura militar à atualidade, passando por festas populares, manifestações políticas e o imaginário infantil.
Entre as novidades, está Dream.lab/São Paulo, inédita no Brasil, resultado de oficinas com crianças de escolas públicas paulistanas, nas quais elas desenharam seus sonhos a partir da leitura do livro “Sonhozzz”. Outro destaque é Mestre Zenóbio e o Cordão da Bicharada, vídeo de cerca de 20 minutos codirigido por Rivane e Cao Guimarães, que retrata um cortejo fluvial criado nos anos 1970, no Pará, para alertar sobre a preservação da natureza.
A mostra também apresenta As Insubmissas e Perversos, marcianos, canibais e alienados, séries de bonecos que misturam tecidos, bordados e objetos reaproveitados para criar personagens que comentam, com ironia, a política brasileira. Obras como Apocaplástico tratam de questões ambientais e religiosas na região do rio Tocantins, enquanto as novas pinturas da série Notícias de Jornal abordam o feminicídio no país.
Trabalhos anteriores ganham novo fôlego, como Atrás da porta (2007), formada por desenhos encontrados em portas de banheiros públicos, e A conversação (2010–2025), instalação inspirada no filme homônimo de Francis Ford Coppola, que investiga a vigilância e a espionagem. Também estão presentes obras que exploram a memória histórica, como A.E. (Nunca mais Brasil), que conecta medos infantis a episódios de tortura da ditadura militar, e R.R. (90 milhões em ação), sobre o uso político do futebol na década de 1970.
Além de Cao Guimarães, Rivane conta com colaborações de longa data, como o duo O Grivo, criado em fins de 1990 pelos músicos belo-horizontinos Nelson Soares e Marcos Moreira, e responsável por trilhas sonoras em vídeos como Erotisme (2014).
Sobre a sua trajetória, a artista já disse identificar justamente no tema da memória e infância um fio condutor. “Já tenho pesquisado esse assunto da memória relacionada à infância há um bom tempo, inclusive fazendo uma intersecção com a psicanálise. Com o tempo, fui tomando consciência de como o meu trabalho estava atrelado a esse tema”, disse em entrevista a O TEMPO em outubro de 2024, quando inaugurava uma mostra retrospectiva no Inhotim, onde, desde 2009, apresenta a obra Continente/Nuvem.
Em texto institucional, o Itaú Cultural localiza a nova mostra em um espaço “entre a alegria e a tristeza, entre a transgressão e o afeto, entre os monstros e as fantasias do inconsciente, entre as barbáries do mundo em que vivemos e os mundos possíveis pelos quais podemos nos esforçar”.
Já a curadora Fabiana Moraes registra que a exposição articula momentos importantes da obra da artista e apresenta, em imagens, objetos e gestos, questões do Brasil pós-pandemia e pós-tentativa de golpe institucional. “Um sobrevoo que nos faz lembrar, com as pupilas em dilatação máxima, dos muitos sustos que pontuam a história política e social do Brasil”, avisa.
SERVIÇO:
O quê. Exposição 'Brasil de susto e sonho: um panorama da obra de Rivane Neuenschwander'
Quando. Abertura nesta quinta (14); até 2 de novembro. Visitação de terça a sábado, das 11h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h
Onde. Itaú Cultural (avenida Paulista, 149, próximo à estação Brigadeiro do metrô)
Quanto. Gratuito
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