Quando ferramentas de inteligência artificial começaram a se popularizar, houve quem utilizasse o ChatGPT como uma espécie de terapeuta. A moda acabou pegando e, na época, muita gente confessou fazer parte da turma que recorria à aplicação da OpenAI para dividir suas próprias experiências e discutir questões sobre a vida real. Embora esse uso particular do software não seja recomendado por médicos, é possível que a inteligência artificial seja uma grande aliada da medicina.
Prova disso, é o HeAR – Health Acoustic Representations (em português, Representações Acústicas de Saúde), IA projetada pelo Google para ajudar outros pesquisadores a construírem modelos que possam ouvir sons humanos e identificar sinais precoces de doenças. Baseado na bioacústica, uma combinação de biologia e acústica, essa IA foi treinada com 300 milhões de áudios que incluíam tosse e dificuldade para respirar para identificar, por exemplo, casos de tuberculose. A intenção do Google é que essa ferramenta ajude a acelerar o desenvolvimento de modelos bioacústicos personalizados com menos dados, configuração e computação.
De acordo com a empresa, porém, as possibilidades do uso de inteligência artificial na medicina são infinitas. “Hoje, já é possível acelerar a descoberta de novos medicamentos, personalizar tratamentos e melhorar a precisão de diagnósticos. Temos diversos projetos no Google, por exemplo, onde utilizamos a IA para analisar grandes conjuntos de dados para agilizar e ajudar os médicos a tomar decisões mais informadas sobre o tratamento de seus pacientes. Ou mesmo interpretar dados genéticos e identificar novas terapias para doenças raras. Ao combinar a expertise médica com a capacidade da IA de analisar grandes volumes de informações, estamos abrindo novas possibilidades para a medicina”, afirma Luciana Cordeiro, gerente de parcerias de Google Research (área de pesquisa da empresa) para América Latina.
A rede de hospitais Mater Dei também tem adotado o uso de IAs em diferentes partes do trabalho. Segundo a diretora de inovação e experiência do paciente da rede, Lara Salvador Geo, esse tipo de ferramenta tem sido utilizado especialmente em áreas como análise de exames por imagem, suporte à decisão clínica, melhora da experiência e desburocratização de processos. “Hoje, trabalhamos com uma jornada digital que beneficia tanto pacientes quanto médicos, jornada esta impulsionada pela aquisição realizada em 2021 de 50,1% da empresa de IA mineira A3 Data”, explica Lara.
Uma das iniciativas advindas da aquisição da empresa, é a criação do aplicativo Meu Mater Dei, uma plataforma digital que otimiza as jornadas de pacientes e médicos em todas as etapas do atendimento. “Ela facilita agendamentos, automação de cadastros, check-ins e comunicação, simplificando processos em setores como ambulatório, centro cirúrgico e medicina diagnóstica, trazendo comodidade e eficiência”, elucida.
Lara acrescenta ainda outros exemplos de usos de IAs na rede, como o Nuvie, um copiloto médico impulsionado por inteligência artificial que simplifica a documentação clínica, o que reduz o tempo gasto no preenchimento de prontuários. “O Nuvie também oferece acesso instantâneo a uma base abrangente de medicamentos e exames, cobrindo diversas especialidades, agilizando a prescrição, otimizando os fluxos de atendimento, melhorando a eficiência e reduzindo erros”, destaca.
Embora a utilização de diferentes ferramentas de inteligência artificial já esteja cada vez mais comum no cotidiano médico, Lara faz uma ressalva, pontuando que a atuação das IAs não significa a substituição do trabalho humano, mas sim um complemento às atividades dos profissionais de saúde. “A tecnologia nos apoia fornecendo dados robustos e precisão, mas a interpretação e a tomada de decisões ainda requerem o toque humano — o contato direto e empático com o paciente. Com a IA, conseguimos aplicar nosso conhecimento médico de maneira mais eficiente, oferecendo tratamentos mais personalizados e oferecendo ao médico algo extremamente valioso: tempo. Tempo para focar no paciente, para estar presente, para cuidar e ouvir”, ressalta.
Pesquisas apontam para mais usos de IA
De acordo com informações do Google, a empresa tem desenvolvido uma ferramenta para ajudar pessoas a pesquisarem e identificarem melhor doenças de pele, cabelos e unhas. “A ferramenta é compatível com centenas de condições, incluindo mais de 80% sequelas vistas em clínicas e mais de 90% das condições mais pesquisadas”, diz o Google. Outra pesquisa desenvolvida pela empresa, publicada no periódico Nature Biomedical Engineering, conseguiu utilizar IAs para quantificar os níveis de hemoglobina e detectar anemia em fotografias da parte de trás do olho. Conforme o Google, esse resultado indica que é possível que profissionais da saúde possam detectar a doença com uma ferramenta de exame simples e não invasiva no futuro.
Com usos já consolidados e pesquisas avançadas, a inteligência artificial deve se tornar cada vez mais integrada ao dia a dia da medicina. É isso o que acredita Lara Salvador Geo. “O avanço tecnológico é inevitável, e com ele vem a oportunidade de otimizar processos, desde diagnósticos e tratamentos até a experiência completa da jornada hospitalar. Isso impacta positivamente não apenas os pacientes e seus familiares, mas também médicos, corpo assistencial, colaboradores, operadoras de saúde e a comunidade. No futuro, a IA será uma ferramenta natural na prática médica, permitindo que os profissionais de saúde se concentrem ainda mais no toque humano, no atendimento, enquanto a tecnologia cuida de muitos dos aspectos técnicos e analíticos. A tendência é que a colaboração entre humanos e IA evolua continuamente, trazendo melhorias tanto para os processos quanto para a experiência dos envolvidos”, projeta.