No dicionário, a saudade é definida como um “sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma coisa ou um lugar”, referindo-se também “à ausência de experiências prazerosas já vividas”. A nostalgia tem uma definição semelhante, sendo, inclusive, apontada como “saudades de algo, de um estado, de uma forma de existência que se deixou de ter” e como o “desejo de voltar ao passado”. Não é por acaso que essas duas palavras costumam ser usadas como sinônimos. Mas, embora sejam semelhantes, há uma diferença sutil entre elas. 

 É isso o que pontua o psicólogo e psicanalista Eduardo Oliveira. “São sentimentos recebidos e interpretados pelo cérebro distintamente”, afirma. “A saudade, por definição, possui um aspecto mais concreto, embora também possa existir de forma simbólica. É um sentimento que, dependendo do objeto ao qual está ligado, pode ser atenuado ou até sanado com o reencontro. Por exemplo, quando revemos alguém de quem sentimos saudade, essa emoção tende a se suavizar, trazendo uma sensação de conforto e reconexão. Ou, quando o objeto da saudade é inalcançável, como alguém que já partiu, esse sentimento pode se transformar em uma presença constante; se não elaborado, podem seguir influenciando nossas memórias e, consequentemente, nossas outras emoções e sentimentos. Simplificando, a saudade está mais ligada à perda”, explica.  

 Conforme Eduardo, a nostalgia, por outro lado, precisa de mais contextualização, isso porque tem uma forte carga histórica e psicológica, sendo reinterpretada, muitas vezes, de forma romântica, seletiva e idealizada. “No passado, a nostalgia era considerada uma condição patológica, capaz de afetar profundamente a saúde mental e física. Com o tempo, essa percepção mudou, e hoje ela é vista como uma emoção complexa, capaz de influenciar tanto a identidade individual quanto a coletividade. Seu impacto vai além da esfera pessoal, podendo moldar decisões políticas, sociais e culturais, já que memórias nostálgicas podem ser usadas para despertar sentimentos de pertencimento, segurança ou até manipulação emocional em discursos públicos e ideológicos”, pontua.  

 Ainda segundo Eduardo, a nostalgia se assemelha à saudade, mas representa um desejo de que as coisas voltem ao que era antes. “É um constante lamento, um pujante inconformismo do tipo: ‘Eu preciso voltar para o passado, onde eu estava, lá que era o certo’. Uma constante revolta com o que se perdeu, uma sensação de que aquilo precisa ser restaurado. Um elemento marcante e característico do estado de nostalgia é certa idealização do passado, em que nada do que ocorre no presente é suficiente para superá-lo”, acrescenta.  

 Já a psicóloga Camila Fardin, professora de psicologia da Una, acredita que a saudade e a nostalgia são sinônimos e, portanto, causam sensações semelhantes. “São duas palavras que vão se confundindo. Existe um momento do sentimento em que nos lembramos com prazer das histórias que vivemos, não como uma lembrança triste, como algo que faz falta, mas como uma memória com prazer de algo que já foi vivido e que passou. Outro ponto é quando a pessoa se lembra com tristeza do que viveu e aí sente falta”, elucida. 

 É, inclusive, nesse “lembrar com tristeza” que pode morar o perigo da saudade ou da nostalgia. Segundo Camila, esses sentimentos causam impactos emocionais negativos quando são acompanhados de dor e de um desejo de ter vivido mais aquilo de uma forma que impeça o avanço. “Podemos pensar, por exemplo, num relacionamento que se encerrou, que não era o que a pessoa queria. Ela pode ficar naquilo de sentir saudade do que era bom, de não conseguir avançar e estar no presente”, pontua. “É como se todo dia a pessoa estivesse vivendo o luto da perda”, complementa. 

 Eduardo Oliveira reforça o coro, pontuando que, quando a saudade está diante de uma perda material ou simbólica em que o reencontro não é possível, o sofrimento emocional pode ser gerado. “Há uma dificuldade de seguir adiante, dificultando a invenção ou reinvenção para novas realidades.  

Se não bem elaborada, pode contribuir para quadros de melancolia, sentimento de solidão e uma sensação de vazio. A saudade, quando equilibrada, é um sentimento natural e saudável. Porém, quando se torna excessivo ou paralisante, pode ser necessário trabalhar sua elaboração emocional, seja por meio do autoconhecimento ou do suporte terapêutico”, orienta.  

 Camila Fardin também ressalta a importância de se entender o que foi perdido – o objeto da saudade. “Às vezes é um relacionamento que chegou ao fim, mas é uma relação que representava a segurança financeira, aquilo que a pessoa tinha de mais importante, ou alguém que a admirava. Então muita coisa foi perdida. É sempre mais subjetivo”, diz. “O que deve ser feito é tentar entender o que há por trás do que foi perdido, elaborar e deixar aquilo se transformar num traço da história”, resume.  

 A nostalgia também traz um polo negativo que, de acordo com Eduardo, ocorre quando há uma distorção da realidade do passado. “Como se tudo lá atrás fosse perfeito. Uma idealização do que passou”, afirma. Ele ainda acrescenta que a nostalgia, quando intensa, pode gerar melancolia e um sentimento de que “o melhor já passou”, dificultando o engajamento no presente e no futuro. “A nostalgia, quando equilibrada, pode ser um sentimento positivo e inspirador. No entanto, se for excessiva ou paralisante, pode afetar a qualidade de vida e dificultar o progresso pessoal e social”.  

Entretanto, a saudade e a nostalgia podem ser experimentadas de maneira positiva, principalmente quando há uma lembrança com carinho daquilo que já passou. “Às vezes vejo grupos de pessoas falando para ‘parar com essa saudade’, mas isso não faz bem, porque com a saudade você retoma a sua história. E se é prazeroso retomar essas memórias, tudo bem. Não é porque eu retorno a elas com alguma frequência, porque me emociono, que elas me fazem mal”, pontua Camila Fardin. 

No caso da nostalgia, Eduardo Oliveira pontua que esse é um estado que pode permitir rever e reviver momentos felizes que podem produzir conforto emocional e a sensação de uma continuidade biográfica do que somos. “Relembrar experiências passadas produz um sentimento de identidade pessoal, social e cultural, em que podemos ver nossos valores e nossa história”.