Nariz entupido, garganta irritada e tosse. Comuns a inúmeras doenças respiratórias, os sintomas citados acabam se tornando parte do cotidiano de muita gente assim que as temperaturas começam a cair. Não por acaso, a chegada do inverno contribui para o aumento de casos de enfermidades que afetam, principalmente, as vias aéreas superiores e os pulmões.
De acordo com informações da Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde, o clima mais frio, característico da estação, tem influência direta no aumento da incidência de infecções como gripe, resfriado e a própria Covid-19, já que favorece a disseminação dos vírus causadores dessas doenças.
Além delas, casos de sinusite, rinite, bronquite e crise asmática também acabam tendo aumento considerável no período. Em Minas Gerais, já foram registradas 47 mil internações por infecções respiratórias só este ano, cenário que aliaria o clima mais seco do inverno à baixa vacinação contra o vírus da gripe, apesar da disponibilização gratuita do imunizante para todos os públicos.
Professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) durante 27 anos, a fisioterapeuta respiratória Tereza Cristina Brant, especializada em cuidados com a saúde respiratória, observa que fatores típicos da estação invernal como ar frio, baixa umidade e maior permanência em ambientes fechados contribuem para a proliferação de vírus que transmitem doenças respiratórias. “As baixas temperaturas provocam diminuição da frequência do sistema de defesa respiratório, conhecido como batimento ciliar. Com a sua diminuição, esse mecanismo fica alterado, interferindo em nossa capacidade de defesa frente aos vírus”, explica.
No caso da baixa umidade, o que acontece, segundo a especialista, é que “o ar deve chegar aos pulmões com 60% de umidade”. “Quando respiramos o ar seco, o nosso nariz vai ‘perder’ água até que o ar inspirado atinja esse patamar. A mucosa nasal torna-se desidratada, passível de sangramento e o muco (catarro) também fica mais viscoso e de difícil deslocamento, favorecendo o acúmulo de secreção viscosa, leito ideal para o crescimento dos vírus”, observa Tereza, que, por fim, informa que “a maior permanência em ambientes fechados favorece a transmissão dos vírus entre as pessoas que estão ali, onde não há troca de ar com o ambiente”.
Práticas e cuidados
Entre as maneiras de evitar a contaminação nesse período dramático, a fisioterapeuta respiratória ressalta que “a prevenção ainda é a melhor conduta para evitarmos a contaminação nesta época do ano”, seguida pela lavagem de nariz com soro fisiológico. “A lavagem evita o acúmulo de secreção, umidifica as vias aéreas, elimina células inflamatórias e desobstrui as vias aéreas superiores”, pontua Tereza, que indica realizar o procedimento, durante o inverno, “no mínimo pela manhã e à noite”.
Quanto ao uso de umidificadores, ela alerta que é preciso “manter o aparelho ligado quando a umidade relativa do ar estiver abaixo de 60%, posicionando-o a um metro de distância das pessoas, sem a utilização da função ‘névoa fria’ durante as madrugadas”. Outra prática essencial que a especialista destaca é manter a casa bem ventilada e limpa. “Passar pano úmido na casa e nos móveis, para a retirada da poeira, evitando dissipação da mesma, como a promovida pelo uso da vassoura é de suma importância, assim como trocar a roupa de cama ao menos uma vez por semana”, orienta.
Segundo ela, esses cuidados precisam estar aliados a evitar ambientes fechados e com muitas pessoas e manter a caderneta de vacinação em dia para aumentarem a sua eficiência. Além disso, é fundamental a ingestão regular de líquidos, numa média de, ao menos, 8 copos de água por dia. “95% do catarro é água, os outros 5% são os demais componentes. Se a pessoa bebe pouca água, respira ar seco e ‘perde’ água para umidificá-lo, além do nariz ficar seco, o catarro também fica viscoso e de difícil deslocamento. Sendo assim, existe uma possibilidade de acúmulo de catarro, situação que favorece a instalação das viroses respiratórias”, reforça Tereza.
Públicos vulneráveis
Mais vulneráveis a doenças respiratórias, idosos e crianças devem receber um cuidado redobrado. Tereza sublinha que esse público “deve manter pontualmente a lavagem nasal com soro fisiológico, no mínimo, duas vezes ao dia”. “A caderneta de vacinação deve estar rigorosamente em dia e é preciso lavar as mãos com frequência”, enumera. Evitar contato físico com pessoas gripadas ou contaminadas também é essencial.
“No caso de presença de tosse com catarro, nariz escorrendo, sono agitado e dificuldade para alimentar-se ou mamar, a Fisioterapia Respiratória pode ajudar no tratamento dessa população por meio de técnicas específicas de desobstrução das vias aéreas e recuperação da ventilação pulmonar”, afiança Tereza. Essa atenção especial deve ser dada a qualquer pessoa que apresente “aquela virose que se arrasta ou evolui mal, com sinais como prostração do paciente, baixa oxigenação arterial, cansaço, chieira no peito, tosse contínua e dificuldade de expectoração”.
“Em caso de bebês devemos nos preocupar com as bronquiolites. E, em se tratando de idosos, com as pneumonias”, salienta a entrevistada. “É importante ressaltar que quadros que não melhoram precisam de avaliação médica criteriosa, e, muitas vezes, de abordagem de especialistas, como, por exemplo, do Fisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Respiratória, para implementar a desobstrução das vias aéreas e recuperação da ventilação pulmonar fisiológica”, complementa Tereza.
A especialista esclarece que a Fisioterapia Respiratória atende aos três níveis de atenção à saúde: primário, secundário e terciário, incluindo a abordagem preventiva, “de extrema importância e efetividade em pacientes crônicos como os asmáticos e portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica”, assim como permite a tais pacientes “o melhor manejo das agudizações dos quadros, melhorando sua qualidade de vida nos períodos de crise ou entre os quadros infecciosos”, arremata.
Mudanças climáticas impactam a saúde respiratória
Especialista em cuidados com a saúde respiratória, Tereza Cristina Brant não tem dúvidas de que “a questão climática é uma das grandes responsáveis pelo que estamos vivendo hoje”, em referência ao aumento alarmante de doenças respiratórias que Minas Gerais e grande parte do mundo enfrentam. De acordo com o Painel de Vigilância Epidemiológica do Estado, a cada quatro horas uma vida é perdida em Minas Gerais por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) – complicação séria de doenças respiratórias como influenza, bronquiolite, pneumonia e Covid-19.
“A poluição do ar, o desmatamento e o aquecimento global reverberam na qualidade do ar que respiramos. Além disso, este período de outono e inverno, com temperaturas baixas, favorecem a propagação dos vírus causadores de infecções como gripe, resfriado e influenza”, confirma Tereza. A baixa adesão da população à vacina contra a gripe também estaria contribuindo para este cenário. Segundo dados do Ministério da Saúde, a cobertura vacinal de gestantes, crianças e idosos até aqui em Minas Gerais é de apenas 41%. O imunizante está disponível para toda a população desde abril.
“Vale ressaltar que tudo o que aumenta a nossa imunidade pode e deve ser usado nestes momentos. Portanto o mel, o própolis, os chás e a canja podem ser usados. Mas, por favor, não se esqueçam de se vacinar e de lavar o nariz”, conclui Tereza.