Em 2021, teve início a campanha Agosto Azul e Vermelho, uma referência às cores das veias e artérias, a fim de conscientizar as pessoas sobre a importância de cuidar da circulação do corpo e estarem atentas a doenças que afetam essas áreas primordiais para uma boa saúde. A iniciativa ocorreu durante a presidência de Bruno Naves na Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular.
De acordo com a instituição, enfermidades como trombose, varizes, acidente vascular cerebral, linfedema, pé diabético e aneurisma da aorta abdominal estão por trás de cerca de 30% das mortes no Brasil, todas elas relacionadas à saúde vascular. Muitas dessas condições evoluem de forma silenciosa e só são descobertas em estágios mais avançados, o que torna o diagnóstico precoce a melhor defesa.
Bruno alerta que o principal fator para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares ainda é o cigarro. “O tabagismo é muito prejudicial à saúde vascular. É bom entender que as artérias levam o sangue do coração para fora e as veias trazem esse sangue de volta. Apesar de ser a mesma circulação, elas têm paredes diferentes, doenças diferentes e apresentações diferentes”, esclarece. O médico observa que algumas mudanças no estilo de vida são fundamentais para se evitar o risco de contrair as enfermidades.
“No caso das veias, quanto mais forte estiver a panturrilha, menos problemas de varizes a pessoa irá desenvolver. Não é clichê falar que a panturrilha é o nosso coração venoso periférico. Isso é real. O sangue é bombeado da panturrilha para as coxas, e, dali, ele retorna ao coração. Então o fortalecimento das pernas, e, particularmente da panturrilha, é a melhor solução para a boa saúde venosa”, explica.
Sintomas
Em se tratando da parte arterial, a dica é praticar caminhadas. “Se a pessoa já tem alguma deficiência, a caminhada a auxilia a criar novos vasos arteriais. Por isso é o melhor medicamento para quem tem a chamada falta de circulação”, informa. O médico salienta que, no caso das doenças venosas, os sintomas mais comuns são as varizes, “com veias dilatadas, tortuosas e insuficientes”.
Perna inchada, pele seca e eventual coceira que pode, inclusive, abrir feridas, também são indicativos para se ficar atento. “Isso é o que a gente chama de doença venosa crônica, que ficou muito em voga agora quando falaram que o Donald Trump tinha. Ou seja, poder e dinheiro não resolvem isso. O que melhora é um estilo de vida saudável e cuidado precoce com os sintomas”, orienta Bruno.
Já no caso da falta de circulação, ele conta que o sintoma mais comum é a pessoa “sentir dor ao andar, o que tende a piorar com subidas e trajetos íngremes”. “Quando a gente anda, é preciso chegar sangue e oxigênio no músculo. Se houver algum entupimento na região, a chegada do sangue ao músculo fica dificultada e a pessoa sente dor. Essa é a principal manifestação da doença arterial periférica, também chamada de falta de circulação, e que piora com o frio”, avisa o especialista, habituado a receber pessoas em seu consultório com a reclamação durante os meses de inverno.
Alimentação
Bruno defende que é preciso dar a mesma atenção à nossa saúde cardiovascular que a de outras partes do corpo, e toma como exemplo a frequência com que se deve realizar um check-up, mesmo quando não há sintomas claros.
“O ideal é que seja como dentista, dermatologista, oftalmologista, pelo menos uma vez ao ano, principalmente se houver casos na família, porque está provado que a doença venosa possui um forte componente hereditário”, afiança. “Eu costumo dizer para os pacientes que não é nem tendência genética, é uma tradição familiar, porque nesses casos quase todo mundo da família vai desenvolver o problema em algum momento”.
Para evitar tais intercorrências, a primeira medida é largar o cigarro. “Parar de fumar é a base, seja para varizes, seja para má circulação. Em segundo lugar, um sono reparador ajuda muito. Hoje a gente acredita que o sono é tão decisivo quanto hipertensão e diabetes. E o que é dormir bem? Não é apenas as famosas oito horas de descanso, mas é ter um sono sincrônico, ou seja, tentar ir para a cama todas as noites no mesmo horário, criar uma rotina, realizar o que a gente chama de higiene do sono”, sustenta.
Em seguida, o médico enfoca a alimentação. “Menos padaria, mais sacolão. Desembrulhar menos, descascar mais. Ou seja, verduras, frutas, legumes e um grelhado leve são muito bons para a circulação. Manter um peso equilibrado é importante. A obesidade é um problema para as varizes, porque dificulta a circulação”.
Movimento
No caso específico das doenças arteriais, ele sublinha a necessidade de se evitar alimentos gordurosos de origem animal que aumentam o colesterol e podem gerar má circulação. “É muito importante a gente fazer a nossa parte. Pensar em saúde e não em tratar a doença. Evitar doces e priorizar alimentos que contenham fibra também é uma ótima saída”, indica.
Segundo Bruno, qualquer oportunidade de se movimentar o corpo deve ser aproveitada. “Se você puder ir caminhando para o trabalho, ótimo. Se precisar subir dois, três andares, é melhor ir de escada, que é um excelente exercício para a panturrilha. São pequenos detalhes que fazem uma grande diferença”, assegura.
Ele lembra que a imobilização prolongada é a maior causa de trombose venosa profunda, e que o quadro se intensificou durante a pandemia de Covid-19, porque “as pessoas passavam horas sentadas em frente ao computador”. “A gente tem que ser inquieto, a cada hora levantar um pouco, mexer, fazer o sangue circular. Por isso se chama circulação, porque precisa de movimento. Sangue que movimenta não coagula”, resume.
Entre os tratamentos disponíveis, o médico conta que para as varizes existem cirurgias convencionais e a laser e também a escleroterapia, feita através de injeção. Já a angioplastia daria conta das doenças vasculares. “Você consegue pegar um vaso que está um pouco entupido, abrir uma passagem para o sangue e colocar um stent, que é uma molinha dentro da artéria para o sangue circular melhor. Mas isso é para tratar a doença. Saúde começa antes, na mudança do estilo de vida”, arremata Bruno.
Combatendo o estresse
A vida contemporânea, recheada de prazos apertados e correria insana, num mundo ininterruptamente conectado, é uma das principais armadilhas para a saúde cardiovascular. “O estresse é péssimo para a circulação. Toda vez que a gente joga cortisol na corrente sanguínea, a artéria se mexe e pode desenvolver uma placa de colesterol”, corrobora Bruno Naves, coordenador de Angiologia do Hospital Madre Teresa.
Segundo ele, praticar meditação e atividade física regularmente são as melhores armas contra o estresse. “Se você estiver estressado, cansado, correr ajuda muito, porque ao invés de introjetar, você coloca o estresse para fora, e saber lidar com ele é fundamental”, assevera o especialista.
Mesmo em meio ao caos exigido pelas cargas horárias de muitas empresas, ele também sugere fortemente evitar o fast-food e não pular refeições. “Tomar um bom café da manhã, ter um almoço saudável, balanceado, com uma comida colorida, diversificada, sem comer com aquela pressa exagerada, também faz uma grande diferença no quadro geral da nossa saúde cardiovascular”, finaliza Bruno.