Meio ambiente

Agrotóxico matou 50 milhões de abelhas em um mês em SC

Testes apontam uso do fipronil como principal causa da mortandade de insetos no Estado; sem polinização natural, produção agrícola teria queda de 30% a 40%


Publicado em 19 de setembro de 2019 | 06:00
 
 
 
normal

Cerca de 50 milhões de abelhas morreram envenenadas por agrotóxicos apenas em janeiro deste ano em Santa Catarina. A principal causa, segundo testes – pagos pelo Ministério Público estadual –, foi o uso do inseticida fipronil, comum em lavouras de soja na região.

Santa Catarina é o maior exportador de mel do Brasil e tem 99% de sua produção certificada como orgânica. Segundo a BBC Brasil, os produtores temem que a mortandade gere dúvidas sobre a qualidade do mel.

Entre os dias 22 e 31 de janeiro, a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), órgão do Estado, coletou amostras de abelhas encontradas mortas nas duas cidades mais afetadas, Major Vieira e Rio Negrinho, e as enviou ao Ministério Público. As amostras também foram enviadas a um laboratório no interior de São Paulo.

Os exames encontraram três agrotóxicos: o fungicida trifloxistrobina e o inseticida triflumuron, ambos fabricados pela Bayer, e, em maior quantidade, o inseticida fipronil, introduzido no país pela Basf – que deteve a patente do princípio ativo até 2008.

As duas empresas afirmam que seus produtos, se usados conforme as orientações, são seguros para o meio ambiente. A Cidasc não responsabilizou nenhum produtor e considerou a contaminação acidental.

“O impacto desses agrotóxicos é que eles são letais para as abelhas, agem diretamente no sistema nervoso central delas. As que não morrem durante o voo retornam adoecidas e contaminam toda a colmeia”, explica o agrônomo Rubens Onofre Nodari, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Mortes de abelhas, principais polinizadoras da natureza, não afetam somente a cadeia do mel, diz Nodari. “Sem a polinização das abelhas, a produção agrícola sofreria uma redução dramática, num diagnóstico conservador de 30% a 40%, mas há correntes de pesquisadores que falam em 73%”, ressalta.

Toxicidade

Os três agrotóxicos encontrados no laudo são classificados pelo Ministério da Saúde como altamente tóxicos (classe 2). Apesar disso, são liberados no país para uso em lavouras. “O Brasil anda em marcha a ré em comparação com o resto do mundo. Substâncias que provocam mortes de animais e pessoas continuam no mercado”, diz a promotora Greicia Malheiros, que preside o Fórum de Combate aos Agrotóxicos e Transgênicos, órgão integrado por 80 instituições públicas e privadas.

De 1990 a 2016, o consumo nacional de agrotóxicos cresceu em 770%, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), sendo que a área agrícola do país cresceu somente 48%.

Controle biológico

O controle biológico de pragas, em substituição ao uso de agrotóxicos, e a recomposição de hábitats, com plantio e preservação de vegetação nativa, foram defendidos por especialistas como uma forma de proteger abelhas e outros animais polinizadores. 

O problema foi discutido ontem na Comissão de Agricultura (CRA), em audiência pública sobre um projeto de lei do senador Lasier Martins (Podemos-RS) que visa estimular pesquisas e medidas de proteção às populações de polinizadores (PL 1.918/2019).

O pesquisador da Embrapa Décio Gazzoni advertiu que o uso indiscriminado de agrotóxicos impacta na população de polinizadores.

“O que estou propondo é que sejam previstos dispositivos na Política Nacional do Meio Ambiente, na Lei de Agrotóxicos, no Novo Código Florestal, na Lei de Biodiversidade, que protejam os polinizadores, que têm uma importância transcendental, pelo que vimos até agora”, disse Lasier. (Com Agência Senado) 

 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!