As queimadas que se alastram pela Amazônia trarão um aumento dos indicadores de mortalidade da população da região. “Não há dúvida de que poluição aguda, como a provocada por esses focos de incêndio, tem um efeito de mortalidade”, afirma o professor da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Saldiva.
Ele participou de um estudo publicado recentemente na revista “The New England Journal of Medicine”, que analisou o impacto da poluição aguda em 652 cidades com diferentes características. “A conclusão é única: esses eventos aumentam as mortes em todo o mundo, sobretudo em pessoas que já apresentam problemas de saúde”.
Pesquisadores concluem que, toda vez que se registram queimadas, há um aumento de infecções respiratórias e uma piora nos quadros de pneumonia, bronquite crônica e asma. Além disso, há aumento da mortalidade por infarto e AVC. Ele ressalta, no entanto, que os efeitos negativos não se aplicam a toda a população. “Quem sente mais são idosos, crianças, pessoas com diabetes ou hipertensos”.
Questionadas, as secretarias de Saúde do Pará, Mato Grosso e Amazonas informaram que, até a sexta-feira passada, não haviam registrado aumento expressivo nos serviços de atendimento relacionados a intoxicações por fumaça.
Essa constatação não impressiona Saldiva. “Ainda é cedo para notar esse impacto. Isso será sentido ano que vem, quando as notificações de óbito começarem a ser contabilizadas.”
Malefícios para a saúde
Os dados mostram que os desdobramentos negativos na saúde ocorrem independentemente da fonte da poluição. São notados, por exemplo, tanto em cidades com termelétricas como naquelas que enfrentam queimas de biomassa.
Saldiva explica como isso ocorre. A fuligem das queimadas de floresta vem acompanhada de substâncias ativas e metais presentes no solo que, num primeiro momento, irritam os olhos. Ao entrar pelo pulmão, essas partículas provocam um processo inflamatório.
Mas o efeito não fica restrito ao órgão. Assim como o oxigênio, as partículas atravessam o pulmão e se alojam em outros lugares, aumentando o risco de uma reação inflamatória sistêmica.
Com ela, há uma elevação da pressão arterial e o risco da formação de trombos, que, por sua vez, podem causar infarto ou AVC.
No caso da poluição aguda, não há mecanismos eficientes de se evitar a contaminação, nem mesmo máscaras, que têm alcance limitado. O ideal, diz o pesquisador, é adotar medidas para evitar as queimadas ou para seu controle.
“Além disso, é preciso garantir diabetes e hipertensão estejam controladas, assim como as doenças respiratórias.”
O Ministério da Saúde tem uma série de recomendações para moradores de regiões atingidas por queimadas: evitar ficar próximo dos lugares de fogo, ficar em ambientes protegidos de poluição, distanciar-se de ambientes fechados e poluídos, hidratar-se, usar máscaras e óculos para realizar atividades externas, reduzir as atividades físicas.
Crime organizado
A procuradora geral da República, Raquel Dodge, afirmou, nestaa segunda-feira, dia 2, que o crime organizado é responsável pelo desmatamento da floresta amazônica.
Segundo ela, informações apuradas pelo Ministério Público Federal revelam “indícios da existência de associação entre os grupos que derrubam a mata e os compradores de madeira no exterior, para onde segue grande parte do produto extraído ilegalmente no território nacional”. As informações foram divulgadas pela Secretaria de Comunicação Social da Procuradoria Geral da República (PGR).
Segundo a PGR, “para reverter o problema, é preciso valorizar o papel do Ministério Público dentro do sistema penal acusatório e investir em mecanismos de cooperação internacional que levem em conta as características de cada tipo de delito, com ações tanto no plano doméstico quanto no internacional”.
As declarações de Dodge foram feitas na abertura da reunião de trabalho entre procuradores do Ministério Público Federal e representantes da Unidade de Cooperação Jurídica da União Europeia (Eurojust).
Verde e amarelo
O presidente Jair Bolsonaro convocou os brasileiros a saírem às ruas no dia 7 de setembro vestindo verde e amarelo para mostrar que “aqui é o Brasil’ e que “a Amazônia é nossa”.
Bolsonaro lembrou que o ex-presidente Fernando Collor também fez um apelo semelhante e “se deu mal” – na época, manifestantes saíram de preto, em protesto ao governo –, mas afirmou que não acontecerá o mesmo agora, por não se tratar da defesa de um governo ou de uma pessoa.
“Mas não é o nosso caso. Nosso caso é o Brasil. Não é para me defender, ou defender quem quer que seja. É para mostrar para o mundo que aqui é o Brasil. Que a Amazônia é nossa.”