Quando o empresário Túlio Borges lançou a pergunta em seu perfil do Facebook, já estava incomodado há anos: “O que aconteceu com a população de pardais de Belo Horizonte que simplesmente desapareceu?”, escreveu. Foi com seu pai que ele se acostumou a ver os passarinhos no bairro Serra, onde cresceu, e também foi com ele que compartilhou, inicialmente, a falta do bicho. 

"Meu pai sempre foi muito observador e comentava comigo das espécies, mostrava sabiá, bem-te-vi. Acabei falando com ele: ‘pai, que coisa estranha, já tem tempo que eu não vejo pardal na rua’, e ele falou que também percebeu isso. Na região Centro-Sul, a gente só vê rolinha e pombo”, diz. 

O fotógrafo Marcelo Prates, que há mais de 30 anos registra em suas andanças os pássaros de BH, também já havia notado o sumiço. “Antes, via bandos grandes”, rememora. “Em 2010, lancei o livro ‘Pássaros da Liberdade’, que conta a história das aves que habitam o espaço urbano da capital, e a capa trazia um pardal pousado num semáforo, como se esperasse o sinal ficar verde. Ele (o pardal) não é bem-visto por muitas pessoas, talvez porque não tem muita cor, mas, pra mim, é um clássico ‘cidadão urbano’, sempre fui fã”, diz. 

O que Borges e Prates notaram não é uma lenda urbana. É real: os pardais estão sumindo, e não só da capital mineira, mas dos grandes centros urbanos no mundo. Os estudos sobre o tema trazem um consenso: a principal causa disso é a verticalização das cidades. 

Arquitetura

Desde que foram introduzidos no Brasil, no início do século XX, os pardais se adaptaram bem a cidades, e não a áreas rurais – fazendo jus ao apelido que Prates lhes deu, de “cidadãos urbanos”. Nesses espaços, encontram fartura de comida. Além disso, seus lugares ideais para ninhos não são árvores, onde teriam que competir com a fauna nativa, conforme explica o professor doutor Luís Fábio Silveira, curador das coleções ornitológicas do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo.

“Os pardais não nidificam (formam ninhos) em locais muito altos, no máximo 6 m de altura. Então, eles costumavam usar beirais das casas ou canos dos sinais de trânsito, lugares que não eram usados pela fauna nativa. Porém, eles foram perdendo esses espaços porque a cidade está com prédios cada vez mais altos e muitos donos de casas tampam os beirais. Os próprios semáforos também tiveram suas estruturas modificadas”, nota.

Nascido em BH, Silveira ressalta, porém, que as alterações na arquitetura não ocorrem de forma unificada: “Em bairros mais antigos, está cheio de pardal, como Santa Tereza, mas no centro e em outros, como Buritis, não tem mesmo”, observa.

Outros motivos são apontados para diminuição desse passarinho, como a falta de terrenos baldios e o maior cuidado com o lixo – fontes de alimentos para eles. “Cada vez mais, os lixos precisam seguir regras nas grandes cidades e já não estão expostos como antigamente. Com isso, existem menos alimentos. Há ainda fatores como aquecimentos das cidades: estuda-se se isso pode estar interferindo na incubação dos ovos, se estão superaquecendo”, explica o médico veterinário da Zoovet Pablo Pezoa, especialista em animais silvestres.

Gavião

Se a notícia do desaparecimento para os que adoram o bichinho é ruim, pelo menos há um alívio: por não serem nativos do Brasil, Silveira diz que o impacto de sua ausência no ecossistema será “zero”.

Nas redes sociais, uma possível causa apontada para que o pardal esteja sumindo de grandes cidades é o aumento de aves de rapina, como gaviões. Porém, especialistas reiteram que a principal justificativa para essa diminuição do passarinho é a verticalização das cidades. “Não há qualquer estudo que mostre um aumento de gaviões em Belo Horizonte. Eu desconheço. O gavião é o predador de pardal, sim, mas com certeza não é ele o motivo para essa redução”, pondera o médico veterinário da Zoovet Pablo Pezoa, especialista em animais silvestres. 

O professor Luís Fábio Silveira, curador das coleções ornitológicas do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, ainda faz outra consideração: “As aves de rapina não escolhem um bicho específico. Se o motivo fosse esse, deveria estar tendo um desaparecimento de todos as aves pequenas na mesmo proporção, o que não foi observado”, diz. 

História

O pardal tem origens que remontam a Europa, Ásia e Oriente Médio. Ele teria sido trazido ao Brasil diretamente de Portugal para o Rio. A ideia era que combatesse a febre amarela, pois imaginava-se que se alimentasse do mosquito Aedes aegypti.