Mundo Pet

Cães-guia: companheiros que fazem toda a diferença no dia a dia

Muito amor envolvido: a parceria entre pessoas com deficiência visual e seus animais comove


Publicado em 28 de abril de 2019 | 03:00
 
 
 
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A analista judiciária Renata Quintão confessa: estava entregando os pontos. Na fila de espera de algumas escolas brasileiras de treinamento de cães-guia, ela percebia que a realização desse sonho seria difícil, por conta da desproporção entre o número de pessoas com deficiência visual e o de cães que, apesar de um esforço hercúleo, essas academias conseguiam formar – muito em função do alto custo do processo.

A luz no fim do túnel veio quando, em 2017, teve a indicação de uma escola americana, a Pilot Dog, de Ohio. Com a expectativa de um ano de espera, Renata nem acreditou quando recebeu a mensagem de que, sim, já poderia ir para os EUA se submeter ao processo de formação da dupla – no seu caso, composta por ela e Thundera, uma charmosa e aplicada pastor-alemão. Afinadíssimas, as duas hoje replicam na capital mineira uma parceria cujos primeiros registros datam da Idade Média, ainda que sem a instrumentalização que só se tornou mais concreta após a Primeira Guerra Mundial, motivada pelo significativo número de combatentes que voltavam para suas casas cegos. 

No último dia 24, esses animais pra lá de especiais foram lembrados no Dia Internacional do Cão-Guia. Thundera, claro, recebeu seu abraço. Da mesma forma, Bia e Naná, as duas guias de Silvio Góis Alcântara, 45 – a segunda, vale dizer, já aposentada. 

Atualmente, vários países dispõem de escolas que preparam cães-guia para auxiliar pessoas com deficiência visual mundo afora. No Brasil, são várias, como a do projeto Cão-Guia de Cegos (DF). “O labrador é a raça mais comum, mas outras também podem atuar nessa função, desde que sejam de médio a grande porte – caso do pastor-alemão, poodle standard ou golden retriever, por exemplo”, conta Maria Lúcia Campos, coordenadora geral dessa iniciativa, que, no caso, tem o apoio do instituto PremieR Pet. Macho ou fêmea, o animal inicia o treinamento por volta dos 4 meses de vida. A primeira fase é a socialização com uma família voluntária. “Depois, com mais ou menos 1 ano e 3 meses, ele retorna ao projeto e passa por um treinamento técnico, que dura oito meses. Com um pouco mais de 2 anos, já está apto a conduzir e ajudar uma pessoa com deficiência visual”, prossegue Maria Lúcia. 

Vale ressaltar que a maioria das escolas brasileiras, hoje, padece da falta de recursos. Não por outro motivo, muitos deficientes visuais recorrem a iniciativas externas. “São locais que costumam receber doações de entidades, como o Lions (nos EUA) ou de empresas privadas. Lá, elas também costumam promover grandes eventos, como campeonatos de golfe, para arrecadar fundos”, explica Renata.

O usuário não paga pelo cão – passa a arcar com os custos de manutenção do animal após a formação da dupla. “Na viagem aos EUA, paguei o visto e a taxa do passaporte”, explica Renata. Mas que fique claro: o cão não é doado, e sim, cedido como num tipo de comodato. “E a instituição se reserva o direito de retomar o cão em caso de mau uso”, acrescenta. 

E o que seria esse mau uso? Por exemplo, se a pessoa não estiver cuidando bem do animal. O que, claro, é uma situação atípica. Aliás, quando um apresentador de TV se referiu a esse tipo de atividade do animal como “trabalho escravo”, houve muita celeuma. “Os cães são muito bem tratados. Trabalham, sim – mas também se divertem”. 
E se aposentam. Nesse caso, o usuário pode ficar com o cão ou ele volta à instituição. Silvio, por exemplo, não quis se desfazer de Naná. E brinca que tem até que tomar cuidado para não colocar a guia nela por engano, já que a cadela ainda se prontifica a acompanhá-lo nas saídas. Hoje, porém, é a labradora Bia que está na ativa.

Na verdade, Silvio teve um primeiro cão-guia, que sucumbiu a um câncer. À época, família e amigos desmoronaram. A esses animais, ele não dedica menos que sua eterna gratidão. “Tive uma melhora significativa na qualidade de vida. Vou a lugares aos quais não ia antes, e com rapidez. Sem contar que eles sinalizam pontos como faixas de pedestre ou escadas. E, se for falar em inclusão social, então... As pessoas se aproximam, se interessam...”, conta. Porém, Renata Quintão adverte: nas ruas, ninguém deve afagar ou alimentar um cão-guia sem consultar previamente o dono. Tampouco distrair a atenção deles, o que pode provocar acidentes. 

Fique atento

Cuidado. Não interaja com o cão-guia sem conversar previamente com o seu tutor. Uma distração pode provocar uma alteração no ritmo do animal e levar a um acidente.

Nunca. Jamais dê alimento ou água ao cão-guia de outra pessoa, mesmo se ele olhar fixo para o que você está comendo num ônibus, por exemplo. A regra vale até para alimentos próprios para cães. 

Dica. Se quiser ajudar o tutor, aproxime-se com calma, para não assustar nem a ele nem ao cão.

 

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