O brasileiro está cansado. A afirmação, que sempre gerou desconfiança entre os cientistas e pesquisadores, foi confirmada por uma pesquisa da Conectaí / Ibope Inteligência. Das 1.499 pessoas que preencheram o formulário online, 98% declararam se sentir um pouco ou muito cansados física e mentalmente.
 

“Houve uma mudança no estilo de vida das pessoas, e elas agora estão trocando qualidade de vida por horas de trabalho”, explica a fisiologista Gerseli Angeli, que participou da elaboração da pesquisa. “Outro aspecto que chamou nossa atenção foi a quantidade de pessoas que já acordam cansadas: 53% dos entrevistados”, revela.

O publicitário Marco Gandini, 32, está entre essas pessoas. “Minha cabeça não para de funcionar, fico pensando o tempo todo. Às vezes, já acordo cansado, acho que por causa dos meus sonhos”, conta. Normalmente, seu dia começa às 5h30, quando acorda, e só termina por volta das 22h, quando vai dormir, depois de já ter trabalhado, enfrentado trânsito e ido à academia. “O que mais cansa é trabalhar sob pressão, porque hoje em dia tudo é ‘para ontem’”, desabafa.

Dos participantes da pesquisa, 70% atribuíram o cansaço ao estresse e à correria do dia a dia. “As empresas exigem cada vez mais competências e habilidades. Além disso, as pessoas são avaliadas na sociedade por uma série de coisas que não eram antes: se são magras, se fazem academia, se são voluntários de uma instituição de caridade. Elas são cobradas dentro da família e do relacionamento. Tudo isso deixa pouco espaço para si mesmo e gera a fadiga”, diz a especialista em aconselhamento de carreira Georgina Alves Vieira.

Já 45% acham que estão sem disposição por falta de condicionamento físico, e não é sem razão. “Temos muito conforto e comodidade, e tudo se resume a apertar botões. Assim, perdemos a proteção e os benefícios que a atividade física nos proporciona”, afirma Gerseli. Esse é, segundo ela, o início do círculo vicioso do sedentarismo. “Quanto menos coisas fazemos, menos queremos fazer. O corpo sabe se é capaz ou não de realizar tarefas. Se ele não tem condicionamento para determinada tarefa, se defende. Aí você vai sentir preguiça, indisposição”.

Mudança. A boa notícia é que, além desse círculo vicioso poder ser quebrado, fazer isso é relativamente fácil. “As duas grandes chaves são uma alimentação saudável e manter o corpo ativo. Não estamos falando de começar a correr maratonas, mas de pequenas mudanças: sair para passear com o cachorro, estacionar longe da entrada das lojas no shopping, trocar as escadas rolantes pelas convencionais, por exemplo”, recomenda Gerseli. Ela ainda completa: “Não adianta uma mudança radical, tem que introduzir novos hábitos aos poucos”.

Assim, de grão em grão, Adelaide Marinho, 51, que trabalha com pesquisas de opinião, está tentando vencer o cansaço. “Estou procurando ter uma alimentação saudável. Não compro congelados, não como frituras, consumo poucas massas”, conta. Há cerca de três meses ela ainda incorporou a meditação na rotina e tem notado as melhoras. “Antes, vivia a mil por hora, não refletia sobre as minhas decisões. Hoje, paro e penso no que vou fazer, se aquilo é o melhor para mim, por que estou tomando certas decisões. Eu me tornei uma pessoa melhor”.
 

Dicas para se cansar menos

Nutrição. Faça uma alimentação balanceada para fornecer todos os nutrientes de que o corpo precisa.

Atividade. Mantenha o corpo ativo: leve o cachorro para passear, prefira as escadas ao elevador, vá a pé à padaria.

Planejamento. Estabeleça metas conscientes para sua mudança de hábitos. Metas muito altas e não realizáveis desestimulam. Faça planos de curto, médio e longo prazo.

Alvos. Foque no que faz realmente a diferença e faça tarefas que geram resultados reais.

Apoio. Elimine reuniões desnecessárias, e crie uma rede de pessoas dispostas a ajudar.

Sinais. Fique atento aos sinais do corpo: obesidade, dores, insônia e irritabilidade são alguns dos indícios de que algo não vai bem.

Fontes: Georgina Alves Vieira e Gerseli Angeli