Sexo

Ejaculação retardada: quando o prazer vira um desconforto

Condição, segundo especialista, não é sinônimo de ausência de orgasmo, mas, se gerar incômodo, pode ser tratada


Publicado em 28 de janeiro de 2022 | 03:00
 
 
 
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Sempre com a sensação de que orgasmo e ejaculação se avizinham, o sexo acontece por horas sem que o ápice do prazer seja alcançado. Com penetração e sem penetração, em posições variadas… Nada parece suficiente. E, de uma atividade prazerosa, a transa torna-se cansativa e até mesmo desconfortável. Com o cansaço, sustentar a ereção passa a ser mais difícil. E, sem o gozo, restam a frustração e a cobrança. Foi mais ou menos assim que pessoas com a ejaculação retardada, ou anejaculação, condição em que dificilmente se chega a expelir o esperma durante o sexo, descreveram suas experiências sexuais em conversa com O TEMPO

O empresário do ramo de ciclismo Arthur*, 30, conta que geralmente passa por situações de constrangimento por não conseguir ejacular em alguns momentos. “Eu nunca chego lá nas primeiras transas com uma pessoa. Não é algo que me incomoda, mas é sempre uma questão tanto para os homens como para as mulheres com quem me relaciono. Fica sempre uma insegurança, como se eu não tivesse gostado, como se eu não tivesse ficado satisfeito”, reconhece, observando que, sentindo-se pressionado, costuma insistir na transa até a exaustão. “Se a ausência de ejaculação não me aborrece, porque acho que o prazer não está limitado a esse momento, essa pressão deixa essas experiências ruins”, comenta. 

Já o analista de comunicação Lucas*, 25, convive com a ejaculação retardada desde que passou a ter que tomar ansiolíticos. “Às vezes, antes de rolar alguma coisa, eu explico que pode ser que eu não chegue a gozar por causa dos medicamentos, até para evitar que a outra pessoa fique frustrada”, expõe. Para ele, a ideia de que o sexo só será completo se a ejaculação acontecer soa equivocada, e o que incomoda mais é justamente a pressão externa para que o ato ocorra. “Já tentei me concentrar para conseguir, mas hoje não faço mais isso. Entendi que, para mim, ao agir assim, o sexo deixa de ser prazeroso e vira só o cumprimento de uma obrigação”, analisa. 

Contudo, ele reconhece que essa condição já o incomodou mais. “Era como se eu nadasse, nadasse e morresse no mar. E como havia a expectativa, como se estivesse quase lá, acabava ficando horas e horas tentando sem conseguir (alcançar a ejaculação). A ereção vinha, eu tentava até me cansar e perder a ereção, que logo voltava e fazia tudo de novo. Depois de um tempo assim, tomei coragem e pedi para o psiquiatra tentar outra medicação, com a qual acabei me adaptando melhor, embora ainda tenha alguns episódios assim”, diz. 

Ex-presidente da Sociedade Internacional de Medicina Sexual, o urologista Luiz Otávio Torres sinaliza que, nos consultórios, a ejaculação retardada – que, cientificamente, é compreendida como ausência de ejaculação após 25 minutos de sexo penetrativo – não é uma queixa comum, e, quando aparece, é geralmente uma reclamação compartilhada a dois. “Muitas vezes, o paciente chega a falar sobre o tema quando é incentivado por sua parceria ou quando se torna algo muito recorrente, gerando frustração”, pontua, detalhando que, em alguns casos, a demora é tamanha que a outra pessoa da relação, se ela estiver sendo penetrada, chega a sofrer microlesões por conta do excesso de fricção. Essa situação aumenta a gravidade do distúrbio, pois lesões nas mucosas genitais ampliam o risco de ocorrência de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). 

O especialista explica que o ciclo do prazer para pessoas com pênis passa pelo estímulo, que leva à ereção e culmina no orgasmo, normalmente acompanhado da ejaculação e subsequente perda da ereção. Entretanto, ele reforça ser importante compreender que orgasmo e ejaculação não são sinônimos e que nem sempre andam juntos. “Um homem pode expelir esperma sem ter tido um momento orgástico, assim como pode ter vivido esse momento sem ejacular – é o que acontece, por exemplo, com homens que passaram por cirurgia de remoção da próstata, no caso de desenvolvimento de câncer no órgão”, explica. Portanto, Torres reforça que a ausência de sêmen não é, em si, um problema. 

Origem

A exemplo dos relatos ouvidos pela reportagem, Luiz Otávio Torres lembra que a maior parte dos casos de anejaculação é provocada pelo uso de determinados medicamentos, sobretudo ansiolíticos e antidepressivos. Vale lembrar que o consumo desses produtos se ampliou 17% no ano de 2020 em comparação com 2019, segundo levantamento do Conselho Federal de Farmácias. Fatores psicológicos e ambientais, como estresse e ambientes estressores, também aparecem entre as causas do distúrbio, que pode ser provocado por traumas e crenças limitadoras, que geram sentimento de culpa ou excesso de ansiedade.  

No caso de pessoas que estão em um relacionamento, a ejaculação retardada pode ser sintoma de uma crise conjugal. “Se o sujeito não se sente à vontade, se está tendo aquela troca por obrigação, chegar ao orgasmo tende a ser mais difícil”, comenta. Por fim, ele pontua que, em apenas 5% dos casos, a causa pode estar associada à perda de testosterona. 

Curiosamente, o urologista relata que muitas pessoas que não conseguem atingir o orgasmo e a ejaculação durante o sexo conseguem chegar lá por meio da masturbação. “Isso pode acontecer porque, na estimulação manual, esse homem consegue exercer pressão e alcançar uma velocidade de estimulação que ele não conseguiria de outra maneira”, comenta.  

Tratamento 

Luiz Otávio Torres destaca que o uso de medicamentos não deve ser suspenso por conta própria em hipótese nenhuma. “O que se pode fazer é comunicar o psiquiatra sobre o problema, buscando recalibrar a dosagem do fármaco ou substituir aquele rótulo por outro”, aconselha, lembrando que a anejaculação pode ser passageira. “Com o tempo, à medida que o organismo do indivíduo se acostuma com o remédio, a situação pode se normalizar”, avisa, sugerindo paciência e diálogo nesse momento de adaptação. 

Para aqueles que estão tendo perda de testosterona, normalmente homens com mais de 40 anos, a reposição hormonal, com devido acompanhamento médico, pode ser uma saída. 

“No caso de pessoas que desenvolveram o quadro por causa de fatores como estresse e ansiedade, o melhor caminho é a psicoterapia com profissionais especializados na temática da sexualidade”, indica, lembrando que a terapia de casais é uma opção para os que estão enfrentando dificuldades por causa de uma crise na relação. 

*Nomes fictícios a pedido dos entrevistados

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