Jovens estão mais propensos a perceber a depressão como um tabu do que pessoas mais velhas. É o que indica uma pesquisa do Ibope divulgada ontem. Se recebessem diagnóstico de depressão, 22% dos brasileiros em geral não ficariam à vontade para comentar o assunto com a família, segundo o levantamento. Esse número mais que dobra quando se avalia a faixa etária de 18 a 35 anos (55%). O percentual também é mais alto entre adolescentes de 13 a 17 anos (39%).
Pensar que os familiares achariam que a pessoa só quer chamar atenção, ter vergonha de admitir a doença e sentir medo de atrapalhar são as principais causas para o silêncio. A professora Luciana Araújo, 44, foi diagnosticada com depressão aos 29 anos. “Tenho uma tia que compreende bem porque tem uma irmã com um caso sério da doença, mas a maioria das pessoas não entende, acha que é frescura”, diz.
Luciana se trata com remédios desde o diagnóstico e diz nunca ter hesitado em tomá-los. A atitude, no entanto, não é uma realidade para todos: 38% dos adultos de até 34 anos não usariam antidepressivos mesmo orientados por médicos.
A falta de adesão ao tratamento é uma das preocupações dos psiquiatras - uma reportagem de O TEMPO mostrou que sete em cada dez pacientes abandonam os remédios até o terceiro mês de uso, enquanto alguns médicos recomendam que ele se estenda por pelo menos nove meses.
Menos da metade dos entrevistados sabe que depressão é um transtorno mental. Uma parte deles nem sequer acredita que se trata de uma doença de fato. E 49% dos que têm entre 18 e 34 anos a consideram uma “doença da alma”. Entre os adolescentes, a taxa fica em 15%, a mesma da registrada entre as pessoas com mais de 55 anos.
Família
A depressão tem um componente genético, segundo a psiquiatra Sheila Caetano. Para 46% dos entrevistados pelo Ibope, porém, é um mito que o histórico familiar da doença favoreça o diagnóstico. Quem mais tem essa percepção são os adolescentes – eles somam 50%.
Sheila alerta que pesquisas mostram que até 8% dos adolescentes podem ter a doença. Ela explica que não se trata de tristeza passageira ou timidez, mas uma tristeza patológica, que altera a funcionalidade – como queda brusca de notas.
“E, sem tratamento, a pessoa passa a infância e a adolescência depressiva e, quando crescer, vai achar que é naturalmente assim. Há inclusive diminuição do hipocampo, região do cérebro que regula memória e emoções”, diz.
Suicídio fora de discussão
Em Belo Horizonte, 51% dos entrevistados declaram conhecer alguém que cometeu suicídio. A taxa é mais alta do que a média – pouco maior de 25% – de outras capitais pesquisadas (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Fortaleza e Brasília). Ainda assim, o assunto é tratado como tabu no Brasil e precisa ser discutido mais abertamente, para 22% das pessoas. Buscar suporte profissional é o primeiro conselho que dariam a um conhecido com ideação suicida.
A quem recorrer
A ajuda psiquiátrica ocupa o terceiro lugar na lista do que os entrevistados fariam caso fossem diagnosticados com depressão. Antes, eles procurariam um psicólogo e, em seguida, amigos.