Na última segunda-feira, os termômetros de Belo Horizonte registraram a temperatura mais alta deste começo de 2020: 34,3ºC, e a previsão é que a onda de calor continue até sexta. Na capital do Rio de Janeiro, o último fim de semana também chamou atenção, com sensação térmica acima de 50ºC. Não se trata de dois casos isolados: a temperatura global aumentou 1ºC desde o século XIX.
No dia a dia, esses fenômenos costumam ser explicados pela chegada e partida de frentes quentes ou frias, além do calor característico do verão. Mas, segundo Raoni Rajão, professor de gestão ambiental e estudos sociais da ciência e tecnologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), as mudanças climáticas globais têm um dedo nessa história, pois representam alteração nesses padrões em médio e a longo prazo, trazendo picos extremos de alta e baixa temperatura.
“A maior frequência de muita chuva caindo em pouco espaço de tempo e picos de calor estão acontecendo em todo o mundo. Em Belo Horizonte, não é diferente”, observa.
Ele calculou a quantidade de dias acima de 32ºC na cidade desde os anos 80. A temperatura representa um patamar “de conforto”. E, a depender dos cálculos, BH tem se tornado cada vez mais desconfortável. Só até novembro de 2019, o ano havia registrado mais de 40 dias com pico de temperatura acima dos 32ºC. Globalmente, foi o segundo ano mais quente da história, atrás apenas de 2016.
“Era raro você ter um ano com muitos dias nessa temperatura nos anos 80 e 90. Há dois anos em cada uma dessas décadas com mais de 20 dias nessas temperaturas. Não se sofria com calor em BH. Hoje, já se sofre”.
Influências
Lizandro Gemiacki, coordenador do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) em BH, lembra que outras mudanças na cidade combinam-se ao cenário mundial nas alterações da temperatura.
“É complicado separar o que acontece globalmente das mudanças locais, como impermeabilização do solo, construção de prédios e expansão da cidade”, pontua. “Uma característica típica, que não era observada até a década de 80, é o veranico, aquele período sem chuva na estação chuvosa com temperaturas muito mais altas”.
No mar
Se BH, como outras cidades do mundo, realmente sofre com o aquecimento global, uma das evidências está nos oceanos.
Um estudo publicado ontem na revista “Advances in Atmospheric Science” mostrou que eles tiveram o ano mais quente desde 1940.
Os mares são um indicativo da elevação de temperatura da Terra, pois absorvem cerca de 90% do calor gerado pelos gases do efeito estufa. “Os oceanos são o que realmente dize o quão rápido a Terra está se aquecendo”, disse o professor norte-americano John Abraham, um dos 14 cientistas que assinam a pesquisa, ao jornal “The Guardian”.