Desde quando era adolescente, a analista de marketing Úrsula* sabia que era uma pessoa sexual e – mais ainda – alguém que gostava de um sexo mais verbalizado. “Mas na época eu ainda ficava com medo de ser ofensivo, me sentia mal por gostar disso”, recorda. Tanto que, nas primeiras relações sexuais, ela optou por não dizer nada. Tudo mudou numa transa com o primeiro namorado. “Ele me chamou de ‘cachorra’ ou ‘safada’, não me lembro direito, mas eu achei uma delícia e quis mais”, conta ela, recordando que se expressou e disse ao namorado, na época, que gostava daquilo. Úrsula também o avisou quando os adjetivos ultrapassaram os limites e a deixaram desconfortável. “Quando ele me chamou de ‘puta’, eu disse que não”. 

Agora, anos depois, a analista de marketing se sente ainda mais confortável e segura com suas preferências. “Hoje só não me chamam de ‘feia’, ‘desempregada’ e coisas do tipo”, brinca. “Gosto de ser xingada, mas em um sentido específico. Gosto de xingamentos que são usados para mulheres que transam bem, que gostam de transar muito. Eu gosto de abraçar esse julgamento que a gente sofre quando estou ali no sexo. Eu sou safada mesmo, sou gostosa, cachorra”, afirma. 

A fala também é bem-vinda quando ganha um apelo mais descritivo. “Gosto da pessoa falando do meu corpo, falando sobre como é gostoso estar ali”, diz. Mas tudo com equilíbrio. “Não gosto quando se exaltam demais”, pontua.

Úrsula não está sozinha em suas preferências. Um estudo conduzido pelo site Superdrug Online Doctor – que ouviu 990 participantes nos Estados Unidos e na Europa, com idades entre 18 e 83 anos – demonstrou que 90% dos entrevistados se sentem excitados pela conversa erótica com seus parceiros.

Embora 7 em cada 10 entrevistados tenham confirmado que tiveram conversas picantes durante as relações sexuais no último ano (o estudo foi divulgado em 2020), a maioria deles tende a ficar mais excitada ao ouvir o que os outros dizem durante o sexo. 

Outro estudo, este feito com 2.000 pessoas pela loja de brinquedos eróticos EdenFantasys.com, mostrou que a maioria das pessoas (76% dos participantes) gosta que seus parceiros digam coisas que lhes deem segurança na cama. Elogios quanto ao desempenho e até mesmo confirmações sobre as ações feitas durante o sexo são apreciadas. 

Não existe regra

Embora existam preferências que acabam sendo comuns para a maioria das pessoas, a sexóloga Enylda Motta ressalta que não há regras quando o assunto são conversas mais picantes. “O que existe é a vontade de cada um, a liberdade sexual que cada pessoa tem na cama. A partir disso, a comunicação acontece, podendo ser verbal, não verbal ou usando os cinco sentidos, por exemplo”, diz. 

É justamente por não haver regras específicas que ela ressalta a importância de se observar como cada pessoa reagirá e vai se sentir ao falar ou receber o que lhe foi dito. “Quando tem um incômodo, o ideal é verbalizar isso, dizer que gostou ou não gostou, que se sentiu mal ou que gostaria de continuar falando e que foi muito bom. A fantasia sexual faz parte da relação e, sendo permitida pelos dois lados, está tudo ok”, afirma. “Para apimentar a relação, uma dica é justamente falar, colocar as fantasias na cama, pode ser através de uma história criada na hora, um conto erótico que foi lido, algo que aconteceu ou viu durante o dia, existem varias possibilidades, o ponto central é usar a criatividade”, acrescenta.

A sexóloga Allys Terayama reforça o coro, ressaltando que fantasias e fetiches são sempre bem-vindos e que podem ajudar a tornar a relação mais prazerosa. “É bom levar para um lado mais lúdico para explorar isso. A pessoa pode se fingir de enfermeira, por exemplo, usar termos de hospital. Não tem problema mergulhar na fantasia, desde que os parceiros se sintam confortáveis”, diz.

Segundo a especialista, é preciso haver um cuidado especial com a conduta. “Não podemos expor as pessoas a algo que as deixa desconfortáveis”, afirma Allys, destacando a importância do consentimento em todas as ações. Buscar entender o que o parceiro gosta e aquilo que ele não gosta também é necessário. “Quando há o elemento surpresa, e você saiu com uma pessoa, sentiu o desejo de transar, procure conversar antes para saber o que lhe agrada. Cinco minutos de conversa não vão tirar o tesão de ninguém”, recomenda.

*Nome fictício