Esotérico

Os ensinamentos do druidismo trazidos à luz do tempo atual

O espiritualista e escritor Yuri Levy resgata saber ancestral para os dias de hoje


Publicado em 09 de fevereiro de 2021 | 03:30
 
 
 
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O que Helena Blavatsky, Allan Kardec, Léon Denis e Rudolf Steiner tinham em comum? Um passado como druidas. E é desse lugar também que parece ter vindo Yuri Levy, 30, sagitário, ascendente em libra, educador, formado em pedagogia pela Unicamp e especialista na cultura da ioga pela Universidade Livre para a Consciência.

Palestrante desde os 16 anos, é criador do canal de espiritualidade Atma Vidya, no YouTube e tem dez livros publicados, entre eles “Eco dos Druidas: A Volta dos Anciões” (2019), ditado pelo espírito Nolando.

“Cresci num ambiente em que a espiritualidade era muito forte. Meu pai teve desenvolvimento mediúnico com Chico Xavier, e minha mãe também era muito engajada. Na infância queria brincar, mas tinha que fazer o evangelho no lar. Eu dizia que tinha sido um bardo (músico e poeta druida) numa vida passada perto do país de Gales”, relembra Levy.

Na pré-adolescência, o espiritualista começou a ter algumas percepções mais fortes e nítidas. “Aquilo mexeu muito comigo, eu queria negar. Na verdade, a mediunidade é muito poética quando você lê a respeito, mas na real, quando eu tinha 13, 14 anos, passei a ter uma percepção que era contínua, envolvia certos casos de assédio espiritual. Queria me livrar daquilo. Eu era muito cético, mas, quando fiquei mais equilibrado, entendi que aqueles seres queriam o meu bem e, para me acalmar, eles falavam sobre coisas a que eu não tinha acesso, davam nomes, datas e previam acontecimentos”, diz.

Com o auxílio da família, o médium fez tratamentos e educou sua mediunidade em centros espíritas. “A coisa foi tão intensa que aos 16 anos eu já estava dando palestras. Com o tempo fui me desvinculando da necessidade de um rótulo, achava que limitava meu trabalho. Não gosto muito de dogmatismos. O pouco que aprendi com o plano espiritual é que a religião deles é o amor”, ressalta.

Levy conheceu a meditação. Chegava da escola e passava horas meditando em um bosque próximo à sua casa. “Colocando tudo isso em perspectiva, a mediunidade me colocou em contato com um mundo mais transcendente, a meditação me colocou em contato com a realidade absoluta com a causa incausada’, diz.

Já adulto, ele foi estudar sobre o druidismo. “Percebi que aquilo que eu achava que era só um esoterismo natural tinha uma filosofia muito profunda, eram conceitos que me lembravam o budismo e o vedanta, só que de forma mais ocidentalizada e relacionada com a natureza. Aí comecei a investigar a ancestralidade que fazia parte da minha vida e que me vinculava a essa tradição”, comenta o espiritualista.

O druidismo deu a ele o entendimento da importância do equilíbrio. “Aí aprendi sobre o mundo extrafísico, expansão da consciência, contato com a unidade, a realidade maior”, revela Levy. Mas gerou questionamentos. “Porque estava buscando o sagrado no transcendente e estava falhando em me alinhar a ele no imanente? Porque buscava o Criador, mas tentava me dissociar de sua criação?”.

Nesse momento veio a grande sacada do druidismo: a ecoespiritualidade. “Como as pessoas podem adorar o Criador e destruir sua criação? Estamos buscando a espiritualização, e ela inspira em nós ações de serviço, de ajuda a humanidade, mas nos esquecemos de proteger a base que nos sustenta: o planeta. O druidismo nos ensina que o divino está no transcendente, ele é absoluto, inefável, mas, enquanto não conseguirmos ver Deus, a Mãe Divina, podemos ver o sagrado em uma folha e experienciar o sentido da comunhão”, comenta Levy.

O druidismo traz esse relembrar ancestral para os tempos que estamos vivendo. “Estamos saturando o planeta com desmandos. Nunca se falou tanto em espiritualidade, mas e aqui? Tem uma frase da minha companheira, Paola Aniello, que resume tudo isso: ‘O paraíso não é feito só de céu, é feito de terra também’”. “Enquanto eu não conseguir me conectar com esse paraíso aqui, vibrar em ressonância com a pujança da vida sagrada neste mundo, estarei me dissociando do processo aqui, na Terra. Uma hora temos que sair do mundo mágico e lavar a louça”, reflete o espiritualista.

Para Levy, a principal contribuição do druidismo não são os conceitos metafísicos, mas como ele se apresenta como um paradigma. “O druidismo é muito mais um estilo de vida do que um dogma. Ele traz princípios e valores afirmativos à vida no sentido de nos alinhar numa perspectiva existencial, espiritual e pessoal”.

“É uma forma de integrar, de fato, a espiritualidade com a vida na Terra. Será que estou vivendo uma vida na Terra que é coerente com meu ser espiritual, não no sentido romanceado, fantasioso? Como eu utilizo minha conexão espiritual para me responsabilizar e ser um fator de harmonia no meio em que vivo?”, questiona.

A proposta para a vida humana é exuberar

O espiritualista Yuri Levy não tem dúvidas de que o que mais precisa de cura neste momento é o ser humano. “Não esse ser humano que quer desfazer-se de si próprio e virar anjo, santo, um dia. Estamos humanos, e a questão é: como posso viver de forma a honrar essa existência e, a partir disso, possa transbordar um pouquinho em harmonia?”, pondera.

O druidismo também traz o conceito de “awen”, o espírito que flui, a inspiração espiritual poética. “Precisamos entender esse espírito, toda a pujança da vida, essa consciência absoluta, o ir além do ego para que a vida flua através de nós. Quando deixo meu ego de lado, eu entendo naturalmente que vou fazer para o meu próximo o que eu quero que ele faça para mim, não porque eu seja um santo, mas por uma questão de equilíbrio”, propõe Levy.

Awen, diz ele, é quando o indivíduo se conecta a uma dimensão sagrada da vida, mas permite que ela transborde a partir de si. “É a conexão com a vida por meio desse fluxo de sacralidade e plenitude. A proposta de awen é que, quanto mais eu me conectar com a dimensão do sagrado, mais essa experiência poderá ser sintetizada no meu nível da personalidade. Ao invés de fugir da vida, ela faz com que eu me conecte mais com as pessoas à minha volta, com as necessidades do mundo. Traz a responsabilidade espiritual para o mundo”.

Levy explica que, quando o indivíduo consegue ser grato pelo paraíso que já existe aqui, ele cria uma liberdade. “Mesmo que ele esteja no corpo, fora dele, na Terra ou onde estiver, aquilo vai com ele. O grande trunfo do druidismo é contemplar o apelo estético da vida, que não é só bom, mas bonito. A natureza exubera. A proposta para a vida humana é também exuberar. Estamos aqui para florir, e não apenas para sermos punidos, pagarmos carma”, alerta. (AED)

A comunicação com o mundo espiritual

O primeiro contato com Nolando, o mentor espiritual que ditou o livro “Eco dos Druidas: A Volta dos Anciões”, se deu há quatro anos, e todos os direitos autorais desse e de outros livros psicografados são destinados ao Santuário Vale da Rainha, em Camanducaia, que acolhe animais maltratados pelos seres humanos.

“Estava fazendo faxina e percebi uma luz que tocava o teto e me emocionava. Veio uma presença luminosa, e tentei entender quem era. Ele se apresentou dizendo que tinha uma ligação que remontava aos celtas, aos druidas, e que era para chamá-lo de Nolando. Perguntei onde ele teria tido aquela experiência como druida, no que ele respondeu que seria um lugar que ficou conhecido depois como Caledônia”, conta Yuri Levy.

Pesquisando, o médium descobriu que o nome Nolando vem de uma palavra gaélica e que Caledônia era o antigo nome da Escócia. Aí surgiu o projeto do livro psicografado, trazendo alguns elementos ancestrais do druidismo à luz dos dias de hoje. “A ideia é mostrar como essa sabedoria celta resgatada em seus princípios e valor e pode ser aplicada nos dias de hoje, nos ajudar muito neste momento de transição”, diz.(AED)

O sentido de conexão com toda a teia da vida

Os druidas viviam em comunhão com a natureza, e esta tem sido a opção de Yuri Levy. “Quanto mais eu vivo essa experiência, menos fascinação eu tenho para querer deixar o corpo e viver no mundo espiritual. Porque estamos com uma consciência tão dissociada da vida, da natureza e de nossa manifestação humana que queremos buscar o divino somente depois da morte? Isso tem causado uma morte em vida em muitos de nós. Estamos vivendo de forma automática, superficial robotizada, ególatra. O que estou fazendo da minha vida que estou me distanciando tanto desse princípio de sacralidade que eu preciso imaginar que o paraíso é só lá na frente, sendo que ele está aqui e eu não estou sintonizado?” são questionamentos druídicos.

As pessoas acreditam que o druidismo tem muitos rituais, que é preciso acender um caldeirão. “A tradição druídica é um modo de pensar e agir espiritualmente e materialmente na vida. Aprendi que, se hoje quero fazer um ritual para atrair energia boa, eu não acendo o caldeirão, eu faço um café e chamo minha família para contar piada, dar risadas. Este é um ritual que me conecta mais aqui. Vejo a preciosidade da família e que o estado de comunhão é esse em que eu me expando além de mim para existir em conjunto com outras pessoas em sintonia de amor”, revela Levy.

O druidismo oferece um sentido de conexão com toda a teia da vida. “É quando olhamos para a natureza, as árvores, os rios, as flores e deixamos de interagir com aquilo apenas no sentido de usufruto. Qual a finalidade que aquilo tem para mim? Não, aquilo não tem uma finalidade em si, é a sacralidade da vida se manifestando, e posso viver em harmonia com ela. Quando eu começo a buscar essa harmonia dentro de uma proposta espiritual, percebo que a ganância é do humano e a abundância é da natureza. A simplicidade é abundante, e a natureza é uma riqueza. A gente se sente farto”, comemora Levy. (AED)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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