Um burburinho que alcançou larga repercussão nas redes sociais dava por certo que a atriz Bruna Marquezine estaria engatando um relacionamento com o empresário Enzo Celulari. O suposto namoro, caso se tornasse público, seria o primeiro desde que ela e Neymar Junior se separaram, em 2018, depois de idas e vindas.
Também seria o primeiro relacionamento do filho de Claudia Raia e Edson Celulari desde o término com a bilionária Victoria Grendene, em fevereiro deste ano.
O possível romance não foi a única história do mundo das celebridades a se tornar pauta nacional recentemente. Alvo de uma enxurrada de manifestações misóginas, Luísa Sonza foi acusada de, enquanto era casada com o youtuber Whindersson Nunes, ter tido um caso com o também cantor Victor Carvalho Ferreira, conhecido como Vitão, com quem estaria morando depois de ter se divorciado, em abril.
"Boataria” e “maledicência” são alguns dos termos que podem descrever situações que, como as mencionadas, envolvem um caleidoscópio de nomes e circunstâncias que exigem alguma atenção para que não se perca o fio da meada. Indiferentemente se verdade ou mentira, o fato é que a cada semana pelo menos uma conturbada história do universo dos famosos engaja um sem-número de pessoas que dedicam horas de seus dias para compreender a história e que, muitas vezes, se mobilizam nas mídias digitais para defender seus favoritos na trama.
Uma tendência de comportamento que pode ter sido acentuada neste período de quarentena. Colunista de celebridades do jornal fluminense “O Dia”, Fábia Oliveira é testemunha da escalada de acessos de notícias afins: no último mês, seus artigos foram visualizados pelo menos 33 milhões de vezes.
E se, no fim das contas, trocam-se os nomes e mantém-se a prática, fica a pergunta: que mecanismos estão por trás da fofoca e que fazem do hábito algo tão irresistível?
“O principal apelo é o do entretenimento”, sustenta Fábia. “A gente tem curiosidade desde sempre pela vida do outro, pelo que a vizinha está fazendo, por saber como está a construção do prédio...”, pontua, classificando-se como uma “fofoqueira raiz”. “Eu, antes do colunismo de celebridades, fazia fofoca de quem quer que fosse. Mas a falação nem sempre é do mal, para deixar alguém para baixo: falar do nascimento de uma criança, por exemplo, também é fofoca”, aponta a jornalista.
Já a psicóloga clínica e especialista em análise do comportamento Andréa Viana, para melhor analisar o fenômeno, busca identificar a prática em um contexto: “A fofoca é também uma forma de obter informações que vêm atravessando gerações e gerações. Talvez as nossas grandes descobertas e grandes estudos tenham começado através desse ‘disse me disse’. É possível, portanto, atribuir um caráter cultural ao mexerico”.
Ela pondera, no entanto, que a prática está também predominantemente associada a um caráter mais nocivo, em que o objetivo é causar prejuízo à imagem de alguém ou de algum espaço. A partir de sua experiência clínica, Andréa lembra que a vítima, ao ser alvo de conversinhas, mesmo que soem inocentes, pode passar a relatar certo sofrimento psicológico.
Vale ressaltar, aliás, que nenhuma das hipotéticas histórias de amor que abrem a reportagem foi confirmada pelos envolvidos, o que não impediu que os assuntos escalassem e ficassem entre os mais comentados no tribunal da internet. E ainda que tudo não passe de um mal-entendido, Luísa e Vitão já sofrem consequências da exposição: eles lançaram juntos o clipe “Flores”, que acumulou mais de 4 milhões de dislikes em uma semana.
Sensação de pertencimento
Mesmo causando mal-estar, o que faz que a bisbilhotice seja tão aceita e generalizada? “Talvez seja um grande motivador para a fofoca esse mecanismo do pertencimento, em que, para se sentir membro de uma cultura, reproduzimos comportamentos tais quais observamos”, analisa Andréa Viana. Assim, “se vejo que meus pares estão trocando segredos alheios, para me sentir pertencente, posso me expressar a partir de receber muito bem essas histórias ou de praticar ativamente a fofoca, falando também da vida do outro”, resume.
O mesmo mecanismo, por um outro viés, ajuda a explicar a larga audiência atraída por notícias dos bastidores do mundo das celebridades. “É algo que vem do impulso de tentar trazer para mais perto de nós essas pessoas. É como se, ao falar e ao tomar mais conhecimento da intimidade alheia, a gente se aproximasse desse segmento da sociedade a que temos acesso apenas pelas redes sociais e que pensamos ter uma vida muito diferente da nossa”, sinaliza.
Por sua vez, Fábia Oliveira acredita que o grande barato das histórias secretas das celebridades é que elas ajudam a desmistificar a ideia de que possuem uma vida perfeita. “Quando uma pessoa vê que o (ator) Cauã Reymond e a (atriz) Grazi Massafera, que pareciam o casal modelo, se divorciaram, pode ser que se sinta melhor com a própria separação. Há uma identificação em saber que a vida deles não é um comercial de margarina”, opina.
Fábia acredita que há um caráter informativo e até mesmo formativo no universo da fofoca. Recentemente, ela repercutiu que os insultos da ex-jogadora de vôlei Ana Paula Henkel àqueles que dela discordam politicamente nas redes sociais tinham virado caso de polícia.
No Instagram, a ex-atleta se excedeu e partiu para ataques homofóbicos contra um seguidor, que abriu queixa contra Ana Paula. É a partir desse conteúdo que alguns usuários vão descobrir que a homofobia é tipificada como crime – conforme decisão em plenária do Supremo Tribunal Federal (STF), de junho do ano passado, que passou a enquadrar a LGBTfobia como crime de racismo ao reconhecer omissão legislativa sobre o tema.
“Cobrir política é ser fofoqueiro”
Existe um tipo de mexerico que, aliás, vem sendo orgulhosamente consumido: a fofoca política. Nesta semana, por exemplo, viralizou a notícia de que Frederick Wassef, ex-advogado do senador Flávio Bolsonaro, estaria causando preocupação a pessoas próximas. Ocorre que, desde a prisão Fabrício Queiroz, ex-assessor do filho do presidente Jair Bolsonaro, encontrado pela polícia em uma casa que pertence ao próprio Wassef, o advogado estaria chorando e se mostrando agitado.
“Cobrir política é ser fofoqueiro. Divulgar o que a pessoa quer ser divulgado é um trabalho, mas divulgar o que a pessoa não quer é um trabalho jornalístico. É muito bom ter uma imprensa livre no nosso país. Importante ter jornalistas de fofoca. Eu acho que meu trabalho não é menor do que de qualquer fofoqueiro de político – embora ache que eles não vão gostar de serem chamados assim”, brinca Fábia.
Não por acaso, a chegada de Leo Dias a Brasília causou alvoroço. O jornalista se iniciou na cobertura política recentemente, depois do entrevero – agora judicial – entre ele e a cantora Anitta. O episódio é lembrado por Fábia como “desnecessário”. “Achei que o Leo errou ao expor ela, que era a fonte dele. Estou falando sobre ética, sobre o dever jornalístico de sempre resguardar a fonte”, critica.