Foi a partir de um episódio familiar que o rabino uruguaio Gabriel Benayon, hoje morando no Panamá, começou a apresentar os primeiros sintomas de ansiedade. “Eu tinha 21 anos e acabara de receber a notícia de que minha irmã teria que enfrentar uma operação para a retirada de um tumor. Tudo ao meu redor parecia muito estranho, como se estivesse vendo um filme projetado, do qual eu fazia parte. Sentia um vazio na minha alma e mente, como se estivessem em branco. Sofria mudanças bruscas na temperatura corporal, suava de forma extrema e tinha falta de apetite”, recorda-se o rabino.
Um psiquiatra receitou um medicamento, e Benayon resolveu retornar para a casa dos pais, em Montevidéu. “Aquela foi uma das experiências mais desafiadoras que já vivi. As pílulas deixavam-me desorientado e aturdido, mas não combatiam os sintomas. Meus pais me levaram a outro médico e, quando eu saí da consulta, meu pai pediu que eu lhe entregasse a receita e a jogou no cesto de lixo”. Ele disse: “Gabriel, você não vai tomar absolutamente nada. A cura que você necessita deve vir de você”, relembra Benayon”.
Para superar o transtorno de ansiedade, o rabino adotou a filosofia chassídica denominada “Eisech HaDaat”, que significa “remover a atenção”.
“Essa é considerada a prática ideal para se livrar dos medos associados à ansiedade que, quando é circunstancial, começa com preocupações e pensamentos obsessivos e negativos, que depois se transformam em sentimentos negativos e posteriormente em sintomas”, comenta o rabino.
A sabedoria chassídica ensina que os sentimentos nascem do pensamento. “A atenção que colocamos neles produz sentimentos mais intensos e os fortalece. Por conseguinte, ao remover nossa atenção, cortamos o cordão umbilical que os alimenta e drenamos sua vitalidade até conseguir que se debilitem e desapareçam por completo”, ensina Benayon.
Superação Após enfrentar de frente a ansiedade, o rabino decidiu compartilhar seus ataques de pânico e mostra como os ensinamentos da mística judaica e a cabala foram essenciais para que ele superasse essa fase.
O resultado é o livro “Da Minha Ansiedade a sua Felicidade”, que traz 13 capítulos com dicas e sabedoria judaica para o processo de cura.
“A cabala e a Torá ensinam como nossa estrutura cognitiva, emocional e espiritual é composta. Dessa forma, conhecendo a nós mesmos, podemos entender o processo de cura de dentro para fora”, explica Benayon. Ele diz que, à medida que a ansiedade cresce e se converte em um Golias, aparentemente indestrutível, a pessoa se sente diminuída, pequena e insignificante. “O primeiro passo é trazer Deus para perto de você e ter plena consciência de Sua existência e Sua proteção e, dessa forma, o gigante se converterá em anão”, ensina.
Ele considera que a fé em Deus é essencial em qualquer tipo de tratamento e processo de cura. “A fé ajuda a criar a força positiva para que a pessoa possa encontrar a luz dentro da escuridão e transformar a amargura em doçura. Uma boa atitude é o positivismo, que nos ajuda a encontrar oportunidade inclusive naquilo que é aparentemente mal”.
O rabino revela que a ansiedade ataca os órgãos que abrigam a alma e que para curar a alma é preciso curar a respiração: “A respiração e a alma estão ligadas intimamente. Respirar bem é liberar a alma do exílio do estresse. Técnicas de respiração adequadas ordenam a alma para livrar o corpo do mal-estar generalizado”.
É preciso desafiar os temores de frente
Ataques de pânico geram medo. “Assim que iniciam, um desmoralizante temor nos inunda e nos perguntamos com ansiedade se aquele será o primeiro de muitos mais. Na realidade, os ataques se originam na cruel manipulação do nosso yetzer hará (instinto negativo), que utiliza todas as táticas a sua disposição para engendrar em nós o medo e paralisar nosso crescimento”, analisa o rabino Gabriel Benayon.
Na filosofia chassídica se diz que “um pouquinho de luz desloca muita escuridão”. “O mesmo ocorre com os ataques de pânico: eles somente podem existir na escuridão, mas quando incrementamos a luz do nosso verdadeiro ser, os anulamos por completo. Quando você desafiar os temores que te atacam com certo grau de ousadia, eles tentarão aumentar sua força, se alçarão cada vez com maior intensidade e tratarão de afugentar sua valentia”, comenta o rabino.
Nesse momento não há outra saída possível. “Enfrente os temores com firmeza e você verá como eles fogem apavorados. É fundamental que você tenha consciência de que esses medos não são seus. A única forma de enterrar o mal-estar é adotar uma atitude audaz e perseverante”, aconselha o rabino.
“Da Minha Ansiedade a sua Felicidade”
Rabino Gabriel Benayon, Editora Ibrasa
204 páginas
R$ 49
A jornalista Ana Elizabeth Diniz escreve neste espaço às terças-feiras. E-mail: anabethdiniz@gmail.com