Rio de Janeiro. As queimaduras sofridas em várias partes do corpo por uma menina de 1 ano e 7 meses na semana passada, na praia do Leblon, na zona Sul do Rio de Janeiro, alertaram para um risco enfrentado por banhistas, principalmente no verão: o choque com tentáculos de águas-vivas e caravelas.
A criança estava na beira d'água com o pai e teve 50% do corpo afetado. Em relato no Facebook, a mãe contou que uma enfermeira precisou pedir vinagre em um bar em frente ao hospital.
“Apesar do enorme risco de choque anafilático e outras graves consequências, minha filha hoje, ainda em observação, medicada e sendo monitorada pelo Centro de Intoxicação do Rio, passa bem e provavelmente não terá sequelas”, disse Alessandra Veiga Martins.
Ela usou o seu perfil na rede social para alertar sobre erros no procedimento em caso de acidente. “O mais importante nessa história é conhecer o que deve e o que não deve ser feito quando alguém for atingido por essa espécie. O sofrimento da minha filha foi imenso, mas ela teve o socorro médico adequado e imediato, e o fato de ter sido retirada da praia do jeito que estava, sem ter sido passado algum tipo de ‘achismo’ sobre a sua pele, a não ser o vinagre no hospital, fez com que essa pseudotragédia tivesse um fim para lá de feliz”, analisou Alessandra.
“O simples gesto de lavar a criança no chuveirinho da praia, por exemplo, poderia ter mudado drasticamente esse quadro”, contou a mãe.
Águas-vivas e caravelas são animais peçonhentos de corpo gelatinoso que utilizam os tentáculos orais para caçar suas presas, principalmente larvas, crustáceos e peixes. “Esses tentáculos possuem milhões de células denominadas nematocistos, contendo um fio tubular enrolado, que é projetado para fora, e um líquido peçonhento que pode, em função da espécie, provocar grande irritação, intensa sensação de queimadura e paralisia do sistema nervoso central. De quatro tipos, apenas dois deles são capazes de provocar lesões no homem”, diz o biólogo Marcelo Szpilman, diretor do Instituto Ecológico Aqualung.
Esses animais são perigosos mesmo depois de mortos, alerta o biólogo. “Ao perceber a sensação de queimadura, a vítima deve se esforçar ao máximo para se manter calma e conseguir sair da água o mais rápido possível, devido ao risco de choque e afogamento, sem, porém, tentar remover com as próprias mãos os tentáculos aderidos. Somente após chegar à terra firme, é que haverá a necessidade da remoção cuidadosa dos tentáculos aderidos à pele, sem esfregar a região atingida, o que só pioraria a situação”, acrescenta Szpilman.
Como proceder em caso de lesão
O biólogo marinho Marcelo Szpilman, que atua como diretor do Instituto Ecológico Aqualung, recomenda algumas medidas básicas que devem ser adotadas em caso de acidente envolvendo águas-vivas e/ou caravelas:
1) sair da água e lavar o local atingido com bastante água do mar, sem jamais usar água doce ou outro tipo de líquido sobre as queimaduras;
2) não tentar remover os tentáculos presos à pele esfregando areia ou toalha, já que isso pode aumentar bastante a irritação no local queimado;
3) colocar vinagre na região atingida por cerca de dez minutos
4) remover os restos de tentáculos com uma pinça;
5) lavar mais uma vez com água do mar e reaplicar o vinagre por mais 30 minutos
6) em caso de dores fortes e reações inflamatórias, recomenda-se tomar analgésicos e corticoides ou anti-histamínicos.
7) O resfriamento do local da lesão, com a aplicação de bolsas de gelo logo após o acidente, pode reduzir sensivelmente a dor.
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Soluções alcoólicas metiladas como perfumes, loções pós-barba ou mesmo bebidas alcoólicas não devem ser usadas, pois, em alguns casos, podem induzir mais descargas