No dia 16 de maio, a aposentada Alba Cristina do Nascimento, 53, foi a primeira paciente do país a ser submetida a uma técnica que utiliza micro-ondas para remover tumores. Indicada para cânceres de fígado, rim, pulmão e ossos, a ablação por micro-ondas é apontada como uma opção para tratar lesões de forma menos invasiva e mais rápida, reduzindo o tempo de internação e preservando a função dos órgãos que recebem o tratamento. 

O procedimento, realizado no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), já demonstrou que alcança resultados semelhantes aos obtidos em cirurgias, mas sem remoção de tecidos sadios. “Como trata os tumores com baixa invasividade, o paciente faz o tratamento e pode ir para casa no outro dia. Quem tem doença metastática muitas vezes, após a cirurgia, precisa de três meses de recuperação”, explica Marcos Menezes, coordenador-chefe do Serviço de Radiologia do Icesp e presidente da Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular (Sobrice). 

A técnica é indicada para tumores de até 3 cm de diâmetro. Após um pequeno corte, a agulha que vai aquecer a lesão é inserida e guiada por ultrassom ou tomografia computadorizada. “No caso de micro-ondas, eleva-se a temperatura e ocorre a destruição do tumor. A 70°C, 80°C, qualquer tecido morre. E o organismo absorve isso na linha do tempo”, diz Menezes.

Desde 2009, o Icesp já oferece tratamento semelhante, mas utilizando radiofrequência. De acordo com Menezes, a nova técnica tem a vantagem de ser mais rápida. “Ela tem mais energia do que a radiofrequência. Para tratar uma lesão de 1 cm, a radiofrequência demora de 12 a 15 minutos. No micro-ondas, demora um minuto”, compara.

Dois pacientes já realizaram o procedimento na unidade, ligada à Secretaria de Estado da Saúde e à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e outros 60 foram selecionados. “O impacto é trazer qualidade de vida para o paciente. Outra vantagem é preservação de função do órgão, justifica Menezes.

Superintendente da Medicina Diagnóstica do Hospital Sírio-Libanês, Cesar Nomura diz que a técnica de ablação por micro-ondas já está consolidada na medicina oncológica há mais de cinco anos. O hospital também faz o procedimento, e quatro pacientes foram submetidos à técnica. 

O método, segundo ele, abre possibilidades de tratar lesões em pacientes com mais de um tumor nos órgãos que podem receber a técnica. “Se tiver um fígado com lesões do lado direito e do esquerdo, é possível tratar e, após o procedimento, a função hepática é mantida”, diz.

Mas nem todos podem ser submetidos ao método. “Depende do tamanho da lesão e da localização. Ela (a técnica) está contraindicada para lesões de fígado em posições centrais, porque pode lesar a via biliar. Em pulmão, não pode ser perto de brônquios grandes”, explica Menezes. 

‘Parecia que não tinha feito nada; antes tinha de abrir o peito’
Em luta contra o câncer desde 2014, Alba Cristina do Nascimento já foi submetida a uma cirurgia por causa de um sarcoma na coxa direita (e precisou amputar o membro) e ao tratamento com radiofrequência para tratar uma lesão no pulmão direito. “Após a amputação, fiz 15 sessões de quimioterapia e não tive mais sinal da doença. Depois de dois anos, apareceu um nódulo no pulmão, mas era muito pequeno. Voltei depois de seis meses e tinha aumentado. Fiquei bem preocupada em fazer cirurgia”, conta.

Foi quando conheceu o novo procedimento. “Parecia que eu não tinha feito nada. Se fosse antigamente, teria de abrir o peito”, diz. Nesta época, já havia uma pequena lesão no pulmão esquerdo, que cresceu e também precisou de tratamento. “O segundo foi ainda mais sofisticado e mais rápido”, explica.