Remexer o passado faz parte de um processo terapêutico que pode sanar uma dor da alma. Quando se abrem os recônditos misteriosos do inconsciente vêm à tona conteúdos reprimidos que incomodam o psiquismo.

“Assim funciona a regressão de memória, um conjunto de recursos terapêuticos que conduzem o indivíduo a sua verdade, deflagrando mudanças profundas, sensíveis e perceptíveis em todos os níveis a partir do contato com o divino ou com o que o Ocidente chama de inconsciente”, explica Jacques Tadeu França, 56, médico e terapeuta especialista nessa técnica há duas décadas.

Segundo ele, várias escolas psicoterápicas ocidentais (análise, psicodrama, Gestalt-terapia e bioenergética) e tradições milenares como o hinduísmo, o budismo tibetano, o taoismo e o xamanismo se apropriam do transe para a cura dos males da alma e do corpo.

“Durante a regressão de memória, a dimensão espiritual é reconhecida e promove o processo de integração e de harmonia com a natureza. A vivência empreendida por essa jornada é visualizada pelo viajante. Durante os estados alterados de consciência, a pessoa entra em contato com as possíveis causas de um problema, esteja ele no passado recente ou no remoto. Essa terapia combina o profundo envolvimento com o corpo, a mente, as emoções e as dimensões espirituais do ser, dinamizando sua reintegração e harmonização”, diz o médico.

A regressão de memória visa restabelecer a paz, a harmonia, e o bem-estar da pessoa com ela mesma, com o outro e com o meio ambiente. Quando o paciente chega ao consultório, o médico realiza uma anamnese profunda que contempla desde sua expectativa com o processo terapêutico, sua filosofia de vida, a abordagem de aspectos de sua vida até a relação com família, profissão, vida sexual, sonhos. “Nesse momento, a pessoa já passa a se relacionar consigo mesma e a estabelecer relações entre o que ela traz para ser trabalhado, desvendando o aqui e o agora. O processo regressivo se dá por meio de um transe leve, que varia de profundidade de acordo com a pessoa, com a carga emocional e com os conteúdos mentais que ela traz, de modo que os aspectos reprimidos no inconsciente aflorem à superfície. A conscientização dos traumas que causaram bloqueios, inadequações, comportamentos reativos e beligerantes podem ser resignificados ou transformados”, explica Jacques.

Durante o processo de regressão, a pessoa acessa informações que podem ser emocionais, mentais, imagens e sensações físicas. “Nas vivências, o indivíduo vai descobrir de onde veio, o que está fazendo aqui (essa relação geralmente é de repetição, para seu aprendizado) e para onde vai. Essa conscientização dá um sentido do que é a vida, com suas regras e objetivos. A intenção é que sua vida tenha um propósito, um significado, que ela possa estar a serviço de algo maior”, comenta o médico.

Serviço: O próximo curso de formação em terapia regressiva acontece no dia 2 de julho, das 8h às 18h, no Instituto Mineiro de Medicina e Terapias, na rua Costa Rica, 190, Sion. Informações: (31) 3287-3015 e (31) 98882-9997.

O ser se esvazia de narrações dolorosas

A regressão de memória traz à tona pensamentos, imagens, sensações corporais e emoções. Trabalha-se com início (trauma), meio (carga) e fim (cura). O conteúdo é manejado para que a catarse possa esvaziar o indivíduo dessa narração dolorosa e, assim, ele possa ter consciência de seu processo de autotransformação.

O médico Jacques Tadeu França explica que, quando o terapeuta acessa histórias que afloram do inconsciente, ele atravessa suas várias camadas de dor, sofrimento, repressão, injustiça, abandono e vergonha onde ficam os “assuntos inacabados”, que são plasmados ou que se repetem no aqui-agora, para o aprendizado da alma.

“Durante as vivências podem ser trabalhados momentos traumáticos do aqui e do agora ou informações transpessoais relativas à vida intrauterina, podendo atingir as supostas vidas anteriores. No entanto, esses conteúdos imaginários ou não são abordados de acordo com a realidade da pessoa, não envolvendo crenças religiosas. Pode ser só imaginação, mas cura”, finaliza Jacques. (AED)