Quando os primeiros casos de Aids foram registrados no mundo, há pouco mais de 40 anos, o cenário era devastador. A doença ainda era pouco conhecida, e os pacientes infectados pelo vírus da imunodeficiência humana, o HIV, viam a evolução rápida da enfermidade, que provoca a deterioração progressiva do sistema imunológico dos pacientes, propiciando o desenvolvimento de infecções e tumores potencialmente mortais. O preconceito e os vários estereótipos ligados à Aids – que chegou a ser chamada de “peste e câncer gay” em manchetes sensacionalistas mundo afora – tornavam a situação ainda mais complicada.
Agora, o cenário é diferente. Embora décadas de preconceito não possam ser apagadas de forma rápida, o diagnóstico não carrega mais o peso de uma sentença de morte. Pelo contrário, com o acompanhamento regular de um especialista e com os tratamentos adequados, pessoas que vivem com HIV podem ter a expectativa de vida aumentada significativamente. “Hoje o tratamento para o HIV evoluiu muito, temos medicações modernas, mais eficazes e com menos efeitos colaterais”, explica o infectologista Jeronimo Coelho de Menezes.
Médico da Unimed Araxá, Jeronimo ressalta a importância do acompanhamento regular com um especialista, já que é necessário avaliar a resposta terapêutica dos pacientes ao tratamento, além de identificar os efeitos adversos relacionados à administração em longo prazo.
Segundo o médico, o tratamento atual é feito por meio da Tarv, como é conhecida a terapia antirretroviral. “Ela consiste na combinação de medicações que ajudam a restabelecer a imunidade do organismo, evitando a manifestação de doenças oportunistas. O uso regular é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com o vírus e prevenir a infecção, pois a medicação reduz a quantidade da carga viral circulante no sangue, diminuindo a transmissão”, explica.
É importante destacar também que o tratamento eficaz com a Tarv permite que o vírus se torne indetectável, possibilitando que as pessoas tenham uma vida saudável e que não transmitam HIV para seus parceiros sexuais.
Além do tratamento, outras estratégias também podem ser usadas para prevenir a infecção, uma delas é a PrEP, ou profilaxia pré-exposição. “Ela é utilizada por indivíduos que não têm o vírus, mas que apresentam comportamento de risco”, afirma o infectologista, destacando que esse é um método eficaz e seguro. “A PrEP consiste no uso de antirretrovirais orais para reduzir o risco de adquirir a infecção pelo HIV”, completa.
Pessoas que tiveram exposição ao vírus também podem recorrer a tratamentos específicos. Em casos como esses, a PEP (profilaxia pós-exposição) é utilizada. Vale destacar que ela é feita a partir da identificação de que a pessoa tenha potencialmente se exposto ao vírus nas últimas 72 horas.
Existe ainda uma estratégia que é conhecida como “prevenção combinada”. Nesse caso, são associados diferentes métodos para prevenir o HIV.
Conforme o Ministério da Saúde, a combinação dessas ações deve estar centrada na pessoa, em seus grupos sociais e na sociedade em que se inserem. “A premissa básica estabelecida é a de que estratégias de prevenção abrangentes devem observar, de forma concomitante, esses diferentes focos, considerando as especificidades dos sujeitos e de seus contextos”, explica a pasta.
Conforme o Ministério da Saúde, entre os métodos que podem ser combinados estão a testagem regular para o HIV, a prevenção da transmissão vertical (quando a gestante vive com HIV e pode transmitir vírus para o bebê); o tratamento das infecções sexualmente transmissíveis e das hepatites virais; a imunização para as hepatites A e B; a redução de danos para usuários de álcool e outras drogas; a da PrEP, a PEP e, ainda, e o tratamento para todas as pessoas que já vivem com HIV.
Vale ressaltar que todos os tratamentos e estratégias de prevenção são disponibilizados de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Camisinha é o método de prevenção mais conhecido e acessível
Embora existam diferentes estratégias para evitar a infecção pelo HIV, a camisinha continua sendo o método mais conhecido e acessível. Distribuído gratuitamente pelo SUS desde 1994, o preservativo também é um importante aliado na prevenção de outras infecções sexualmente transmissíveis.
Mas, mesmo que o uso da camisinha seja uma estratégia conhecida e seja amplamente incentivado, o preservativo ainda enfrenta a resistência de muita gente. É isso o que mostram dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), divulgados recentemente pelo governo federal. Segundo o levantamento, menos de 23% dos brasileiros com mais de 18 anos usam o preservativo em todas as relações sexuais. Mais da metade da população assume não fazer uso do método em nenhuma relação.
De acordo com o sexólogo Rodrigo Torres, muitas coisas podem explicar a falta de aderência à camisinha, a maioria delas ligadas a preconceitos e tabus relacionados ao preservativo. “As pessoas ainda acham que ele tira o prazer e que é um impeditivo para que a relação sexual flua naturalmente”, conta.
Ele observa ainda que existem pessoas que listam justificativas para não usar a camisinha, e isso inclui motivos que vão de alergias a reclamações de que ela “aperta demais”. “É tudo desculpa esfarrapada. Existem diversos tipos de preservativos em vários tamanhos, quem é alérgico pode optar pelas que não são feitas com látex. É uma diversidade enorme, mas as pessoas nem vão procurar saber”.
Outra possibilidade de prevenção é a utilização das camisinhas femininas, conhecidas também como “preservativos internos”, que podem ser inseridas na vagina ou no ânus antes do ato sexual. Embora não tenham o uso tão difundido quanto os preservativos externos, esse tipo de camisinha também é eficaz para evitar a transmissão do HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis. “É um método importante. Aqui, no Brasil, a gente não aderiu muito, mas ele facilita principalmente em momentos de microviolências, como quando homem tira a camisinha na hora do sexo”, pontua Rodrigo.