Você está feliz com o atual modelo da humanidade? Caso tenha respondido negativamente, você faz parte de uma legião de insatisfeitos com as relações econômicas e sociais que sustentam a sociedade.
Michael Tellinger, cientista, pesquisador de civilizações ancestrais, escritor e fundador do Movimento Ubuntu, presente em mais de 200 países, esteve em Rio Acima para lançar a semente de um novo modelo social, que se alicerça no contribucionismo: “If it’s not good for everyone, it’s no good at all”, ou seja, “se não é bom para todos, não é bom”.
“Ubuntu” é uma antiga palavra do dialeto africano zulu (pertencente ao grupo linguístico bantu) e significa que “uma pessoa é uma pessoa por meio de outras pessoas”.
Nesse modelo, a cooperação entre os membros dessas comunidades supre todas as suas necessidades. Vai desde um ambiente harmonioso para crescer durante a infância até velhice assistida por seus descendentes, que ouvem com atenção a sabedoria daqueles que trabalharam para manter a comunidade.
O modelo de contribucionismo Ubuntu foi criado em Joanesburgo, na África do Sul, em 2005, e é baseado em princípios fundamentais da igualdade absoluta e de trabalho em conjunto para atingir um objetivo comum, pautado pela abundância para todos, em comunidades unidas e que prosperam em todos os níveis da sociedade.
Michael se reuniu com a prefeita de Rio Acima, Maria Auxiliadora Ribeiro, vereadores e lideranças locais para explicar melhor o modelo de uma sociedade alternativa, baseada na consciência plena de que somos seres unos.
“Tivemos boa reação da prefeita, e percebi que muitas pessoas da comunidade, que têm influência, estão fazendo um excelente trabalho. Esse município tem as condições ideias para acolher o Movimento Ubuntu, basta que essas pessoas se reúnam, coloquem as ideias por escrito e encontrem possíveis investidores que queiram bancar o projeto”, diz.
Segundo ele, o movimento começou como um partido político para promover as mudanças necessárias. “Percebemos que não podemos lutar contra a política, temos que estar com as pessoas, pois a sabedoria vem de todas as culturas”, afirma.
Trabalho. O modelo Ubuntu propõe que cada pessoa trabalhe apenas três horas por semana. Se um município tem 10 mil habitantes, e cada pessoa cumpre essa jornada semanal, por exemplo, serão geradas 30 mil horas de trabalho, uma força poderosa para se produzir o que se quiser. O grupo vai somando expertises e criando frentes de trabalho diferentes que possam contemplar todas as necessidades do município.
O start vem com o dinheiro de um investidor. Aos poucos, o modelo vai se tornando autossuficiente, e o dinheiro gerado será dividido da seguinte forma: um terço para o investidor, um terço para ser reinvestido no fortalecimento do projeto e um terço para as pessoas que trabalham no modelo.
Para ele, o mundo está protagonizando um processo coletivo global de mudanças, que a cada dia revela as tendências de uma sociedade que migra gradativamente, por opção e consciência, para novos modelos e sistemas de convivência.
Michael afirma que o Brasil é um local abençoado e que terá um importante papel de protagonista das mudanças por que o mundo passará nos próximos tempos. Essa é uma oportunidade única para conhecer e participar de uma proposta que pode, respeitando as particularidades, a vocação e os desafios de cada local, inspirar soluções inéditas para muitos problemas de ordem socioeconômica e ambiental que o mundo enfrenta.
“No modelo capitalista, o investimento é de alto risco. No nosso plano não há competição, todos irão compartilhar os resultados e o sucesso. Esse plano vai nos libertar para sempre da escravidão do dinheiro, mas teremos que trabalhar juntos. O plano se corrige por si, o dinheiro chega todo mês e é reinvestido. As pessoas terão muitas horas livres para fazer o que gostam, seguir suas paixões. Todos vão trabalhar com o que gostam e terão acesso a todos os serviços gratuitamente”, comenta Michael.
Receptividade
Lideranças locais apoiam modelo
Michael Tellinger considera que “o capitalismo destrói o espírito humano e nos levou a pensar que a utopia é uma coisa ruim, mas ela é boa. Todos nós queremos viver em uma sociedade utópica, mas o capitalismo fala que isso não é possível porque a gente nunca tem dinheiro suficiente para criar esse modelo”.
Mesmo com todos os acontecimento mundiais, principalmente no que se refere às relações de trabalho, ele acredita que a humanidade vai se salvar. “Estamos indo morro abaixo, há um colapso mundial, as pessoas estão perdendo seus trabalhos, se suicidando, a educação e os serviços de saúde estão precários. As responsabilidade e funções estão se misturando, e nós não fazemos nada. Existe uma intenção por trás disso, algo que quer destruir a humanidade, e, se não fizermos nada e ficarmos só sentados, seremos destruídos. Então, depende de nós fazer alguma coisa. Nós faremos as mudanças”, finaliza Michael.
No Brasil, o Movimento Ubuntu é representado pelo Núcleo de Integração das Ciências (NIC). Segundo a presidente Emília Queiroga Barros, ele está aberto a quem queira participar.
“Rio Acima tem entre 8.000 e 10 mil habitantes, um tamanho ideal para que possamos implantar o Movimento Ubuntu. Já fizemos algumas reuniões na cidade para ver o interesse das pessoas em desenvolver um grande projeto com a filosofia Ubuntu, junto a formadores de opinião, líderes comunitários. Já convidamos a prefeita eleita Maria Auxiliadora Ribeiro e os vereadores para elaborarmos um plano de ação”, conta.
Ela disse que o Movimento Ubuntu já tem investidores de fora do Brasil, “milionários que querem investir em causas dessa natureza”.
“A cidade que abraçar essa ideia vai imediatamente receber o suporte financeiro para desenvolver o projeto. Rio Acima pode ser referência nesse modelo em todo o mundo. Criaremos um grupo para desenhar o projeto com as orientações que nos foram passadas por Michael Tellinger”, finaliza.
Serviço. Para saber mais sobre o Movimento Ubuntu acesse: www.ubuntuplanet.org/