Esperança

Veneno de cascavel faz ratos emagrecerem

Estudo indica que substância aumenta metabolismo e queima calorias


Publicado em 13 de junho de 2018 | 03:00
 
 
 
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Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) descobriram que uma substância isolada do veneno da cascavel – a crotamina – ajudou na redução de 10% do peso corporal e no aumento do metabolismo de camundongos em apenas 21 dias. O estudo foi publicado recentemente no periódico científico “Scientific Reports”.

A equipe de cientistas analisava os efeitos terapêuticos da crotamina sobre tumores de pele quando percebeu que os camundongos tratados, além de melhorarem do câncer, estavam ganhando menos peso do que o esperado. Eles, então, testaram a substância no metabolismo dos animais e descobriram que ela diminuiu a gordura branca e multiplicou a chamada gordura marrom – um tipo específico de tecido adiposo que ajuda a queimar calorias. 

Basicamente, os animais que receberam crotamina passaram a engordar menos, mesmo sem fazer exercícios. As diferenças significativas no organismo começaram a ser observadas a partir do 14º dia do experimento e continuaram até o final. De acordo com os autores do estudo, os efeitos são maiores ainda se o animal não tiver câncer. 

Segundo Mirian Hayashi, uma das coautoras da pesquisa e professora associada ao Departamento de Farmacologia da Unifesp, os resultados são positivos, mas ainda muito preliminares. “É necessário que possamos contar com mais quantidade de crotamina para efetuar novas amostragens, em um número maior de animais. Uma saída seria a sua produção sintética, pois poderíamos produzir de forma ilimitada”, afirma. 

Avanços empíricos. A partir daí, diz Mirian, será possível partir para uma nova etapa, que inclui o teste em humanos. “De acordo com o nosso planejamento, o objetivo é que, em até um ano e meio, no máximo, dois anos, possamos começar a testar a crotamina em pessoas. No entanto, ainda não há garantia de que os efeitos vistos nos camundongos serão reproduzidos da mesma forma nos humanos”, explica. 

 

Negociação. Apesar dos obstáculos encontrados durante o processo, a pesquisadora garante que os primeiros passos são promissores. “Algumas empresas estrangeiras já se mostraram interessadas. Isso vai permitir ter uma boa infraestrutura para levar as pesquisas adiante”, aposta Mirian. (Com agências)

 

Características da molécula são de interesse dos pesquisadores

Isolada do veneno da serpente Crotalus durissus terrificus – uma das seis subespécies de cascavel que há no país –, a crotamina é uma pequena proteína com duas características que interessam muito ao desenvolvimento de medicamentos. 

A primeira delas é a capacidade de penetrar nas células de mamíferos. Já a segunda se trata de uma seletividade para células em processo de divisão, como é o caso das células tumorais. Ou seja, ela invade tumores, mas não tecidos saudáveis. Com base nessas duas constatações, os pesquisadores passaram a testá-la como um agente marcador e inibidor de células cancerígenas.

Outros experimentos publicados pela mesma equipe em 2017 mostraram redução de 80% no crescimento de tumores de pele (melanoma) em camundongos tratados com crotamina; sem qualquer efeito adverso. Além disso, do ponto de vista farmacêutico, foi observada uma vantagem enorme do uso por via oral, sem a necessidade de injeções.

Flash

Ajudinha. Não é a primeira vez que veneno de cobra auxilia em tratamentos de doenças. Desde os anos 70, o captopril – encontrado no veneno da jararaca brasileira – é usado no combate à hipertensão no país.

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