A jovem britânica Sara Green tinha um amplo histórico de problemas de saúde mental desde os 11 anos. “Ela gostava de escrever em seu diário, relatando as dificuldades que enfrentava no dia a dia. Aos 17 anos, foi internada numa clínica psiquiátrica na Inglaterra para tratamento, mas acabou suicidando-se por automutilação, numa das unidades de tratamento especial”, comenta o espírita Jorge Hessen, historiador e escritor.

Sara não é a única. Há milhares de pessoas como ela e que têm um distúrbio psicológico conhecido como Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), classificado pelo psicanalista Adolph Ster como uma patologia entre a neurose e a psicose, que gera uma disfunção no metabolismo cerebral, desintegrando o ego e gerando um sentimento de perda desesperador.

“As pessoas acometidas por esse transtorno sentem uma necessidade enorme de autopunição pelos insucessos e frustrações pessoais na vida cotidiana. Os pesquisadores acreditam que a doença pode ter origem genética e está também associada a fatores traumáticos durante a infância ou a adolescência, como possíveis abusos sexuais, negligências, separações e orfandade”, diz Hessen.

Segundo ele, a pessoa acometida pelo borderline sente alívio emocional cada vez que se machuca. Entre os frequentes ferimentos associados estão: esmurrar-se, chicotear-se, enforcar-se por alguns instantes, morder-se, apertar ou reabrir feridas, arrancar os cabelos, queimar-se, furar-se propositalmente com objetos pontiagudos, beliscar-se, ingerir agentes corrosivos e objetos, envenenar-se com remédios ou produtos químicos (sem intenção de suicídio), bater com a cabeça na parede e esmurrar superfícies duras.

“O gérmen da doença mental já vem registrado no perispírito do reencarnante. Da neurose mais simples, passando pela demência, histeria, ansiedade mórbida, esquizofrenia, a gênese é sempre espiritual. A doença mental é expiação ou prova também para os pais que podem ter sido coadjuvantes das culpas desses doentes”, analisa o historiador.

Espiritismo

O estudioso comenta que a ideia da existência de um ente extrafísico (espírito) pode elucidar a origem de muitos enigmas patológicos da psiquê. “A lei de causa e efeito amplia o debate e auxilia a compreender, por exemplo, que a vida presente é o reflexo do que temos sido até hoje, incluindo aí as nossas experiências pretéritas (reencarnações anteriores)”, afirma.

Hessen considera que “os atuais quadros psicopatológicos devem ser analisados sob o prisma de causa e efeito, como reflexo dos distúrbios morais de vidas anteriores, considerando sua manifestação de forma invariavelmente dramática, trazendo sofrimento tanto para o doente como para a família; daí concluir-se que realmente significa uma repercussão de desvios éticos das existências pregressas”.

Sob o ponto de vista espírita, “a busca constante da reforma íntima e a transformação pessoal são meios eficazes de manter a saúde psíquica de todos, já que qualquer um de nós pode ser doente em potencial”, diz Hessen.

Tudo faz parte do plano reencarnatório

Para a doutrina espírita, a saga humana, com seu registros de doenças, sejam mentais ou não, tem início com a reencarnação.

“A partir do momento da concessão da reencarnação, que contempla várias fases, inclusive a concepção, o reencarnante imprime suas necessidades e heranças genéticas nas moléculas de DNA do novo corpo físico, comprometendo ou até mesmo potencializando as funções dos neurotransmissores cerebrais. As experiências de vidas anteriores do espírito, portanto, são os legados trazidos e construídos por si mesmo, plasmando-se nele o fadário”, observa o estudioso espírita Jorge Hessen.

Seria por isso que grande parte das doenças psiquiátricas tem causa desconhecida ou é incurável? “A cura integral dos quadros psicopatológicos é muito difícil porque consta do plano reencarnatório do espírito, mas a dor, tanto do doente quanto da família, pode ser suavizada se os envolvidos nesse drama cultivarem a certeza de que Deus não coloca fardos pesados em ombros frágeis”, responde Hessen.

Doença tem forte participação genética

O termo “personalidade boderline” designa pessoas jovens, entre l5 e 35 anos aproximadamente, que apresentam reações inusitadas a situações normais.

“As reações são explosivas, sem distinção de locais, descontroladas, comprometedoras e, por vezes, perigosas. As pessoas afetadas costumam voltar ao seu normal em algumas horas após esse episódio, agindo como se suas reações não tivessem a gravidade que tiveram”, comenta Jaider Rodrigues, psiquiatra e diretor da Associação Médico Espírita de Minas Gerais.

O transtorno, diz Rodrigues, é mais comum em mulheres, jovens, em plena atividade produtiva, e tem forte participação genética, ocorrendo cinco vezes mais em familiares do que na população geral.

“Quando alguns dos genitores são portadores do transtorno borderline, aumenta a possibilidade de a prole ser mais atingida. As manifestações são ostensivas e variam de intensidade, sendo esse um fator de dificuldade diagnóstica. Em casos extremos, a hospitalização faz-se necessária”, explica o psiquiatra.

Deve-se tratar também o espiritual

A explicação espírita vem sempre das vidas pretéritas. “Nada no mundo é aleatório, sempre há uma causa espiritual para justificar por que uns nascem em determinados lares e circunstâncias que facilitam o aparecimento de sintomas doentios. Também falamos da presença de entidades espirituais adversárias da família que aproveitam a fragilidade de seus componentes para dificultar o que já era complicado. O tratamento médico e psicológico é de suma importância, assim como a assistência espiritual”, diz o psiquiatra Jaider Rodrigues.

Número

Estimativa. Acredita-se que 6% da população mundial sofra do transtorno de personalidade borderline, doença caracterizada pela intensa instabilidade emocional, que pode levar ao suicídio.

A jornalista Ana Elizabeth Diniz escreve neste espaço às terças-feiras. E-mail: anabethdiniz@gmail.com