O ensino médio mudou. Em 2022, escolas de todo o país experimentaram o novo modelo de ensino, que tinha como promessa um aprendizado moderno e motivador, e que também preparasse os estudantes para o mercado de trabalho. O balanço do primeiro ano, no entanto, não é nada animador.
Dentro da sala de aula de uma escola da rede pública em Belo Horizonte, o que o professor de história Anderson Nunes vivenciou foi alunos com dificuldade de adaptação à nova grade curricular, aos novos horários e métodos. “Os alunos foram muito resistentes a esse primeiro ano do novo ensino médio porque foram introduzidas novas disciplinas, a carga horária aumentou e, na maioria dos casos, os conteúdos não foram tão atrativos por falta de estrutura ou preparo dos professores mesmo”, comenta.
Entre as principais mudanças adotadas com a reforma do ensino estão o aumento da carga horária, integração curricular e os itinerários formativos.
No caso de Anderson, além de lecionar história, recebeu o novo cargo de ensinar a disciplina “Introdução ao mundo do trabalho”, que passou a ser obrigatória. “ Além de história, tenho uma formação em ciências do estado e ciências contábeis. Então, consegui trabalhar de forma interdisciplinar a noção de trabalho e a preparação dos alunos para o mercado de trabalho”, conta. Mas o professor sabe que nem todas as escolas contam com a sorte de ter um profissional com multiformação.
Itinerários formativos
Luiz Torquato, que leciona história em uma escola da rede estadual de ensino em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, também recebeu a função de ser professor da disciplina de “Introdução ao mundo do trabalho”. Porém, não sabia nem por onde começar.
“Nós, professores, não estávamos preparados como deveríamos estar. O estado ofereceu algumas formações continuadas, mas não forneceu material didático dessa disciplina minha, por exemplo”, diz. “Porque uma coisa é eu preparar um material didático com base naquilo que eu tenho graduação, outra é eu pegar um material que não é de fácil compreensão aos alunos e fazer essa transposição didática”, acrescenta o educador
Maria Vitória Santos, 15, foi aluna de Torquato, em Betim. Estreou no ensino médio na primeira turma que testou a mudança. Na prática, o que ela viu foi um monte de matéria sendo dada pelos mesmos professores, sem a estrutura de que precisavam. “Alguns professores chegaram a falar em sala que não tinham o que nos passar, não estavam preparados”, diz. Na aula de tecnologia de informação, por exemplo, a sala de computadores só ficou pronta no fim do ano letivo. Uma teoria que não pode ser colocada na prática.
A adolescente comenta ainda que pouco aproveitou dos novos conteúdos. “Foi uma repetição do que sempre foi dado, só que com outro nome. Basicamente trocaram aulas importantes e tradicionais por outras, mais vagas”, avalia Maria Vitória.
Denise Romano, coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE), é enfática na avaliação. “O primeiro ano do novo ensino médio foi desastroso. Aqui em Minas Gerais, nós temos uma evasão imensa dos alunos que estão matriculados no ensino médio de tempo integral”, afirma.
Pedido de revogação. A representante dos professores disse ainda que a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação levou ao Governo Federal o pedido de revogação da medida provisória que regulamenta o novo ensino médio. “Esse projeto do ensino médio é um modelo de mão de obra barata, de formação de mão de obra para trabalho precarizado”, acrescenta.
Por meio de nota, a Secretaria de Estado e Educação de Minas (SEE-MG), admitiu que há desafios, porém, destacou que os dados da implementação do novo ensino médio são positivos em toda a rede de ensino. “ É fundamental a continuidade dos diálogos com toda a rede e a comunidade escolar, sempre acompanhando de perto todo o processo, rotinas escolares e o fortalecimento da formação docente”, informou.
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