O advogado e empresário Marcos Tolentino admitiu ser sócio e advogado da Brasil Space Air Log, após ser questionado por senadores na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, na manhã desta terça-feira (14).
Segundo o senador Renan Calheiros (MDB-AL), a CPI descobriu movimentação financeira entre a Space Air e as empresas Pico do Juazeiro e FIB Bank. Para o relator da comissão, há evidências de que o depoente é o verdadeiro controlador das três pessoas jurídicas.
“A CPI teve acesso a movimentações financeiras realizadas entre a Brasil Space Air Log, a Pico do Juazeiro e a FIB Bank. Uma cumplicidade, em sinal de que o senhor Tolentino ainda comanda essas empresas. É inacreditável como, perante o país, alguém tenta ocultar essas coisas que são óbvias, levantadas pela CPI”, disse Renan, na sessão que começou na manhã desta terça.
Marcos Tolentino disse não lembrar quem são os sócios e qual é o ramo de atividade da Brasil Space Air Log. Ele também não respondeu se a empresa tem contratos firmados com a Pico do Juazeiro e a FIB Bank.
O silêncio do depoente
Em outro momento, Tolentino decidiu ficar em silêncio ao ser perguntado quem é o dono da FIB Bank.
Ele está munido de um habeas corpus, concedido pela ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia, que o garante o direito de permanecer em silêncio e se recusar a responder perguntas que possam incriminá-lo.
Dono da Rede Brasil de Televisão e suspeito de ser sócio oculto da empresa FIB Bank, ele é investigado por supostamente oferecer garantias à Precisa Medicamentos, intermediária na negociação de vacinas junto ao Ministério da Saúde.
Renan Calheiros e outros senadores, como Tasso Jereissati (PSDB-CE), desencadearam uma série de perguntas sobre as empresas de Tolentino e sua atuação como advogado.
Ele admitiu que seu escritório de advocacia funciona no mesmo prédio de outras empresas sob suspeita dos parlamentares, entre elas a MB Guassu, que integralizou capital de R$ 7 bilhões para a FIB Bank a partir de um terreno.
“Em outras palavras, vossa senhoria não pode revelar quem é o verdadeiro dono da FIB Bank”, afirmou Tasso.
Empresário nega acusações
Antes de ser questionado pelos senadores, Tolentino fez uma apresentação, afirmando que não tem qualquer participação no quadro societário da empresa FIB Bank. Segundo o empresário, ele se tornou sócio em um grupo de empresas com Edson Benetti, que já morreu.
“Eu, Marcos Tolentino, afirmo que não possuo qualquer participação na sociedade [com a FIB Bank]. Não sou sócio da empresa como veiculado por algumas matérias”, afirmou, antes mesmo de ser indagado por qualquer integrante da CPI.
Tolentino disse que fez parte da Benetti Prestadora de Serviços, mas que se desligou do quadro societário há 12 anos. A partir daí, segundo Tolentino, por ter imóveis, ativos e precatórios em comum com algumas empresas dessa antiga sociedade, ele possui procuração que o ligaria ao atual sócio, Ricardo Benetti.
Também sem ser questionado, sobre um jantar em sua residência noticiado pela imprensa, Tolentino disse que nunca recebeu o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, nem Francisco Maximiano, sócio-administrador da Precisa Medicamentos, para tratar de vacina ou consórcio Covaxin.
Ainda em sua apresentação, sem ser perguntado, Tolentino também negou manter relação pessoal com o presidente Jair Bolsonaro. “Conheço o presidente desde que ele era deputado federal, mas não possuo nenhuma amizade pessoal ou qualquer outro tipo de relacionamento junto ao presidente. Estive com ele em alguns encontros casuais, como no debate do marco regulatório da TV, quando ele ainda era deputado.”
O dono da Rede Brasil de Televisão ressaltou que mantém apenas amizade com o líder do governo na Câmara, deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), que teria articulado as negociações entre a empresa e o Ministério da Saúde.
Tolentino deveria ter comparecido à CPI na primeira semana de setembro. Na ocasião, apresentou um atestado médico para justificar a ausência. Hoje, explicou que foi diagnosticado com um “severo quadro” de Covid-19 em janeiro e ainda sofre com sequelas. “Sou um sobrevivente mesmo”, frisou, após citar uma internação de quase três meses, duas paradas cardíacas e uma infecção generalizada provocadas pela doença.
Bolsonaro e filhos
Tolentino também afirmou ter conhecido Jair Bolsonaro quando o presidente da República ainda era deputado federal. Segundo ele, os dois estiveram juntos em encontros "meramente casuais".
Em relação aos filhos do presidente, Marcos Tolentino afirmou conhecer o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) de eventos políticos e sociais. Tolentino disse não conhecer Jair Renan Bolsonaro.
O depoente também afirmou ter conhecido o deputado Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, há muitos anos, em Curitiba.
Depois de faltar alegando problemas de saúde, Tolentino compareceu, acompanhado de um médico, à sessão da CPI que investiga as ações e omissões do governo federal na pandemia da Covid-19.