A taxa Selic, definida pelo Banco Central, não é apenas um número técnico: ela funciona como um check-up médico que antecipa o estado futuro da economia brasileira. Enquanto indicadores como desemprego em queda e PIB em alta parecem mostrar uma economia saudável hoje, a Selic e, especialmente, os juros futuros contam uma história diferente, apontando para riscos estruturais que podem comprometer o crescimento sustentável do país.

A Selic é a taxa básica de juros da economia e influencia o custo do crédito, os investimentos e a inflação. Quando ela está elevada, isso sinaliza um esforço para conter desequilíbrios, como inflação alta ou descontrole fiscal. No entanto, os juros futuros, que refletem as expectativas do mercado sobre a direção da Selic nos próximos meses e anos, são um termômetro ainda mais sensível. Eles indicam se o mercado confia ou não na trajetória da política econômica. Atualmente, além de uma Selic alta, os juros futuros se apresentam ainda mais elevados, o que é como descobrir que, apesar de aparentar boa saúde, o paciente tem exames que apontam problemas sérios à frente.

Esse descompasso entre a Selic alta, que deveria resultar em tendência de baixa, e os juros futuros elevados ocorre porque o mercado avalia que o Brasil pode enfrentar dificuldades para corrigir questões estruturais. Entre elas estão a falta de controle fiscal, que pressiona a necessidade de juros altos para segurar a inflação, e a ausência de reformas que melhorem o ambiente de negócios e incentivem o crescimento de longo prazo. Assim, mesmo que hoje tenhamos sinais positivos, como um desemprego menor, os juros futuros indicam que esses ganhos podem ser transitórios.

O impacto disso é significativo. Juros futuros altos sinalizam um custo do dinheiro mais elevado no futuro, desencorajando investimentos produtivos, travando o crescimento e afetando diretamente as famílias e empresas. Além disso, refletem a percepção de risco sobre a economia, sugerindo que há dúvidas quanto à capacidade do governo de equilibrar suas contas e sustentar o crescimento sem desequilíbrios. Essa expectativa influencia, por exemplo, o valor do dólar, os investimentos estrangeiros e o próprio comportamento dos empresários.
Para inverter essa percepção, é essencial atacar as causas profundas desse desalinhamento. Um compromisso claro com o controle fiscal pode reduzir a pressão sobre a Selic e, por consequência, sobre os juros futuros. Da mesma forma, reformas estruturais – como tributária e administrativa – podem restaurar a confiança no ambiente de negócios e criar as condições para uma queda consistente no custo do crédito.

A economia é como um organismo: indicadores como PIB e desemprego são os sinais visíveis, mas os juros futuros são o equivalente a exames avançados que mostram o que está por vir. Ignorar esses alertas é como ignorar um colesterol alto em um check-up. Mesmo que a aparência atual seja boa, os riscos futuros estão acumulados. No caso do Brasil, enquanto os juros futuros continuarem elevados, o futuro econômico seguirá comprometido, revelando um país que ainda não resolveu suas questões estruturais. A Selic e os juros futuros nos dizem que é hora de agir, ou os custos desse descuido serão sentidos por todos em breve.

Antônio Claret Jr.
Advogado e especialista em finanças, investimentos e banking