O caso da recente aprovação de proposta na Câmara Municipal de Belo Horizonte sobre a Praça Sete se tornar uma Times Square suscita algumas reflexões interessantes. Não vou discutir neste artigo os méritos da ideia, posto que ela é simplista, rasa e renova o famoso “complexo de vira-lata”, o qual acredita ser bom para o Brasil tudo que é bom para os EUA, em uma importação acrítica de realidades tão diferentes.
Interessa-me, no caso, mostrar o quanto as questões urbanas são pouco aprofundadas pelas pessoas que moram nas cidades, mas se informam pouco sobre elas, e como elas influenciam suas próprias vidas.
É interessante que as perguntas feitas a pessoas diversas, transeuntes ou usuários da praça, sejam só se são a favor ou contra, se a praça vai ficar mais bonita ou mais feia. Não escutei nenhuma indagação sobre poluição urbana ou sobre a importância dos edifícios da Praça Sete para a memória coletiva.
Fico pensando que há uma série de perguntas que têm de ser feitas antes de qualquer “achismo”, que precedem a superficialidade do “gosto” ou “não gosto”, até mesmo para refinar a questão e estimular um juízo mais
As pessoas têm de se perguntar antes: o centro de Belo Horizonte está esvaziado? Se está, porque seria? Muitas lojas estão fechando? Quais delas? Ou, antes ainda, para não sermos tão genéricos, talvez as pessoas devessem se perguntar a si próprias porque elas vão ao centro da cidade, do que elas mais gostam ou não gostam ali, se ali morariam se tivessem a oportunidade, o que falta nas ruas, dentre outras inúmeras perguntas que precedem uma ideia de intervenção.
Envolver-se com a cidade é pensar sobre essas perguntas e não se encantar com fogos de artifício que são fugazes e não trazem soluções pertinentes. Esta, aliás, é uma atitude comum até em nobres vereadores que acordam com belos sonhos ou ouvem sopros – “não-sei-de-quem” – como se eles fossem salvadores.
Não são imensos painéis que resolvem problemas urbanos, mas sim planejamento adequado, diagnósticos aprofundados, medidas de incentivo econômico, sinergia de ações e, sobretudo, consciência urbanística.
Certas ideias brilhantes não servem nem para iluminar o fim do túnel.