Gleide Andrade é secretária nacional de finanças e planejamento do PT
Há 203 anos, às margens do Ipiranga, o Brasil rompeu formalmente com a Coroa portuguesa. Esse rompimento não foi um ato isolado, tampouco espontâneo: resultou de pressões internas, tanto das elites quanto do povo, e também de um movimento global em que colônias questionavam a subordinação às metrópoles.
A Independência representou o nascimento de um país que, no papel, poderia decidir o próprio futuro. Contudo, a soberania não se encerra em um marco histórico; é um processo contínuo. Desde então, a história brasileira tem sido a história de um povo que reafirma, dia após dia, o direito de conduzir os próprios rumos. Essa trajetória de coragem coletiva teve, já no início, símbolos como Maria Quitéria, cuja participação na Independência consagrou a disposição nacional em defender a liberdade e a soberania.
Em mais de dois séculos, o Brasil enfrentou ditaduras, golpes, ingerências estrangeiras, crises econômicas e sucessivas tentativas de submeter o país a interesses alheios ao povo brasileiro. Resistiu a todas. E, sempre que a democracia esteve sob ameaça, foi a própria sociedade, unida, que respondeu. Hoje, como ontem, nossa soberania não se preserva apenas no discurso, mas se garante por meio de escolhas políticas, da mobilização nacional e da firme decisão de não retroceder.
A defesa da soberania está no centro do debate político contemporâneo. O 7 de Setembro não é apenas uma data de celebração histórica: é um chamado à ação diante dos desafios do presente. Nesse espírito, o Partido dos Trabalhadores, ao lado de outras legendas democráticas, firmou um compromisso público de defesa da soberania nacional, da Constituição e das instituições que asseguram a liberdade do povo brasileiro. Trata-se de um pacto de unidade nacional, destinado a proteger o país de ameaças externas, como a ingerência de potências econômicas, e também de perigos internos, representados por forças que tentam corroer a confiança na democracia e em seus mecanismos de decisão.
Sob a liderança do presidente Lula, o Brasil voltou a ter voz ativa no mundo. Não se trata de isolamento, mas de respeito. Relações comerciais devem ser equilibradas, e tarifas abusivas – como as recentemente impostas pelos Estados Unidos – precisam ser enfrentadas com firmeza e diálogo. Lula autorizou a análise da Lei de Reciprocidade para proteger o setor produtivo brasileiro e afirmou, em pronunciamento oficial, que o país não aceitará intimidações. A diplomacia brasileira é de paz, mas não de subserviência. O Brasil negocia de igual para igual porque reconhece o seu valor e a força de sua unidade nacional.
A soberania, no entanto, não se limita ao plano internacional. Ela também se materializa nas instituições que garantem o funcionamento da democracia: um Judiciário independente, um Legislativo livre, uma imprensa atuante e o respeito ao direito de voto. Recentemente, forças antidemocráticas atacaram o Supremo Tribunal Federal, tentaram desacreditar as urnas e até planejaram a ruptura institucional. Foram derrotadas – e sempre serão – porque a sociedade brasileira compreende, cada vez mais, que não existe soberania sem democracia. Um país que abdica do Estado democrático de direito deixa de ser dono de si mesmo.
Neste Dia da Independência, não celebramos apenas um passado glorioso, mas reafirmamos um projeto de futuro. O Brasil é grande demais para se ajoelhar diante de interesses estrangeiros, forte demais para ser dividido pelo ódio e maduro demais para se afastar da democracia. O compromisso que assumimos, como cidadãos e como nação, é o mesmo que ecoou no Ipiranga: ser um país livre, soberano e unido em torno do bem-estar de seu povo.
Defender a democracia, proteger a soberania e assegurar um futuro digno para cada brasileiro não são tarefas restritas a um governo, a um partido ou a uma geração. São responsabilidades coletivas, exercidas todos os dias. Neste 7 de Setembro, ergamos novamente a voz para afirmar que o Brasil pertence ao seu povo – e que nenhuma força no mundo é capaz de calar a unidade nacional que sustenta essa verdade.