A recente saída do Brasil do Mapa da Fome, conforme anunciado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, é uma conquista que merece destaque, mas também exige reflexão. Após três anos, a média trienal de 2022 a 2024 colocou o país abaixo do patamar de 2,5% da população em risco de subnutrição ou com acesso insuficiente à alimentação.

O Brasil é um gigante agrícola, produzindo alimentos suficientes para atender às necessidades calóricas de aproximadamente 900 milhões de pessoas, segundo estimativas do BTG Pactual. Esse potencial coloca o país como um dos maiores celeiros do mundo, com uma agricultura diversificada e robusta. 

Programas como o Bolsa Família e o fortalecimento da agricultura familiar, responsável por grande parte da produção de alimentos consumidos internamente, têm sido fundamentais para reduzir a subnutrição.

O aquecimento do mercado de trabalho recente também contribuiu para que mais brasileiros tivessem acesso a uma alimentação adequada.

Ainda assim, o índice de 3,4% de insegurança alimentar grave expõe fragilidades. Esse percentual representa famílias que vivem sob o peso da incerteza alimentar, um reflexo de desigualdades estruturais, como desemprego, inflação de alimentos e concentração de renda. Regiões como Norte e Nordeste enfrentam desafios mais acentuados, com acesso limitado a serviços básicos e maior vulnerabilidade socioeconômica. A ironia de um país com tamanha capacidade de produção agrícola ainda conviver com a fome é inaceitável.

Para consolidar os ganhos, o Brasil precisa intensificar políticas de inclusão social, investir em infraestrutura rural e enfrentar as mudanças climáticas, que ameaçam a produção agrícola. A saída do Mapa da Fome é um marco, mas a insegurança alimentar grave requer ação contínua.

Com um potencial agrícola que poderia alimentar quase 1 bilhão de pessoas, o Brasil tem a responsabilidade de garantir que nenhum cidadão seja privado do direito básico à alimentação digna.