O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, previsto para começar hoje (2/9), às 9 horas, sem dúvida será um divisor de águas na história do país. Isso é fato, tanto pelo ineditismo quanto pela relevância dos envolvidos, mas também pelas implicações que seu desfecho pode causar às esferas políticas, econômicas e sociais.

Bolsonaro e outros sete integrantes do núcleo principal respondem por acusações de tentativa de golpe de Estado, dano qualificado, organização criminosa armada, deterioração de patrimônio tombado e tentativa de abolição violenta do Estado de direito. E, nas duas semanas previstas para durar o procedimento, os advogados devem questionar duramente a legitimidade da delação premiada de Mauro Cid, a caracterização do crime e a condução acelerada do processo (144 dias) como prejuízo à defesa.

Mas há ainda mais em jogo. Politicamente, a sentença será uma variável determinante para a corrida presidencial de 2026. Bolsonaro é o polo antagonista do presidente Lula, e seu eventual afastamento judicial (além da inelegibilidade determinada pelo TSE em 2023) modifica completamente o cálculo eleitoral das direitas. Sem falar das implicações sobre o Congresso, cuja pauta tem orbitado a expectativa da decisão do STF (anistia, blindagem e impeachment de ministro da Corte).

Economicamente, entre as justificativas para o tarifaço, Donald Trump incluiu explicitamente a defesa do aliado brasileiro. No caso de condenação, é impossível prever como o mandatário norte-americano conduziria o pacote que ameaça reduzir em R$ 4 bilhões as exportações brasileiras e em até 0,6% o PIB de 2025.

Por fim, o julgamento se dá numa sociedade cindida em dois polos que não restringem suas diferenças ao campo político. Um litígio que corrói a legitimidade de instituições democráticas, como Judiciário e Legislativo, e ameaça a própria coesão nacional.

Que prevaleçam a justiça e o direito, sem a contaminação de interesses eleitoreiros ou pessoais no julgamento, e que, findo o processo, o país emerja mais forte e unido.