Existem no Brasil 228,2 milhões de celulares, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações, para uma população estimada pelo IBGE em 210 milhões de pessoas. Claro que ainda há os donos de aparelhos antigos, daqueles que só servem para fazer ligações, mas mesmo quem tem um desses conhece um parente ou amigo cujo smartphone entra na internet.
Essa universalização do acesso à rede, que chega a todas as camadas sociais, torna obsoleto o atendimento presencial para uma série de serviços. A fila quilométrica na Santa Casa de Belo Horizonte, ontem, parece ter saído não desse contexto, mas de outra época – uma em que “guardar lugar na fila” era ganha-pão de desempregados, e que nem nos postos do INSS existe mais.
Como mostra a reportagem de O TEMPO, centenas de pessoas de várias partes do Estado foram ao hospital ontem na esperança de marcar consulta para 2020.
Foi uma sucessão de absurdos. Primeiro, o aviso aos pacientes foi redigido de uma forma que deu a entender que o agendamento aconteceria apenas nessa quinta-feira. Não era, foi apenas o primeiro dia. A corrida desesperada não era necessária.
O segundo absurdo desperta uma pergunta que precisa ser respondida: por que, em um país com mais celular do que gente, uma pessoa com problemas de saúde e dificuldades financeiras precisa sair de sua casa, gastar – sem poder – o dinheiro do transporte e passar horas numa fila que precisou até de intervenção policial, quando tudo pode ser feito pela internet?
Até o Ipsemg, cujos problemas os servidores mineiros sentem na pele, já adotou o agendamento pela rede. O atendimento eletivo é lento e, muitas vezes, deixa a desejar. Mas se torna pior à medida que o sofrimento do paciente começa muito antes de ele chegar ao médico.