Eu não viajo com outros casais. É minha regra inviolável de turismo.
Há grandes chances de causarem incômodo.
Sempre que viajei com par de amigos, eles brigaram, eles ficaram de mal, eles boicotaram o luxo das minhas férias.
Decidi ser egoísta. O que você pode economizar no rateio de gasolina, aluguel de carro e divisão de gastos nos pacotes terminará pulverizado pelos prejuízos incalculáveis na sua saúde emocional.
Estou com Beatriz no meio de uma praia paradisíaca, ansioso para me deitar numa cadeira em frente ao mar, e precisamos de repente colocar o colete laranja do naufrágio e servir de salva-vidas. Perdemos um dia inteiro com amuo e aborrecimento alheios. Perdemos uma diária astronômica do hotel para intervir como escudo contra ofensas e insultos.
Não há como abandoná-los enquanto nos divertimos, ou simplesmente deixá-los para trás, afogados nas mágoas. Existe um senso de solidariedade de equipe, já que viemos juntos.
A cena deplorável nos põe a sentir saudade dos filhos birrentos no supermercado. Pois os amigos demonstram mais teimosia do que crianças.
Os arrulhos dos pombinhos na ida se transformam em crocitos de urubus durante a hospedagem.
Aquilo que deveria ser leve, com drinks e mergulhos, selfies e histórias engraçadas, torna-se um martírio de idas e vindas como mediadores de conflitos no quarto ao lado. Eu tenho que falar em separado com o marido litigante, Beatriz tem que falar em separado com a esposa emburrada. Depois, como cupidos da reconciliação, ainda somos obrigados a juntar as versões e explicar as exigências de cada parte. É como um rapto do amor, em que os reféns são os próprios sequestradores. Nossa tentativa tensa é altamente paradoxal: liberar dois reféns que estão confinados nas almas dos dois sequestradores.
Não há maior chatice do que insistir para que perdoem os desentendimentos e realizem o selinho da paz.
Em vez de ralhar no aposento de porta fechada, fazem questão de espalhar o ódio para todos que estão à sua volta. Parece que catam e prospectam testemunhas para eventual divórcio.
Ao encontrar plateia para a sua guerra particular, demoram ainda mais para resolver as diferenças. Tiram proveito da nossa atenção para lavar as roupas sujas, jogar indiretas e expor desavenças antigas.
Nunca estão reclamando somente do que ocorreu na hora ou na noite anterior, é uma indisposição passional que ressurge de crises do passado. Inventam de implicar por uma frase torta ou uma cena de ciúme do momento para revisitar o histórico de adversidades.
O café da manhã costuma ser o palco preferido das dissidências. Chegamos com o bom-dia animado e otimista, e um deles não responde, não diz nada, não sorri. É o sinal de que algo de ruim aconteceu entre eles. É o sinal da tempestade de nervos que estragará a nossa temporada.
Não me arrisco mais. Beatriz e eu jamais discutimos em viagem. Sabemos o quanto nossa paz é cara.